Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/10/2001 - 02h38

Sincrética, cantora Rita Ribeiro volta mais "limpa"

Publicidade

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

"Moça Bonita" é a última faixa do novo e terceiro álbum da maranhense Rita Ribeiro, 35, "Comigo". Foi composta por Evaldo Gouveia e Jair Amorim para Angela Maria, que a gravou em 76 ("depois me arrependi de não ter chamado ela para cantar comigo", diz), e para Rita tem um quê de pombagira.

"Sou cria de terreiro, embora nunca tenha recebido nenhuma entidade. No Brasil, neguinho vai a terreiro e não diz que vai. Sou conhecida como macumbeira, mas gosto mesmo é dos banhos cheirosos, da festa, da relação com a dança", diz a artista.

Ela volta a "Moça Bonita". "Para mim, é música de pombagira, mas coloquei no disco para fazer esse contraste, dos transes de terreiro versus as raves. Neguinho tem transe em pista de dança e nem sabe que santo está recebendo. Está tudo ali, escondido, como nos discos de
Clementina de Jesus", sincretiza.

Mas, mais que um dever sincrético, "Comigo" é mais um passo da história de Rita Ribeiro no sentido de unificar os laços de seu longínquo Maranhão natal com o Brasil central em que ela hoje vive, entre Rio e São Paulo.

Uma mudança parece se operar na artista a partir do visual exposto na capa: saíram os "pitós" que ela cultivava e a fizeram ser tida como uma "Chico César de saia", entraram caracóis avermelhados.

"Troquei de gravadora do primeiro para o segundo disco e me sentia um pouco podada pelas mudanças. Achei que precisava insistir um pouco, mas já não aguentava mais aquele visual. Rotulava muito minha imagem, eu quis dar uma limpada em tudo, simplificar as coisas sem torná-las simplórias", explica.

O que diz aí em cima se aplica também à música, ela sublinha. Ela encolheu a banda -também por razões de economia, confessa- e hoje trabalha em conjunto com o paulista Pedro Mangabeira, seu diretor musical, violonista e marido.

Do segundo para este disco, houve novas mudanças: ela continua no selo MZA, mas rompeu vínculo com a Universal, que distribuía seus CDs (agora é a Abril). "Lá, não observava muito um trabalho diferenciado. Vi-me no fim da fila dos grandes nomes. Não tinha como argumentar se vendia 20 mil cópias. Hoje, pela primeira vez, sou tratada com cuidado, posso conversar cara a cara com o presidente da companhia", defende a nova casa.

Virão pressões para que suba o patamar de vendas?
"Acho que eles têm consciência do meu trabalho dentro do mercado. Sabem que não sou o Frank Aguiar ou a Adryana da Rapaziada. Sabem que estou lançando um monte de gente que nunca ninguém ouviu, e que isso é um risco."

É que metade do disco, como já acontecia antes, é dedicado a apresentar novos (ou melhor, desconhecidos) compositores, vários deles maranhenses. De lá vêm César Teixeira ("o Chico Buarque do Maranhão") e os parceiros Mano Borges e o paulista radicado em São Luís Alê Muniz.

De lá vem, também, o homem de reggae Santacruz, que ela define com prazer:

"Tem uns 30 anos e dez filhos, é vendedor de banana e galinha na feira. Chamamos para cantar junto comigo pelo jeito especial que ele tem de cantar, que me faz pensar em puxador de boi, em caixeiro do Divino".

Ainda no terreno do pouco conhecido, há um paraibano, João Linhares
("conheci em São Paulo, é quase irmão de Chico César"), e um mineiro, Vander Lee ("foi-me apresentado como compositor de samba, mas o que me pegou foram as baladas").

Todos ela grava pela primeira vez e eles vêm se somar à lista já extensa de autores apresentados nos anteriores "Rita Ribeiro" (97) e "Pérolas aos Povos" (99). Estaria Rita Ribeiro à procura do autor que melhor a traduzisse?

"Não tenho esse questionamento. Eu podia repetir, criar uma turminha, mas me sinto um veículo para todos esses autores. Por outro lado, sei que, de todos os autores que cantei, o que está mais na minha história é Zeca Baleiro."

Por isso há duas (não inéditas) do conterrâneo e contemporâneo Baleiro no CD, que se completa com o giro de Angela Maria, o samba clássico "Você Está Sumindo", de Geraldo Pereira e Jorge de Castro, e "Caramba... Galileu da Galiléia", de Jorge Ben.

Para falar desse último, Rita Ribeiro se inflama. "É uma pretensão que morro de vergonha de falar, mas meu sonho é fazer um disco só de Jorge Ben. Fico estudando, tenho oito canções já arranjadas, entre aquelas que saem do "lado A" dele. Qualquer dia tomo coragem e mando para ele."
Pouco a pouco, ela vai contando outros sonhos:

"Tenho vontade de fazer um trabalho tratando os ritmos do Maranhão da forma mais radical possível. Adoraria fazer um disco só de reggae, pegando desde Luis Vagner até o reggae do Maranhão. Minha carreira é jovem, estou armando ela ainda. É importante construir uma estrutura para no futuro viabilizar coisas assim".

Leia a nossa opinião sobre o CD na Crítica Online
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página