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27/11/2001 - 03h29

Projetos musicais retomam a preocupação com a produção infantil

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

A cultura musical brasileira dedicada às crianças está ficando um pouquinho melhor neste final de ano. Enquanto a mercadologia de xuxas e angélicas dá sinais de colapso após 15 anos de "reinado", surgem indícios de avanço de uma nova produção, mais preocupada com educação e arte.

A mesma Rede Globo que deu asas à cultura axé de suas apresentadoras infantis lidera o processo de resgate, prometendo lançar em dezembro a trilha sonora do novo "Sítio do Picapau Amarelo", com Lenine, Carlinhos Brown, Cássia Eller, Pato Fu e outros. Revisionista, traz várias regravações das canções compostas para a versão anterior, no ar entre 77 e 86.

Até por tal revisionismo parece mais audacioso o projeto "Eu e Meu Guarda-Chuva", que chega nesta semana às livrarias do país, num formato que une num só pacote livro de história e CD de canções inéditas interpretadas por Elza Soares, Arnaldo Antunes, Cássia Eller, Marcelo D2 e outros.

O CD concretiza um projeto antigo de Branco Mello, que, no meio dos 80, já integrando os Titãs, compôs uma série de canções com sabor de ópera-rock infanto-juvenil, todas em parceria com o músico (e ex-Titãs) Ciro Pessoa.

Mais recentemente, o ator e diretor teatral Hugo Possolo, do grupo Parlapatões, foi convocado para montar uma história infantil que costurasse aquelas canções. Fez isso primeiro em forma de peça teatral -a atriz Andréa Beltrão já movimenta produção para interpretar o menino protagonista.

Possolo já adaptou a peça para texto corrido, e o livro-CD sai como primeiro resultado da obra coletiva. Branco, 39, diz que chegou a levar o projeto para gravadoras, mas ninguém quis ("não vende", "é difícil").
Gravou de forma independente, e depois a editora Globo aderiu ao projeto.

Ele não confirma o propósito de formar uma geração de pequenos roqueiros: "O rock é só uma cor a mais no disco, feito como se fosse para adulto também. É diversão".

Possolo, que deve entrar com os Parlapatões na montagem teatral, diz: "Trabalhos infantis muitas vezes são equivocados, tratam as crianças como idiotas. Está tudo muito mercadológico, feito em função de apresentadores de TV. Não sei se temos a pretensão de criar um nicho, mas a tentativa é provar que há possibilidades".

De formato parecido com o de "Eu e o Meu Guarda-Chuva" é o independente "Músicas Daqui - Ritmos do Mundo", de Zezinho Mutarelli e Gilles Eduar, em que Luiz Melodia, Carlos Lyra, Sandra de Sá, Ira!, Pena Branca e Xavantinho e outros reembalam em ritmos pop cantigas de roda.

O lançamento é da editora/loja de brinquedos Fábrica, de Sílvia Prado e Mutarelli, 41, que explica as razões da aventura: "Não via nada legal sendo feito para crianças em música. Fomos tendo filhos e caindo na real. Minha geração teve muita coisa na infância, mas nossos filhos não têm mais nada. Foi por eles que quis fazer".

Fala das dificuldades de concretização: "Tive que convencer os artistas. Quando se fala de trabalho infantil, saem todos correndo, acham que é porcaria. Essa é a referência atual de música para criança, acho que por causa do nível do que tem sido feito, com Xuxa para cá e tchutchuca para lá".

Sua obra vai no pique de trabalhos que mantiveram a resistência cultural da música infantil dos anos 90 em diante --como o selo Palavra Cantada, de Paulo Tatit e Sandra Peres, e o CD "O Gigante da Floresta", de Hélio Ziskind.

Se música infantil de tal natureza não chegou a morrer na entressafra das xuxas, a novidade agora é a ameaça de adesão de redes e gravadoras poderosas, como a Globo e a Warner/Continental.

Essa recolocou há poucas semanas em circulação 25 volumes da coleção de historinhas musicadas "Disquinho", projeto do compositor popular Braguinha (ou João de Barro) enquanto dirigente da Continental, nos anos 60 e 70.

Braguinha entrou na música infantil em 1937, convocado para fazer a versão brasileira da trilha de "Branca de Neve e os Sete Anões" e pôs as vozes de Dalva de Oliveira e Carlos Galhardo nos personagens. Hoje, aos 94, lembra: "A coleção vendeu muito. Minha filha e meus netos me inspiravam. Das canções que fiz, "Chapeuzinho Vermelho" é minha favorita". Cada disquinho virou um CD single, à venda por R$ 9. Agora, é ver as consequências para crer.
 

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