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04/10/2001 - 03h41

Todd Solondz esmiúça relações de poder em filme

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FRANCESCA ANGIOLILLO
da Folha de S.Paulo

Um professor negro, ganhador do Prêmio Pulitzer de literatura, que seduz suas alunas brancas. Um ex-ator/ex-estudante de direito/ex-escritor que busca a fama como documentarista, falando de adolescentes de classe média.

As duas partes, batizadas de "Ficção" e "Não-Ficção", compõem "Storytelling" (algo como "contando histórias"), novo filme do norte-americano Todd Solondz, 41 ("Felicidade", 98). Após temas como abuso de menores, esmiúça relações de poder: professor-aluna, aluna-namorado, documentarista-tema, pai-filho.

"Histórias Proibidas", como foi batizado aqui, é exibido hoje e sábado no Festival do Rio BR e deve chegar ao circuito em novembro, após a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, da qual também participa. Leia trechos da entrevista com o diretor.

Folha - O sr. buscou em "Histórias Proibidas" ser mais contido do que em "Felicidade", cuja trama era mais complexa?
Todd Solondz -
Eu queria fazer algo em duas partes, um prólogo e então uma sequência. Mas, quando escrevi a primeira parte, não quis mais uma sequência, quis que fossem histórias conectadas. Para mim, é um só filme; para quem não vê a relação, são dois.

Folha - É o tema do poder que articula as partes?
Solondz -
Não é uma análise errada, mas, para mim, as histórias falam de redenção por um viés alegre e, por outro lado, de exploração. Na primeira, a questão é quem explora quem. A segunda é sobre um cineasta falido que encontra redenção explorando seu tema. Essa talvez fale sobre como boas intenções não bastam.

Folha - Nos EUA, o sr. teve de cobrir as cenas de sexo, não?
Solondz -
Para ter o dinheiro para o filme, precisava trabalhar com um estúdio. Desde o script, sabia que haveria material que dificultaria conseguir uma classificação R [pela qual menores de 17 requerem acompanhamento adulto" e o estúdio não lançaria um filme com classificação acima dessa. Então previ no contrato a possibilidade de inserir barras e bips sobre imagens e sons que pudessem ser "não apropriados".

Quando "De Olhos Bem Fechados", de Kubrick, foi lançado nos EUA, cenas foram modificadas digitalmente. Não queria que isso acontecesse. Se o público não vê, não sabe, e eu não queria que eles pensassem que minhas intenções eram diferentes. Quando a platéia vê um quadrado vermelho sobre uma imagem, sabe que algo não lhe foi permitido. Por outro lado, se ela é retirada, o público nunca fica sabendo do corte. No resto do mundo não existirá essa questão.

Folha - Gostam de identificar o sr. com seus personagens. Seus filmes são auto-referentes?
Solondz -
Claro que estou presente, mas é perigoso ver qualquer personagem como a minha voz. Eu diria que esse filme é auto-reflexivo. Na primeira parte, os alunos criticam uns aos outros; na outra, o cineasta e sua editora discutem o filme. São também uma espécie de resposta às respostas que meus filmes suscitam.

Folha - Seu filme faz uma paródia ao saquinho de "Beleza Americana". Você gostou desse filme?
Solondz -
Uns anos atrás, dei uma entrevista a alguém que encontrara Sam Mendes, e ele dissera que "Felicidade" era condescendente com relação aos personagens. Quando ouvi isso, senti como se tivesse carta branca para fazer minha "homenagem".

Folha - O cinema, ou a ficção, é uma forma de inspirar reflexões sobre a não-ficção?
Solondz -
Muita gente vê filmes para fugir da realidade. Se você busca só divertimento, não sirvo. Mas espero também entreter.
 

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