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25/11/2001 - 11h45

Márcia e João Kléber são os novos reis da baixaria

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CLÁUDIA CROITOR
da Folha de S.Paulo

FOI-SE o tempo em que Ratinho era o rei da baixaria na TV. O posto que antes pertencia ao apresentador do SBT (atualmente no comando do que mais parece um circo) hoje é compartilhado por dois de seus herdeiros: Márcia Goldschmidt e João Kléber.

Especialistas em levar à TV brigas de família, pessoas com anomalias e outras bizarrices, os apresentadores esquentaram a disputa pela audiência nos fins de tarde com programas que lembram, e muito, o tipo de atração que deu fama (não necessariamente boa) a Ratinho.

Márcia, da Bandeirantes, chegou primeiro. Seu "Hora da Verdade" estreou em junho para ser um espaço de denúncias. Hoje, o que mais se vê são casos como "Travesti quer o ex de volta" ou "Mulher guarda o filho morto em casa", que chegam a deixar, por instantes, a atração na vice-liderança do horário (às 17h), e dar médias de até 5 pontos no Ibope.

Inspirada nesse sucesso, a Rede TV! decidiu apostar na fórmula. Há três semanas, colocou no ar, às 17h30, o "Canal Aberto". O comando foi dado a João Kléber, que já "treinava" para ser o sucessor de Ratinho com as brigas e os testes de fidelidade de seu "Eu Vi na TV". "Canal" multiplicou a audiência da emissora no horário e vive esbarrando nos 5 pontos.

Não faltam coisas em comum entre os dois programas e o de Ratinho: brigas no ar, testes de DNA, pessoas doentes, o "mundo cão" na tela da TV. Tudo sempre acompanhado pelo tom indignado dos apresentadores.

"Eu não te dou o direito de bater nela, você está me ouvindo? Aja como homem", dizia Márcia no ar, há alguns dias, para o marido de uma participante do "Hora da Verdade".

Outra "lição" aprendida por ambos é colocar pessoas em situações constrangedoras, ainda que com seu consentimento. Há alguns dias, Márcia conversava com um rapaz que dizia não conseguir fazer sexo:

"Você tem de me contar detalhes, para eu poder ajudar". Na mesma semana, um moço foi ao programa de João Kléber se dizendo apaixonado por um colega e se vestiu de mulher para fazer uma declaração de amor.

Não sem antes o apresentador querer detalhes do romance dos dois. "Como foi a sedução para cima dele? Foi rala-e-rola dos dois, né? Os dois foram ativos e passivos?"

"Procuramos sempre ter um assunto bem-humorado, um caso sensual e um drama ou debate para equilibrar o programa", explica João Kléber.
A produção do "Canal", ao menos, não tenta disfarçar o caráter "trash" da atração.

"Somos uma mistura de Márcia, com Datena [do "Cidade Alerta"", Ratinho e [o extinto jornal" "Notícias Populares'", diz o diretor, José Vicente Bernardo. Mas, às vezes, tanta mistura pode acabar em pancadaria, como na última segunda.

Por causa de uma discussão, uma mulher levou uma "microfonada" na cabeça e saiu sangrando do estúdio.

Em comum com Ratinho, Márcia e João Kléber têm também o discurso "assistencialista" -ao menos na frente das câmeras. "Nosso objetivo é ajudar as pessoas.

Só aceitei esse programa porque a Rede TV! me garantiu que eu ia ter liberdade para ajudar as pessoas", disse João Kléber no ar. Depois, admitiu à Folha: "O objetivo primeiro do programa não é ajudar, é mostrar os casos".

Já Márcia leva sua "vocação" mais a sério. "Odeio ser comparada com o Ratinho. Nasci para ajudar as pessoas, meu trabalho é uma missão", afirma.

A apresentadora defende-se das críticas dizendo que mostra o mundo real na TV. Por mundo real, leia-se um homem que comia 23 ovos crus com casca ou um garoto de dez anos que tem o corpo coberto de escamas, o "menino-peixe".

"Não mostro nada que cause repulsa. O menino despertou ternura em todos", diz. Por causa da exibição da imagem do garoto, a Frente Parlamentar Contra a Violência e a Exploração de Crianças e Adolescentes, de São Paulo, entrou com uma representação no Ministério Público contra o "Hora da Verdade".

Como parte do assistencialismo, Márcia também financia exames de saúde aos participantes do programa. Nas últimas semanas, promoveu teste de HIV para um rapaz que acreditava ter Aids e de gravidez para uma garota que havia sido estuprada.

O resultado foi divulgado ao vivo para os envolvidos -e, claro, depois dos comerciais. Para Márcia, isso não é exploração. "É aproveitamento da situação deles para subir a audiência do programa. Se eu não aproveitar isso, serei a pior apresentadora do mundo."
 

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