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14/11/2001 - 03h40

Quadrinista americano lança "graphic novel" da Mulher Maravilha

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CELSO DE CAMPOS JR.
free-lance para a Folha

A Mulher Maravilha invade hoje as livrarias americanas com um indigesto desafio em tempos de guerra: provar que seu laço da verdade é uma arma mais eficaz para o entendimento entre as nações que caças F-14,
bombardeiros B-52 ou mísseis Tomahawk.

Um dos mais aguardados lançamentos do ano no mundo dos quadrinhos, "Wonder Woman: Spirit of Truth" (Mulher Maravilha: Espírito da Verdade), de Paul Dini e Alex Ross, é a quarta e última "graphic novel" da série que a DC Comics produziu para comemorar os 60 anos de seu quarteto de ouro -que inclui Super-Homem, Batman e Capitão Marvel.

Em entrevista exclusiva, o desenhista americano Alex Ross, 31, um dos mais respeitados nomes da arte sequencial nos dias de hoje, comenta a nova obra da princesa amazona e avalia as consequências que os atentados terroristas poderão produzir no mercado de quadrinhos.

Para o co-autor de "Marvels" (1993) e "O Reino do Amanhã" (1996), as HQs podem receber um novo impulso com o clima de insegurança global. "As pessoas precisam de um entretenimento catártico, e os quadrinhos podem ajudar nesse sentido."

Folha - Com a série de "graphic novels" publicada pela DC, você tem tentado trazer os super-heróis para perto da sociedade, colocando-os para encarar problemas bem reais nos dias atuais. Como eles podem ajudar nessa época de insegurança que o mundo está vivendo?
Alex Ross -
Os super-heróis foram uma reação à sua época. Eles são uma metáfora para nossas frustrações em relação aos defeitos da sociedade. Com o decorrer do tempo, porém, perdemos esse ponto de vista e fomos nos concentrando em fantasias. As primeiras aventuras do Super-Homem eram permeadas por temas como linchamento, violência doméstica e governos ditatoriais.

Passaram-se anos até que Lex Luthor se tornasse um personagem capital na vida do Super-Homem, porque existiam problemas no mundo para mantê-lo ocupado. Hoje, os super-heróis podem ser uma inspiração, uma metáfora para o que queiramos fazer.

Folha - Armas mortais, explosões, guerras, sangue e morte sempre foram elementos recorrentes nos quadrinhos. Você acredita que os recentes acontecimentos nos Estados Unidos irão mudar isso?
Ross -
Espero que possamos ver as pessoas percebendo o impacto dessa violência. Estávamos vivendo em um estilo videogame de contar histórias, no qual a vida seguia normalmente após uma tragédia. Agora, as próximas aventuras trarão os super-heróis tentando evitar coisas como essas de acontecer. Eles farão tudo o que for possível para impedir a morte de qualquer pessoa.

Folha - O atentado de Oklahoma City e o episódio de Waco aparecem em seus trabalhos anteriores. Você pensa em usar os ataques de 11 de setembro em um projeto futuro?
Ross -
Depende do projeto. O material de Waco e Oklahoma City era parte de "Tio Sam" e fazia sentido ele estar ali. Em termos de criação, existe muita coisa que quero fazer em reação ao que aconteceu em Nova York. Gostaria de ver um super-herói evitar um sequestro de avião, por exemplo, quase como uma expressão catártica. Mas ainda não encontrei um meio de usar isso.

Folha - Para homenagear as vítimas dos ataques terroristas em seu website, você resgatou uma imagem do personagem Tio Sam. Em 97, ele já estava passando por uma crise. Como ele reagiria agora?
Ross -
Sei que há uma opinião segundo a qual Tio Sam se fortaleceria com os ataques, mas há muita coisa errada com nosso país para retratá-lo como perfeito. Estamos envolvidos no Oriente Médio, e nossa ação não tem sido impecável. Em um determinado momento, vão nos contar a história inteira, e eu duvido que ela será transparente. Acredito que Sam lamentaria tudo que aconteceu.

Folha - O terrorismo é uma das questões que a Mulher Maravilha encara em seu novo livro. Como ela discute o problema na história?
Ross -
Diretamente. Mostramos ela interrompendo um levante militar na América do Sul. Podemos fazer isso com um super-herói. Mas o mais importante, no caso, não era o que estava fazendo, e sim o fato de mostrarmos que ela é um personagem global. Ela também vai até o Oriente Médio para examinar a dominação e mostrar que aquilo acontece de verdade. Para sorte de todos, a DC viu que Paul e eu não queríamos dar nenhum tom inflamatório.

Folha - Existe a possibilidade de outros personagens serem retratados nessa mesma linha e formato?
Ross -
Estamos conversando com a DC sobre isso. Teríamos que fazer algo muito grande e muito interessante para ir além dos quatro livros que tínhamos acertado. Mas, novamente, apenas se a DC se interessar.

Folha - Depois do sucesso de "O Reino do Amanhã", você parece ter diversificado suas atividades. Quais são seus próximos projetos, dentro e fora dos quadrinhos?
Ross -
Parece que vou fazer um pôster para a cerimônia do Oscar. Também devo produzir capas de revistas para promover a série de TV "Smallville". Nos quadrinhos, tenho "Paradise X" começando no ano que vem. Meu próximo livro de quadrinhos envolvendo pinturas ainda não está formalizado, mas já sei o que quero fazer. Além disso, muitas outras coisas devem vir. Tenha certeza, vocês ainda vão ter de me aguentar...

 

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