Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
28/09/2001 - 03h58

Diretor Patrice Chéreau fala sobre seu novo filme

Publicidade

ANTONIO JÚNIOR
free-lance para a Folha de S.Paulo, em Barcelona

Consagrado diretor de teatro e ópera, Patrice Chéreau, 56, recheou seu imponente currículo com mais um filme ousado e belo, "Intimidade", levando o Urso de Ouro em Berlim. Agora ganha cinco exibições, de hoje a segunda, no 3º Festival do Rio BR.

Baseado em obra do britânico Hanif Kureishi, "Intimidade" provoca polêmica com suas cenas de sexo cru, sendo apontado por muitos como uma variante de "O Último Tango em Paris", e se as mentalidades de então se chocavam com a simples imaginação da manteiga, as de hoje não aceitam o explícito "felatio". Filmada em inglês, a história se resume num recém-separado (Mark Rylance) que conhece uma atriz (Kerry Fox), mantendo com ela um encontro semanal sem conversas e quase puramente físico.

Folha - Não é irritante ser acusado de ter feito uma obra arrojada sexualmente, quase pornográfica?
Patrice Chéreau -
Procuro não levar a sério tal comentário. Meu filme não se limita ao sexo. Falo de amor, de desejo e de emoções. Somente filmei 35 minutos de sexo. Sexo é a forma que Jay e Claire se comunicam inicialmente. Queria mostrar o interessante que poderia ser o encontro amoroso entre desconhecidos. Sobre essa base, procuro que entendam o que significa estar junto com alguém, afinal o que sabemos sobre a pessoa com quem fazemos amor?

Folha - Alguns críticos norte-americanos falaram que os corpos dos atores não são atraentes, provocam um certo mal-estar...
Chéreau -
Não estava fazendo pornografia, portanto busquei atores com corpos normais, nada perfeitos, como na vida real. Se eu tivesse colocado corpos de modelos, o filme seria outro, justamente o que não me interessava.

Folha - Por que filmou em inglês e com Londres como cenário?
Chéreau -
Creio que se perderia o essencial da história se eu não a tivesse filmado no seu ambiente. Há coisas bastante secretas que pertencem à Inglaterra. Além disso, admiro o talento do cinema inglês e os seus atores.

Folha - Verdade que viu alguns filmes como fonte de inspiração?
Chéreau -
Sim. Quando estava em dificuldades, via algumas imagens de "Faces", de Cassavetes, "O Silêncio", de Ingmar Bergman, "Happy Together", de Wong Kar-wai, e "Estrada Perdida", de David Lynch. Ajudou-me principalmente Bergman, porque contava o tipo de história que eu queria captar, realçando a importância do desejo físico, mesmo não o mostrando explicitamente. Ajudou-me também "Anna Karenina" e outros romances de amor.

Folha - Como surgiu a idéia de filmar "Intimidade"?
Chéreau -
Logo depois das filmagens de "Os que me Amam Tomarão o Trem", li a bonita novela de Hanif Kureishi. Já conhecia seus contos e havia visto muitos anos antes "Minha Adorável Lavanderia". Procurei-o, num inverno especialmente simpático, para trabalharmos no projeto.

Folha - Além de filmes clássicos, algumas novelas de amor e sua experiência teatral ,"Intimidade" deve sua sensibilidade a algo mais?
Chéreau -
À observação cotidiana das pessoas. Olho-as no restaurante, nas ruas, nos aviões. Quero entendê-las, absorvê-las. Procuro imaginar como sobrevivem, como amam. Em cada trabalho meu coloco um pouco delas, da minha vida, da vida dos meus amigos.

Folha - O que destacaria no filme?
Chéreau -
A beleza da transformação que ocorre na vida daquelas pessoas a partir do primeiro encontro. Ela salva a vida dele quando o transforma em outro homem. É um estranho encontro de pessoas que fazem bem uma à outra, ajudam-se mutuamente.

Folha - O que poderia falar do novo filme que está prestes a rodar?
Chéreau -
"Betsy et l'Empereur" conta os últimos dias de Napoleão, vivido por Al Pacino. Será no estilo "A Rainha Margot", embora com menos sangue. Vou filmá-lo na ilha de Santa Helena, com roteiro de Jean-Claude Carrière.

Leia a nossa opinião sobre o filme na Crítica Online
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página