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17/09/2001 - 15h16

CD de Björk chega hoje ao Brasil depois de arrebatar a Europa

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FERNANDA MENA
da Folha de S.Paulo

Imagine-se num lugar remoto e inabitado onde todas as cores da natureza tenham convergido para uma imensidão branca, fria, levemente melancólica. Seu corpo flutua a alguns milímetros do chão e, assim, qualquer movimento é mais exercício mental que esforço físico. Difícil?

Pois, em "Vespertine", a islandesa Björk pode levá-lo pelos ouvidos a esse esconderijo de inverno. E lá ela irá despertá-lo para a contemplação. Você poderá experimentar o prazer da solidão e apreciar a intimidade do silêncio.

O novo álbum ocupa esse mesmo lugar especial na carreira de Björk. Desde que deixou o Sugarcubes, em 92, a cantora agregou parceiros diferentes a cada trabalho e explorou o jazz, o pop e a eletrônica, sempre de maneira única.

Mesmo antes disso, no disco solo "Gling-Glo", de 90, ela cria um jazz para brincadeiras de criança ao cantá-lo em islandês com um trio de músicos. "Debut", de 93, que vendeu mais de 2,5 milhões de cópias, precede "Post", de 95, que engloba dos sons enigmáticos de Stockhausen aos musicais da Broadway.

Depois de investir em uma variedade musical que não poderia abraçar sem ser superficial, Björk lança o álbum de remixes "Telegram" e sai em busca de uma identidade melódica mais sólida.

Essa cruzada tem início em "Homogenic", como o próprio título sugere, passa pela trilha "Selmasongs" -e pela própria experiência catártica de atuar no terrível e belo "Dançando no Escuro", filme de Lars von Trier - e parece ser concluída na linearidade domesticada de "Vespertine" -o som de caixinhas de música, a harpa de Zeena Parkins, a harmonia das construções mínimas próprias da IDM (Intelligent Dance Music).

O disco chega hoje às lojas de todo o Brasil depois da Europa ter sido tomada por uma febre Björk. A cantora com jeito de boneca e cantar quase angelical está na capa das revistas de música mais conceituadas do planeta.

Ao mesmo tempo, um livro, publicado pela francesa Éditions du Seuil, leva seu nome e traz a beleza intrigante da cantora representada em trabalhos de vários artistas e fotógrafos.

Vésper
"Vespertine", ao pé da letra, quer dizer aquilo que floresce ao entardecer. Aquele momento que carrega o paradoxo de colocar juntos o dia e a noite, também conhecido como lusco-fusco. E Björk transpõe esse equilíbrio para o álbum na confluência de sonoridades cristalinas e turvas, realizadas com o auxílio do duo californiano Matmos -cujo último álbum, "A Chance to Cut Is a Chance to Cure", é construído a partir de sons registrados em procedimentos médicos ou cirúrgicos.
A raiz do termo, vésper, a estrela da tarde, é nada menos que Vênus. Na astronomia, o mais brilhante dos planetas. Na mitologia, a deusa do amor e da beleza. O amor e a beleza sem dúvida atingidos por "Vespertine" e tantas vezes cantados na poesia de Björk que aí aparece. O brilho alcançado em canções como "Sun in My Mouth", cuja letra foi extraída de um poema de 1925 do norte-americano e.e. cummings.
Nada em "Vespertine" sugere o acaso. Vésper também designa preces entoadas por monges. A cantora fez um dos primeiros shows do disco na catedral Sainte-Chapelle, em Paris. E, mesmo depois de ter proclamado a morte de Deus em letras do Sugarcubes, atribui um quê religioso ao álbum.
Impossível ouvir "Aurora" sem imaginar um retiro em um santuário. Muito fácil associar "An Echo. A Stain" a um mantra sagrado.
Uma audição de "Vespertine" pede introspeção. O ouvinte acompanha cada tomada de ar de Björk com um pequeno suspiro que gela o estômago e segue cada sussurro da cantora como parte de uma extensa meditação. É um exercício compartilhado de redenção: de quem ouve e de quem canta.

 

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