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24/10/2001 - 10h19

Diretor de "Um Amor de Borges" fará novo filme no Rio, em 2002

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DENISE MOTA
da Folha de S.Paulo

Ao tirar Jorge Luis Borges (1899-1986) do pódio de um dos escritores mais importantes do século 20 para colocá-lo na trivial condição de homem tímido que se apaixona por uma mulher 20 anos mais jovem, o argentino Javier Torre, 51, encontrou o céu e o inferno.

Seu filme "Um Amor de Borges", exibido a partir de hoje na 25ª Mostra, foi mal de público e de crítica na Argentina. Mas, fora de suas fronteiras, coletou aplausos, como em Biarritz (França) -onde venceu como melhor filme e ator (para Jean Pierre Noher)- e no Brasil, onde foi considerado -pelo júri oficial e pela crítica- o melhor filme latino do Festival de Gramado este ano.

O paradoxo, para o diretor, se explica: "Borges na Argentina é como o futebol no Brasil, sempre polêmico. O fracasso desse longa é um problema da Argentina também. Ela não está preparada para um filme assim", defende-se.

"Um Amor de Borges" tem início em 1946 e trata da paixão do escritor (interpretado por Noher), então funcionário de uma biblioteca em Buenos Aires, pela tradutora e locutora de rádio Estela Canto (Ines Sastre).

Ao retrato de um intelectual vacilante, sufocado pelo zelo materno e atingido por um glaucoma crescente, Torre contrapõe a visão da jovem libertária encarnada por Canto, a quem Borges acabaria por dedicar seu "O Aleph", mas de quem se separaria -por decisão de Canto- devido à extrema obediência do escritor à mãe e às condutas que esta lhe impunha.

O próximo longa, Javier Torre fará no Brasil. O tema da produção é mantido em segredo pelo cineasta, que apenas adianta ter escolhido o Rio para iniciar as filmagens do novo projeto, em 2002, após a tempestuosa temporada na terra natal.

Leia trechos da entrevista dada pelo diretor à Folha, por telefone, de Buenos Aires.

Folha - A imprensa argentina avaliou duramente seu filme. A que fatores o sr. atribui essa má recepção local?
Javier Torre -
Há um sentimento de propriedade em relação a Borges. Ele é um personagem próprio para cada grupo na Argentina. As pessoas de direita crêem que o escritor pertencia a seu grupo, as de esquerda acham que Borges lhes pertence intelectualmente, as pessoas de centro avaliam que o escritor era de centro. É um tema que desperta todo tipo de virulência. E aqui é assim, nunca estamos de acordo sobre as coisas. Borges é um tema que sempre dividiu opiniões, nunca há consenso.

Folha - O longa também não teve público...
Torre -
Sim, foi um fracasso de público aqui. Temos um problema muito sério neste país com relação ao cinema que não está exibido e protegido pelos canais de TV. O cinema de autor, o cinema independente está passando por uma situação muito difícil. Há um problema de marketing, que está manipulado pelos canais de televisão na Argentina.

Folha - O fato de o livro de Estela Canto ("Borges à Contraluz", ed. Iluminuras) ter inspirado sua produção não dificultou a aceitação do filme na Argentina, já que ela foi uma das paixões de Borges menos apreciadas por amigos do escritor?
Torre -
Estela Canto foi muito independente. Há visões antipáticas em relação a ela entre certos setores na Argentina, há a idéia de que Estela causou dano a Borges. Mas são questões muito íntimas da vida de cada um e que acontecem com todos nós. Borges na Argentina é como o futebol no Brasil. É sempre algo polêmico. Ninguém sai ileso desse tipo de assunto.

Folha - Por que o filme tem ido bem no exterior?
Torre -
O fracasso do filme em meu país é um problema da Argentina também (risos). Na França, o filme foi melhor do que aqui. Acredito que meu país não está preparado para um filme assim, muito intelectual, antipopular, com um discurso poético muito literário. Coisas que não funcionam muito aqui.

Folha - Houve críticas particularmente quanto à sua caracterização de Borges, muito fragilizado, e da mãe do escritor, extremamente dominadora...
Torre -
Ela era pior ainda.

Folha - O filme é dedicado a seu pai, Leopoldo Torre Nilsson (1924-1978) [que dirigiu "Dias de Ódio", também com Borges como tema". Houve um resgate de lembranças pessoais suas?
Torre -
Sim, no tratamento visual, na estética e num certo cuidado narrativo. Foi uma tomada de posição em relação a um determinado estilo de cinema.

Folha - Em que está trabalhando agora?
Torre -
É segredo, ainda faltam muitos detalhes, escolher locações etc. Mas vamos filmar no Brasil, no próximo ano.

 Serviço

Um Amor de Borges
Direção: Javier Torre
Produção: Argentina, 2000
Com:Jean Pierre Noher, Ines Sastre
Quando:hoje, às 17h40, no Unibanco Arteplex; amanhã, às 19h, no Cinemark Market Place; dia 27, às 12h, no Cinearte (Festival da Juventude); e dia 30, às 19h, no Cinemark Market Place



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