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17/12/2001 - 11h26

Mangá sai dos quadrinhos e espalha-se pelos muros da cidade

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MIRELLA DOMENICH
free-lance para a Folha

Um estilo diferente de fazer grafite, até então pouco explorado pelos brasileiros, começa a ganhar as paredes de São Paulo. É o mangá, nome dado em referência ao estilo do traço dos desenhos das histórias em quadrinhos japonesas.

Personagens com olhos grandes, braços e pernas mais compridos do que o normal e cabelos coloridos estão se espalhando por alguns bairros da capital, como Liberdade (centro), reduto da comunidade oriental, e São Mateus, na zona leste, onde os orientais não têm tanta participação na vida cultural da região.

A explicação dos grafiteiros é que tanto quem conhece as tradições orientais quanto aqueles que não fazem idéia do que seja uma cerimônia do chá acompanham os desenhos japoneses do Pokémon, Dragon Ball e Digimon.

E é a forma dada aos próprios personagens desses desenhos que inspiram os grafites de artistas como os do estudante Bruno Mota da Silva, 18. Ele vive em São Mateus e foi um dos pioneiros no estilo mangá da região.

"Faço grafite mangá porque o estilo permite que o artista consiga colocar mais expressão no desenho", diz. Ele afirma que os olhos grandes e os cabelos coloridos dos personagens que grafita chocam as pessoas pela expressividade.

Segundo Bruno, há três anos, quando ensaiou seus primeiros grafites mangá pela região onde vive, não era compreendido pelos moradores.
"As pessoas tinham muito preconceito devido à falta de informação. Com a popularização dos seriados de TV japoneses, o preconceito foi diminuindo", diz.

Os trabalhos também vêm carregados de mensagens. Em um de seus desenhos, Bruno mostra, por exemplo, um garoto parecido com o Ash, do Pokémon, com o rosto amarelo segurando uma lata de cerveja onde está desenhada uma maçã mordida. Segundo Bruno, a mensagem desse trabalho é um alerta de que o vício leva à doença.

Segundo o artista plástico e professor de grafite Celso Gitahy, 33, a adaptação do mangá à arte de rua permite ao grafiteiro deixar uma marca personalizada. "O grafite, assim, passa a ser reconhecido cada vez mais como uma arte plástica e não apenas como uma forma de protesto marginal", diz.

Nem todos os grafiteiros que adotaram o traço mangá, entretanto, entraram em contato com o estilo a partir dos seriados de TV.
Os veteranos afirmam que foram influenciados pelo mangá moderno em sua versão original, como HQs, que começou a se popularizar no Japão na década de 50 com os desenhos de Osamu Tezuka, segundo o professor de desenho mangá Claudio Imamura, 31.

O grafiteiro Hamilton Yokota, 27, conhecido como Titi, trabalhou como ilustrador de HQs e passou a fazer grafite mangá como passatempo.
Ele é da mesma geração do grafiteiro Fábio Ribeiro, 30. Binho, como assina, aprimorou seus conhecimentos de mangá no Japão, onde viveu por nove meses. Os traços definidos do mangá, segundo ele, criam uma identificação com a arte de rua. "O mangá é tão agressivo quanto o grafite em si", afirma.
 

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