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08/11/2001 - 04h50

Mostra de cinema enfoca o radicalismo dos anos 70 em super 8

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RODRIGO MOURA
da Folha de S.Paulo

Com distância cada vez maior, os anos 70 parecem ter sido o momento paradoxal de libertação do artista brasileiro. Quando havia de um lado o regime militar e de outro o nascedouro da indústria cultural, os artistas tinham que lutar para manter íntegras suas características individuais.

Provas dessas lutas estão em alguns dos 122 filmes que a mostra "Marginália 70" exibe a partir de hoje no Itaú Cultural. Com curadoria do professor de cinema da ECA Rubens Machado, a amostragem coleta o que houve de mais experimental na produção superoitista, reunindo artistas, poetas e anarco-realizadores.

Entre os autores que usaram o super 8 como suporte, estão Lygia Pape, Hélio Oiticica, Antonio Dias, Iole de Freitas, José Agrippino de Paula, Ivan Cardoso, Edgard Navarro, Geneton Moraes Neto e Marcelo Nitsche, numa lista que chega a 57 realizadores.

"Esses filmes têm uma idéia radical de confronto: um comportamento geral de negação no campo da linguagem e da temática, em contraposição à TV, que era a antípoda do super 8", diz o curador, que mapeou mais de 600 filmes da produção de época, dos quais todos os que são exibidos agora passaram por restauro.

Como referência para esses realizadores, as estéticas do cinema novo e do cinema marginal serviram como uma trilha para se radicalizar ainda mais, na busca por uma visão crítica dos modos de produção do cinema industrial e dos meios comunicação.

"Muita coisa boa ficou de fora, como algumas vertentes do experimentalismo que não tinham o mesmo engajamento político e comportamental ligado à contracultura. Fiz o recorte do recorte do recorte", diz Machado.

O pesquisador partiu de um levantamento sobre as relações entre as artes visuais brasileiras e a produção audiovisual, tema de seu pós-doutorado. "Quando o Itaú me convidou para fazer uma mostra de cinema experimental, me dispus a não mostrar o que todo mundo já conhece, e sim mapear a produção. Muitos desses filmes nunca foram vistos." Exemplo de avant-première 30 anos depois é "Terror da Vermelha", exibido amanhã, faroeste caboclo do poeta tropicalista Torquato Neto, filmado em Teresina.

"Para os artistas plásticos, o super 8 surge no contexto de saída do suporte que Oiticica inaugura. Para alguns, como Artur Barrio, ele serve também como registro para performances e ações."

Nesse sentido, o cinema experimental propunha uma reflexão sobre todas as etapas do fenômeno, inclusive sobre as condições de recepção, com propostas como o cinema de salão de Raymond Chauvin, dirigido a poucos espectadores, e as instalações de Regina Vater e Antonio Dias. "Exibir esses filmes em um programa, ao lado de outros títulos, tira um pouco de seu caráter original", compara Machado.

Além da mostra, que ainda itinera em versão reduzida por Belo Horizonte, Penápolis (SP) e Campinas, trechos de filmes poderão ser vistos no site www.itaucultu ral.org.br, com textos sobre seus autores, como parte da primeiro módulo do Panorama do Cinema Brasileiro, que pretende mapear a produção nacional.



MARGINÁLIA 70
mostra com 122 filmes experimentais em super 8
Curadoria: Rubens Machado
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, SP, tel. 0/xx/11/ 3268-1777)
Quando: abertura hoje, às 20h; de amanhã a 25 de novembro, com sessões às 16h e às 20h
Quanto: grátis, senhas disponíveis uma hora antes das sessões. Patrocinador: Itaú
 

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