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19/10/2001 - 09h04

Diretor de "Réquiem" fala sobre as obsessões de seu filme

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S. Paulo, em Nova York

Darren Aronofsky. Guarde bem este nome estranho, porque você ainda vai ouvir falar muito dele. O nova-iorquino de 32 anos é um dos diretores mais criativos em atividade numa Hollywood cada vez mais dominada por desgraças como "Retorno da Múmia" e "American Pie".

Tão criativo que foi chamado para adaptar para o cinema a grande "graphic novel" "Batman: Ano 1", de Frank Miller, que volta às origens do super-herói. Este é seu projeto para 2002. Por enquanto, trabalha em "Last Man", ficção que tem um quê de "Matrix" no roteiro e a ótima atriz Cate Blanchett no elenco.

Mas o que o traz à Mostra de Cinema de São Paulo é seu excelente "Réquiem para um Sonho" (Requiem for a Dream), uma história sobre obsessões com final infeliz que será exibida neste domingo.

Nele, mãe (Ellen Burstyn, ótima no papel que lhe valeu a indicação ao Oscar do ano passado) e filho (Jared Leto) embarcam numa viagem de substâncias legais (ela) e ilegais (ele).

Leia a entrevista que Darren Aronofsky deu à Folha por telefone, conversa feita antes dos ataques do dia 11 de setembro.

Folha - Assim como o personagem de "Réquiem para um Sonho", você também foi criado no Brooklyn e é de família judia. Pode-se pressupor que o filme tenha algo de autobiográfico?
Darren Aronofsky -
Acho que toda obra artística tem um componente autobiográfico, não? Claro que eu não cheguei ao ponto a que chegam os personagens, mas, sim, também tive minhas histórias. O principal, porém, é a obsessão. Diria que minha maior ligação com "Réquiem" é o comportamento obsessivo.

Folha - Não fosse por outro motivo, "Réquiem" já tem o grande mérito de ressuscitar a carreira da atriz Ellen Burstyn. Por que Hollywood trata tão mal as mulheres conforme elas vão envelhecendo?
Aronofsky -
O caso dela é típico. Ellen é uma das maiores atrizes norte-americanas, e ponto. Fez mais de 70 filmes. Mas tem 68 anos, então já morreu para os grandes estúdios. Chamei-a porque seu papel como a mãe em "O Exorcista" (1973) é uma referência para minha geração.

Como alguém, um sistema, pode abrir mão de uma pessoa como ela? Sua mãe solitária, que aos poucos enlouquece enquanto tenta emagrecer para entrar num vestido e participar de um concurso de TV que nunca acontece é a alma de "Réquiem".

Folha - Uma curiosidade: como você convenceu uma atriz como Jennifer Connelly a realizar uma cena de sexo quase explícito, como acontece no final de "Réquiem para um Sonho"?
Aronofsky -
Jennifer é muito profissional. Leu o script e adorou, não pediu para mudar nada. O filme é cheio de cenas intensas, como a que Jared Leto tem o braço amputado ou a que Marlon Wayans é preso. Mas o clima era tão bom durante as filmagens que todos aceitaram fazer tudo.

Folha - De onde veio a idéia de juntar a cabala judaica com os fundamentos do pi, como você fez em "Pi", seu longa de estréia?
Aronofsky -
"Pi" é mais um exercício, um desenvolvimento natural de um projeto que eu fiz para a conclusão de meu curso na Universidade de Nova York com Eric Watson, que é co-autor e trabalha sempre comigo desde então, e Sean Gulette, que também é o personagem Max, o hassídico.

Por isso escolhi este tema, que me é muito querido. Se você for estudar a cabala, verá que é puro exercício de matemática, assim como a Bolsa de Valores. Pensei que seria engraçado juntar tudo isso num clima sombrio.

Folha - Afinal, "Batman: Ano 1" foi cancelado ou não?
Aronofsky -
Se foi, não me avisaram. Eu e Frank Miller continuamos a trabalhar num roteiro para a Warner, e o filme continua em nossas prioridades para o ano que vem. Não deve ser exatamente igual à "graphic novel", mas não acredite em 1% do que você leu sobre isso na internet.

Folha - Como é o filme em que você trabalha agora, "Last Man"? Ele lembra o roteiro de "Matrix"?
Aronofsky -
Não posso falar do roteiro, porque o contrato que assinei me proíbe, mas, sim, esta é uma leitura possível... [risos]

Folha - Na festa de encerramento do Festival de Sundance, você fez muitos elogios a um dos diretores mais malditos e criativos do Brasil, José Mojica Marins.
Aronofsky -
Coffin Joe? Tenho alguns filmes dele em casa e acho que ele é um realizador muito original. Espero que ele esteja se dando bem no Brasil.

Leia notícias e programe-se para a 25ª Mostra Internacional de Cinema
 

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