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05/11/2001
-
04h33
FRANCESCA ANGIOLILLO
da Folha de S.Paulo
No livro, um ciclo irrefreável de vendetas de morte, ditado por um rígido código de honra. No filme, a roda dentada de um engenho, chamada bolandeira, representando o círculo fatal.
Se, ao adaptar "Abril Despedaçado", de Ismail Kadaré, Walter Salles encontrou tal metáfora, isso se deve ao curta-metragem "A Bolandeira", do paraibano Vladimir Carvalho, 66. O cineasta soube retribuir a inspiração: a cópia do documentário de 1968 acaba de ganhar restauro, bancado pela Videofilmes, produtora de Salles.
"Vimos pela primeira vez "Bolandeira" quando preparávamos a filmagem de "Abril Despedaçado". A bolandeira que aparece em "Abril" não existiria sem o documentário de Vladimir. É ela que rege o tempo do filme, a opressão que pesa sobre os seus protagonistas. Restaurar o filme é uma forma de agradecer contribuição tão inspiradora", diz Salles, 45.
"O curta é quase um ensaio sobre a sobrevivência de uma família em torno da bolandeira, de um ponto de vista muito poético, que extrapola a denúncia social", define Walter Carvalho, 53, diretor de fotografia de "Abril Despedaçado" e irmão de Vladimir.
O fotógrafo acompanhou o restauro. "O negativo estava depositado no MAM [Museu de Arte Moderna" do Rio. Quando fomos tirar uma cópia, vimos que tinha problemas de emenda, de som, um início de deterioração", diz.
A recuperação do curta, de dez minutos, levou quase um ano. "É um trabalho delicado, precisa ser feito lentamente, quadro a quadro", explica Walter Carvalho.
"Esse Walter [Salles] é incrível", comenta o autor de "A Bolandeira", lembrando a obstinação do cineasta em encontrar o engenho usado em seu documentário para concretizar a idéia que inspirou "Abril". Salles confiou a busca a seu assistente de direção, Sérgio Machado, e a Walter Carvalho.
A dupla achou a roda original. Destruída pelo tempo, não pôde servir de cenário para "Abril", mas emocionou o fotógrafo. "Encontrei as ruínas daquele engenho, exatamente o mesmo. Fiquei muito comovido -30 anos depois, achar algo que tinha mudado o roteiro do filme." Como prova da odisséia, Walter Carvalho mandou, de surpresa, dois dentes da velha bolandeira ao irmão.
Exibido no festival de Brasília de 1969, "A Bolandeira" já tem onde estrear sua "roupa nova": volta ao mesmo encontro, cuja 34ª edição acontece de 20 a 27 deste mês.
Curta que inspirou filme de Walter Salles ganha restauro
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da Folha de S.Paulo
No livro, um ciclo irrefreável de vendetas de morte, ditado por um rígido código de honra. No filme, a roda dentada de um engenho, chamada bolandeira, representando o círculo fatal.
Se, ao adaptar "Abril Despedaçado", de Ismail Kadaré, Walter Salles encontrou tal metáfora, isso se deve ao curta-metragem "A Bolandeira", do paraibano Vladimir Carvalho, 66. O cineasta soube retribuir a inspiração: a cópia do documentário de 1968 acaba de ganhar restauro, bancado pela Videofilmes, produtora de Salles.
"Vimos pela primeira vez "Bolandeira" quando preparávamos a filmagem de "Abril Despedaçado". A bolandeira que aparece em "Abril" não existiria sem o documentário de Vladimir. É ela que rege o tempo do filme, a opressão que pesa sobre os seus protagonistas. Restaurar o filme é uma forma de agradecer contribuição tão inspiradora", diz Salles, 45.
"O curta é quase um ensaio sobre a sobrevivência de uma família em torno da bolandeira, de um ponto de vista muito poético, que extrapola a denúncia social", define Walter Carvalho, 53, diretor de fotografia de "Abril Despedaçado" e irmão de Vladimir.
O fotógrafo acompanhou o restauro. "O negativo estava depositado no MAM [Museu de Arte Moderna" do Rio. Quando fomos tirar uma cópia, vimos que tinha problemas de emenda, de som, um início de deterioração", diz.
A recuperação do curta, de dez minutos, levou quase um ano. "É um trabalho delicado, precisa ser feito lentamente, quadro a quadro", explica Walter Carvalho.
"Esse Walter [Salles] é incrível", comenta o autor de "A Bolandeira", lembrando a obstinação do cineasta em encontrar o engenho usado em seu documentário para concretizar a idéia que inspirou "Abril". Salles confiou a busca a seu assistente de direção, Sérgio Machado, e a Walter Carvalho.
A dupla achou a roda original. Destruída pelo tempo, não pôde servir de cenário para "Abril", mas emocionou o fotógrafo. "Encontrei as ruínas daquele engenho, exatamente o mesmo. Fiquei muito comovido -30 anos depois, achar algo que tinha mudado o roteiro do filme." Como prova da odisséia, Walter Carvalho mandou, de surpresa, dois dentes da velha bolandeira ao irmão.
Exibido no festival de Brasília de 1969, "A Bolandeira" já tem onde estrear sua "roupa nova": volta ao mesmo encontro, cuja 34ª edição acontece de 20 a 27 deste mês.
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