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31/12/2001 - 04h39

Silvio Santos é o "homem do ano"

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DANIEL CASTRO
colunista da Folha

LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

Silvio Santos já começou 2001 "abrindo alas", quando topou sambar em carro alegórico da Tradição, escola de samba carioca que o homenageou.

Dos "80 minutos de fama" na transmissão do Carnaval pela Globo até os últimos dias deste ano, ele não deixou mais de ser notícia. De vítima de sequestro cinematográfico a estrela do histórico "Casa dos Artistas".

Foi tanto assunto que "A Fantástica História de Silvio Santos", biografia publicada no final de 2000, terá de ser relançada. O autor, Arlindo Silva, 73, assessor do apresentador de 1995 a 1999, concluiu poucos dias antes do Natal um novo capítulo, que deve entrar na próxima tiragem do livro, no primeiro trimestre de 2002.

Chama-se "Glórias e Dramas de Silvio Santos em 2001" e rememora a homenagem ao apresentador no Carnaval, o sequestro da filha e dele (com trechos de depoimentos do empresário à Justiça), uma exposição sobre sua vida no Museu da Imagem e do Som do Rio e o fenômeno "Casa dos Artistas".

"2001 foi tão retumbante para Silvio Santos quanto 1975, quando ganhou sua primeira concessão de TV, o canal 11 do Rio", diz Silva, uma das estrelas da revista "O Cruzeiro" nos anos 50 e 60.

Além da turbulência pessoal, Silva afirma que neste ano "Silvio Santos teve a melhor performance como apresentador". "Na TV, foi o ano dele", diz o autor da biografia, não-oficial, mas chapa-branca, que já vendeu mais de 120 mil exemplares, segundo ele.

Para Silva, o dono do SBT teve outros anos "turbulentos", como 1976, quando rompeu contrato com a Rede Globo, e 1989, ano em que tentou se candidatar à Presidência da República. Mas o biógrafo insiste: "Nada tão retumbante quanto 1975 e 2001".

"Retumbante" seria o mínimo. Em agosto, teve a filha sequestrada. Pagou R$ 500 mil pelo resgate e ainda levou bronca da menina em rede nacional.
Depois de passar sete dias em cativeiro, Patrícia Abravanel, evangélica, disse às câmeras que o pai, judeu, "não tem Deus". Sempre rindo, comandando o show, deu à declaração um tom de brincadeira, dizendo que ela deveria ser pastora.

Só isso já seria um belo espetáculo para a TV. Mas o mais impressionante viria no dia seguinte. Fernando Dutra Pinto, líder da quadrilha que sequestrara a filha, pulou o muro da casa de Silvio Santos, no Morumbi, durante a fuga, e o fez refém por sete horas.

Quase todas as emissoras de TV interromperam a programação para transmitir ao vivo a ação com ares hollywoodianos. A audiência da Globo praticamente dobrou e superou os resultados que a emissora teria, uma semana depois, com as imagens dos ataques ao World Trade Center, em Nova York.

Enquanto transformava Silvio Santos em estrela de seus noticiários, a Globo nem imaginava, mas ele já armava uma estratégia mirabolante para desestabilizar a audiência da concorrente. Desde julho, estava planejando cada detalhe do "reality show" "Casa dos Artistas", o programa de TV que mais deu o que falar no ano.

A atração nasceu na mesma época em que Silvio Santos vivia rodeado de boatos sobre o suposto fim de seu casamento. Convertida à religião evangélica, sua mulher, Íris Abravanel, estaria tentando convencê-lo a trocar o judaísmo por sua igreja. Por meio de advogados, ele sempre negou. Mas as diferenças religiosas na família viriam à tona com o sequestro da filha, também evangélica.

Qualquer drama, no entanto, viraria piada para Silvio Santos no final de outubro. Contrariando todas as previsões de que o sequestro o faria abandonar o país, ele comandou, mais animado do que nunca, o "Teleton", maratona televisiva para arrecadar fundos para crianças deficientes.

No "Show do Milhão" especial com famosos, brincou com a própria tragédia. "O Fernando [Dutra Pinto] queria R$ 1 milhão, mas parou na última pergunta e levou só R$ 500 mil", disse em meio àquela risada que é seu símbolo.

No palco, surpreendeu Hebe Camargo ao dar um beijo "selinho" no cantor Gilberto Gil. O motivo de tanta alegria seria revelado horas depois, quando anunciou a estréia de uma nova atração, "Casa dos Artistas", mantida em sigilo até o último minuto.

E Silvio Santos escolheu a dedo o local para gravar o que se tornaria seu programa predileto: uma casa vizinha à sua. A rua Antônio Andrade Rabelo, no Morumbi, que já fora palco do sequestro, voltaria aos holofotes, deixando mais uma vez transtornados os vizinhos da área residencial.

Sem aviso prévio, "Casa dos Artistas" bateu a audiência do "Fantástico" (Globo), líder no horário desde a estréia, em 1973, e virou o jogo da guerra no domingo. Comandando o espetáculo do "reality show", ironizava a TV Globo, que tentava tirar o programa do ar, acusando-o de ser plágio de "Big Brother", do qual detém direitos de produção. "Casa dos Artistas" acabou em festa e recorde histórico de audiência para o SBT.

Na semana seguinte, "Casa" já estava fora do ar, mas Silvio Santos continuava lá e foi líder no Ibope com o inusitado "Desafio dos Alunos Nota Dez". Fecharia o ano ontem, sabatinando, entre outros, Paulo Maluf e Anthony Garotinho no "Show do Milhão" especial. Políticos rivais aceitaram sem vacilar a saia justa. Afinal, em vésperas de eleição, quem não gostaria de chegar com Silvio Santos à apoteose?
 

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