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14/12/2001 - 04h47

Atores de "Casa" foram ótimos personagens de si próprios

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MARCELO RUBENS PAIVA
articulista da Folha

"Vamos tentar mudar de assunto" foi a frase mais dita na última semana. Impossível. Minutos depois, voltava-se a falar de "Casa dos Artistas". Porque, quando tudo parecia cair no marasmo típico de fim de novela, a chapa esquentou, meu "bródi".

Na segunda-feira, Alexandre Frota e Patrícia Coelho fizeram gestos inconfundíveis sob o edredom, ao som da versão de "My Way" de Sex Pistols, depois de 40 capítulos em que os dois embaçaram. Na terça, Supla chorou pela primeira vez na "Casa".

Se o coração do teatro é o personagem, e a alma é o ator (Stanislavsky), o SBT teve muita sorte na primeira edição de seu "reality show": seus atores foram ótimos personagens de si próprios.

Supla vencerá a gincana. O herói em busca da verdade e da justiça, como Hamlet, aquele que foi atormentado pelo fantasma do pai e pelos novos caminhos da mãe, será coroado por ter se mantido fiel a seus princípios.

Frota, esta máquina procriadora movida a açaí, humanizou-se no final. A mistura de Lady Macbeth com Caliban, o bruto de "A Tempestade", deu o tempero shakespeariano ao programa com suas intrigas e seduções. Sua figura é muito polêmica para vencer.

Patrícia correu por fora e se revelou tarde demais. Todos gostavam dela. Frágil e carente, era uma Julieta sem o seu Romeu.

Bárbara Paz talvez merecesse o prêmio. Seu passado trágico angariaria votos. Sempre rindo e chorando, intransigente, errou no final: como uma megera indomada, cobrou do herói uma transparência difícil de ser conquistada. E Mari só chorava...

Será que há realidade no "reality show", em que uma penca de câmeras grava tudo? Um: quem se importa? Dois: alguém sabe o que é ser real, diante de alunos, de amigos ou da própria imagem refletida no espelho?

Se a trama lembrou Shakespeare, a montagem, o ritmo, por vezes, lembrou o teatro de Peter Brook, cujo gesto mínimo é superdimensionado, e em cuja lentidão está a essência da busca pelo sentido da existência humana.

A dificuldade de verbalização dos personagens criou diálogos presos ao caos, como em Bergman, porque assim caminha a humanidade: alguém sabe expor com clareza aquilo que sente?

Ironicamente, "Casa dos Artistas" é uma lição de dramaturgia. Ou a prova cabal do desgaste e das limitações do gênero. O buraco de fechadura do SBT conquistou o brasileiro, especialmente pelo debate sobre ética e privacidade.

No Brasil das ocas, senzalas, praias, favelas e cortiços, em que o povo se toca, exibe-se com naturalidade, não faz sentido estabelecer limites para a privacidade, faz?



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