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06/11/2001 - 04h53

"Jazz é como o latim: bonito e sem vida", diz Marcus Miller

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

Um dos melhores baixistas elétricos de jazz do mundo, Marcus Miller, 42, é conhecido como "o superman", alusão a seu CD "Superman of the Soul". Mas, independentemente de seus "superpoderes", ele diz que não acredita que possa salvar a música que faz.

"O futuro próximo do jazz, ou sua situação atual, é a mesma da música clássica. Não está morta, mas não cresce mais", diz o músico, no intervalo de uma gravação de um CD em Los Angeles.

O herói hoje está entre nós. Impulsionado pelo lançamento de seu primeiro disco-solo desde 1994, "M2" (que está sendo distribuído no Brasil pelo selo Calber Music), ele cruzou o Atlântico para três apresentações.

Hoje, Miller estará no Rio, no Mistura Fina. Amanhã e quinta, o "super-homem" voa até o Bourbon Street, em São Paulo, atração da série Diners Club Jazz Nights.

Esse ex-escudeiro do astro jazzístico Miles Davis (1926-1991) e companheiro de personalidades do soul e do R&B como Aretha Franklin e Luther Vandross diz que vai apresentar por aqui a mesma alquimia que aprendeu a fazer entre esses ritmos.

"Fusion é uma boa palavra, porque significa fusão: o jazz com algo novo", afirma Miller.

Entusiasta do público brasileiro, que conheceu no Free Jazz de 94, ele adianta que não deve tocar temas tupiniquins. "O mais importante, penso, é mostrar o que eu tenho para oferecer e não dar ao Brasil o que o Brasil já tem. O importante é o jazz."

Foi justamente sobre ele, o jazz, ou sobre sua falência, que o músico conversou com a Folha.

Folha - Muitos músicos dizem que o jazz, tal como se fazia no início, não existe mais. O jazz ainda vive?
Marcus Miller -
Se estou em Nova York e entro em um táxi com meu contrabaixo, o motorista vai perguntar: qual o tipo de música que o sr. toca? Se eu disser jazz, ele não vai ter nem idéia do tipo de música que eu faço, porque isso pode significar um número imenso de coisas. Para alguns, jazz é aquele tipo de canção dos anos 30 e 40. Para outros, é o fusion dos anos 70, a mistura com o rock. A palavra jazz não tem mais precisão. Eu só digo que toco jazz porque gosto de saber que as pessoas não vão saber direito de que estou falando.

Folha - Você já tocou com o trompetista Wynton Marsalis e com o irmão dele, o saxofonista Brandford, que participa de seu CD "M2". Com quem você se identifica mais, com músicos como Wynton, um dos maiores defensores do jazz tradicional, ou com instrumentistas como Brandford, grande entusiasta do fusion e das leituras mais contemporâneas do gênero?
Miller -
Acho que em todos os tipos de arte sempre deve haver alguém que proteja o passado, que não deixe com que o já feito seja esquecido. Maior ainda é a importância daqueles que fazem a arte crescer. Não há músicos suficientes no jazz atual capazes e com vontade de acrescentar.
Eu toquei com Miles Davis, Dizzy Gillespie e outros muito importantes. A única coisa comum entre todos eles é que sempre tentaram adicionar, mudar, fazer algo pelo amanhã do jazz.
Miles Davis podia ser um camaleão, mas trocar de cor não fazia dele outra pessoa. Era Miles.

Folha - E quem é o Miles de hoje?
Miller -
É difícil dizer. Já faz algum tempo que as crianças negras norte-americanas não escutam jazz. É um ritmo velho, que não atrai, que não forma novos criadores, novos Miles.

Folha - O jazz vai morrer?
Miller -
Não, mas não estará realmente vivo. O futuro próximo do jazz, ou sua situação atual, é o mesmo da música clássica. Não está morta, mas não cresce mais. O que não cresce não está realmente vivo. É como o latim. É uma língua muito bonita, mas ninguém a utiliza, ninguém acrescenta uma palavra a ela. Não há palavras novas no jazz, ainda que eu tente duramente.

Folha - Falando em palavras, como você definiria o tipo de música que você faz? Fusion?
Miller -
Fusion é uma boa palavra, porque significa fusão, o jazz com algo novo. O problema é que para muitos atualmente o termo significa uma espécie datada de fusion, a que se fazia nos anos 70. Pensam em guitarras, teclados, em Mahavishnu Orchestra.
 

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