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02/10/2001 - 04h34

Kylian traça o onírico com linhas negras em espetáculo de dança

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ANA FRANCISCA PONZIO
free-lance para a Folha de S.Paulo

A companhia holandesa Nederlands Dans Theater (NDT) foi fundada em 1959, mas ganhou projeção e status de uma das melhores do mundo somente a partir de 1978, quando passou a ser dirigida pelo tcheco Jirí Kylian.

Com Kylian, que há dois anos desligou-se do cargo de diretor artístico para tornar-se conselheiro do grupo, o elenco subdividiu-se em três, e o principal deles, o NDT 1, estréia hoje em Porto Alegre para em seguida apresentar-se no Teatro Municipal de São Paulo (sexta e domingo) e no Municipal do Rio de Janeiro (dias 9 e 10). O programa reúne três coreografias de Kylian ("Bella Figura", "Falling Angels" e "Sarabande") e uma de Paul Lightfoot ("SH Boom").

Eis alguns trechos da entrevista que Kylian, 54, concedeu à Folha por telefone, de Tóquio.

Folha - Foi difícil acostumar-se a uma nova situação depois que o senhor se desligou da direção do NDT em 1999?
Jirí Kylian -
Passei 25 anos exercendo a direção artística da companhia e a mudança não foi fácil. Após o desligamento, senti-me como um animal que aprendeu a percorrer um percurso de determinada forma e teve de mudar o rumo. Surgiu uma espécie de vácuo. Percebi que havia preparado toda a companhia para a mudança, mas havia me esquecido de preparar a mim mesmo. No primeiro ano, foi difícil encontrar uma nova maneira de viver. Mas agora me sinto muito bem porque finalmente estou livre para fazer o que quero, sem me preocupar com os detalhes cotidianos da administração das companhias.

Folha - Quais são os projetos com os quais está envolvido agora?
Kylian -
Estou criando duas peças: uma para a NDT 3 e outra, chamada "Black Bird", para a bailarina japonesa Megume Nakamura. Esta segunda é uma experiência nova, pois se trata de uma coreografia longa, feita para uma única pessoa, que irá compor um espetáculo inteiro. Estou usando músicas dos séculos 12 e 13, originárias da região russa da Geórgia.

Outro projeto que está me ocupando é o "Wind Caravan", que chegará ao Brasil em 17 de novembro para apresentações em Fortaleza. Desenvolvo esse trabalho em parceria com Susumo Shingo, um extraordinário escultor japonês que cria obras móveis, feitas para interagir com a natureza, em paisagens ao ar livre. "Wind Caravan" começou no Japão e já passou pela Nova Zelândia, Marrocos, Finlândia, Mongólia e agora, na sua última parada, no Brasil, deveremos ter uma bela cerimônia de abertura, envolvendo crianças da comunidade local.

Folha - Como o senhor explica a forte carga onírica de suas obras?
Kylian -
É difícil estabelecer uma separação clara entre sonho e realidade. Para mim, são dois mundos sempre interligados, que se movem como uma onda contínua. Os aborígenes australianos, com os quais convivi durante algum tempo, acreditam que a vida é um sonho constante. Quando mostrei a eles uma de minhas coreografias, eles a observaram com muita atenção e disseram que eu era um bom sonhador. Isso me fez constatar que não há limites precisos entre o mundo dos sonhos e a realidade.

Folha - O senhor criou um repertório de quase 60 obras. Quais as transformações que observa em seu percurso criativo?
Kylian -
Por meio de minhas coreografias, sempre procurei encontrar ângulos diversos da alma humana. No aspecto formal, quando era mais jovem, eu costumava ser mais excessivo no uso de figurinos, por exemplo. Depois me tornei mais conciso, e minhas peças transformaram-se numa espécie de desenho feito de linhas negras, cujo colorido poderia ser preenchido pelo público. É dessa forma que continuo criando, com a expectativa de mudar sempre e de não oferecer peças totalmente acabadas para o espectador. Este pode, assim, completá-las com seus próprios sentimentos, com seu entendimento do mundo, com sua própria história.

Folha - A musicalidade é um dos traços marcantes de suas coreografias. Como o senhor se relaciona com a música?
Kylian -
Venho de uma família de músicos e, realmente, a música é muito importante para mim. Há muitas formas de trabalhar com a música e jamais devemos ser escravos dela. Não deve funcionar como mestra, mas como uma parceira com a qual podemos discordar, brigar, mas nunca deixar de respeitá-la.

O quê: Nederlands Dans Theater - espetáculo de dança
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 222-8698)
Quando: sexta, às 21h; domingo, às 17h
Quanto: de R$ 20 a R$ 150
Patrocinador: Nokia
 

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