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10/10/2001 - 02h44

Boicote aos DJs brasileiros no Free Jazz?

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CAMILO ROCHA
especial para a Folha de S.Paulo

Se você gosta de música eletrônica, deve ter ficado com um sorriso enorme quando soube da escalação do Free Jazz que está chegando. Roni Size, Fatboy Slim, X-Press 2, Timo Maas, Aphex Twin, Stanton Warriors, Jon Carter etc. na mesma refeição é bom demais para nós acostumados com a minguada ração mensal de gringos tocando por aqui. Palmas para o Free Jazz mais uma vez.

Passados alguns dias, caiu a ficha de uma coisa bem óbvia, mas que o deslumbramento inicial tinha deixado passar despercebido. E é isto: um dos melhores festivais de música do Brasil, um evento inovador e patrocinador de coisas bacanas e alternativas, simplesmente ignorou a música eletrônica feita por aqui. Não totalmente: estão lá, mais parecendo uma cota mínima obrigatória do que qualquer outra coisa, os DJs Mau Mau, Patife e Felipe Venancio.

São nomes que merecem estar lá, sem dúvida. Mas não é essa a questão. A questão é: cadê o resto? Os outros DJs e produtores brasileiros? Focalizando melhor a indignação: por que a música eletrônica brasileira ficou de fora do Free Jazz mais eletrônico até hoje?

Justamente no ano em que a cena local explodiu como nunca, bem na hora em que nomes brasileiros são reconhecidos no exterior. A música eletrônica no Brasil cresceu, amadureceu e apareceu, mas o Free Jazz passou batido pelo fenômeno.

Não dá para entender. Pegue line-ups de festivais ingleses como Creamfields e Homelands e você vai ver pencas de britânicos, consagrados e nem tanto. Veja o time do megafestival Sonar, de Barcelona, e você vai constatar uma presença maciça de espanhóis.

Não tem nada a ver com nacionalismo, mas sim com fomentar e promover o talento local. Aliás, quando o Ministério da Cultura permite que grandes corporações descontem do Imposto de Renda os patrocínios a eventos culturais, um dos motivos (se não o principal) é o incentivo à cultura local.

A própria organização do festival admitiu que a guinada radical rumo à eletrônica foi influenciada pelo sucesso dos DJs brasileiros tocando na área comum do festival do ano passado. Está na Ilustrada do dia 18/9, no texto de Marcelo Negromonte: "A idéia de transformar o palco principal em um clube veio do sucesso da edição passada, quando, ao final dos shows, um ou mais DJs costumavam discotecar numa pista improvisada na área comum do Free Jazz até as 5h". A sensação é de tremenda ingratidão.

Além do que, não fosse a fé e a dedicação incessante, de anos, de tantos DJs e produtores brasileiros, hoje não viveríamos uma situação na qual um evento como o Free Jazz aposta seguramente na música eletrônica e pode bancar a vinda de DJs desconhecidos no Brasil como Lottie e Mutiny.

Podem me acusar de legislar em causa própria, já que sou DJ. Mas não estou pedindo uma vaga para Camilo Rocha, e sim que olhem e vejam aí Drumagick, Autoload, AD, O Discurso, Marky, M4J, Ramilson Maia, Xerxes, Alex S, Rica Amaral, Renato Cohen, Renato Lopes, Erik Caramelo, Ana & Davi, Renato Garga, Anderson Noise, Jason Bralli, Maurício Lopes e muitos, muitos outros.

Numa entrevista para a revista especializada "DJ World", o empresário Edo van Duyn (responsável por levar Marky, Patife e Anderson Noise para se apresentar na Europa) disse o seguinte sobre levar DJs daqui para tocar no Reino Unido: "O mercado [inglês" é bastante fechado, concorrido. Quando um brasileiro toca lá, é um DJ inglês que está deixando de tocar". Pois é, a Inglaterra cuida do que é seu. Aqui, uma terra vítima do complexo de inferioridade em relação ao estrangeiro, o cuidado parece ser mais com o que vem de fora.

Prepare-se:

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