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25/10/2001 - 03h32

Cineasta filma a melancolia poética dos 50 em "O Pornógrafo"

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SILVANA ARANTES
da Folha de S. Paulo

Pianista por formação, o canadense radicado em Paris Bertrand Bonello, 33, escolheu o cinema por dever de angústia.

"Fundamentalmente eu teria preferido ficar na música, porque ela oferece um prazer imediato, mas é no cinema que sempre chegamos a uma explicação", diz.

"O Pornógrafo", seu segundo longa, que tem exibição hoje na 25ª Mostra BR de Cinema de São Paulo", é, de acordo com o diretor, "um caderno de notas cinematográfico". Na história de um cineasta pornô (Jean-Pierre Léaud) que tenta conciliar a profissão e a relação com o filho (Jérémie Rénier), um jovem envergonhado da atividade do pai, Bonello concentrou os temas de suas principais inquietações -"o cinema, a política e a relação filial".

Recém-estreado em circuito comercial na França, o filme havia sido apresentado no Festival de Cannes, em maio, na presença de Léaud ("Os Incompreendidos"), que anunciou sua vinda para a Mostra e em seguida sua desistência, sem maiores explicações, como convém a um ator-fetiche.

Na entrevista a seguir, Bonello explica como se sentiu ao dirigir o principal ator de Truffaut e diz que considera a presença de Léaud no filme "uma espécie de bênção".

Folha - Você diz que "O Pornógrafo" é um filme essencialmente pessoal. Pelas reações da crítica até aqui, acha que teve êxito em comunicar suas impressões ou os especialistas estão vendo um filme completamente distinto daquele que você ambicionou fazer?
Bertrand Bonello -
Estou satisfeito, porque a crítica viu, antes de tudo, uma história. Quer dizer que a ficção superou minhas pequenas angústias pessoais, e todos viram no filme o trajeto de um homem.

Folha - Como foi a experiência de dirigir Léaud?
Bonello -
Acho que esse é um exemplo único na história do cinema. Ao filmar Léaud, fazemos dois filmes -o nosso, num canto, e também perpetuamos outro, que começou há 42 anos, mas não é um documentário, e sim outro filme de ficção, uma obra quase proustiana. Nesse sentido, o cineasta se transforma quase num ator. Então François Truffaut é um ator principal, Jean Eustache ("La Mamain et la Putain") é um ator principal, eu sou um ator de segundo escalão... Há algo que atravessa o cinema, tendo Jean-Pierre como fio condutor.

Folha - No entanto ele não foi sua primeira escolha. Você havia pensado em Philippe Garrel, certo?
Bonello -
Exato. Escrevi pensando nele. Talvez fosse um pouco ingênuo, mas gostava da idéia de um cineasta interpretando um cineasta e gosto do físico de Garrel, de sua maneira de dizer as palavras, desse caráter ambíguo, muito frágil e muito bruto ao mesmo tempo. Pensei nele, e isso me ajudou a escrever o roteiro.

Folha - E como você avalia o resultado com Léaud?
Bonello -
Quando precisei escolher um ator, Jean-Pierre foi a primeira opção. Agora acho que foi uma espécie de bênção Garrel não ter aceitado, porque ninguém faria esse papel melhor que Jean-Pierre. Ele trouxe para o filme coisas que eu não havia pensado.

Folha - Léaud disse à Folha que lhe interessava sobretudo mostrar a "melancolia de um homem". Foi assim que você o convenceu?
Bonello -
É uma idade muito particular, em que muitas coisas já foram feitas, mas em que ainda se pode fazer algo. Vejo algo de fascinante nos questionamentos que podemos ter aos 50. Aos 60, já começa a ser o balanço de uma vida; aos 50, há algo de intermediário. É verdade que quis muito trabalhar sobre a melancolia, muito mais que sobre a nostalgia, por exemplo. E o que é belo com Jean-Pierre é que nele a melancolia tem sempre um lado poético. Isso, acrescido à tristeza da história, resulta num sentimento belo, um sentimento que podemos encontrar na música, numa sonata.


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Leia a nossa opinião sobre o filme na Crítica Online
 

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