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01/11/2001 - 03h51

Luiz Melodia se converte ao romantismo

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Pérola negra do período pós-tropicalista, o carioca Luiz Melodia chega aos 50 anos decidido a conferir fibra romântica a seu trabalho, até agora quase sempre marcado pelo experimentalismo.

Não é que ele recorra às facilidades comerciais em "Retrato do Artista Quando Coisa", seu 11º álbum. O título, de referência literária, foi recolhido de poema de Manoel de Barros, que Melodia musicou e encerra o CD. Mas, de resto, ele admite a tonalidade mais branda do trabalho, que inclui baladas sentimentais e até a regravação de "Sempre Contigo", do clássico do kitsch Anísio Silva.

Ainda se diz surpreso com as vendagens de seu álbum anterior, o revisionista "Acústico ao Vivo" (99), um recorde em sua história, com 150 mil cópias consumidas. Mas afirma que não existe o programa de manter o patamar.

"Este disco ficou romântico, até popular, mas isso foi acontecendo, foi se desvendando para mim aos poucos. "Otimismo", por exemplo, ficou bem Roberto Carlos. Digamos que é um presente ao "Rei", já que nunca me
convidou para cantar com ele", brinca.

Continua: "Fiquei até um pouco grilado com o tom romântico, hesitei em incluir "Gotas de Saudade'". É que ele fez a música pensando em... Sandy & Jr. "Achei parecida com eles, mandei CDzinho. Não deram nem resposta. Perderam. Eu não ia gravá-la, achava comercial demais. Mas vamos parar com o preconceito."

Melodia é contratado de uma gravadora de perfil popular (a Indie, que tem Vinny e Jorge Aragão), mas, à parte qualquer evidência, diz que jamais admitiu ou admitiria imposições externas.

"Opiniões são bem-vindas, mas jamais qualquer gravadora vai me impor qualquer coisa. Líber Gadelha (diretor da Indie) sugeriu que eu gravasse uma canção de Waly Salomão que Gal Costa lançou no "Fatal" (71). É bonita, mas não tinha a ver com o que eu estava desenvolvendo", aponta.

Embora de início apadrinhado pela geração tropicalista, Melodia não manteve a proximidade com a turma de Caetano e Gil. Hoje até joga pelada com Chico Buarque, mas explica por que nunca canta canções dos medalhões:

"Talvez quando eles cantarem as minhas... Já viu comentarem sobre mim? No começo era diferente, eu ia à casa de Gal, tocava com João Gilberto, Veloso, Macalé. Com o tempo, a gente passou a só se encontrar em aeroporto e cemitério. Mas não sei se faz falta. A música tem que ser jovem".

Precursor da geração de black music carioca dos 70, quando era acompanhado pela então ainda nem batizada Banda Black Rio, Melodia diz que acompanha de longe a nova geração "black".

"Muitos estão fazendo coisas interessantes, como o filho da Elis e negões como Seu Jorge, Paula Lima, a nova Banda Black Rio, quem sabe até meu filho Mahal, que faz rap. Não quero aqui dizer o que é bom ou ruim, antecipar. É preciso tempo para ouvir."

Dá uma pista aos jovens, entretanto: "Espero que não seja ondinha, que essa rapaziada não deixe de ter a atenção que merece como aconteceu com muitos que foram mal assessorados, escorraçados. Se o cara é negro, fica essa história, "Tim Maia é maluco", "Itamar Assumpção é maldito"...".

Por fim, responde se os anos têm lhe roubado alcance de voz: "Acho que minha voz está legal, mas logicamente não tem o mesmo fôlego de antes. O único problema deve ser das cervejinhas que tomo, meu pai reclamava muito disso comigo. Não sou disciplinado, sou meio desleixado. Precisava ter mais cuidado".

Leia a nossa opinião sobre o CD na Crítica Online
 

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