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03/01/2002 - 03h08

Circo Grafitti recria clima de cabaré em quarta peça

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VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha

Grupo que desfraldou bandeira do teatro musical em São Paulo antes da voga do Bexiga, o Circo Grafitti mantém uma curiosa sazonalidade no repertório: são três espetáculos em 12 anos.

"Você Vai Ver o que Você Vai Ver" (89), de Raymond Queneau, e "Almanaque Brasil" (93), de Noemi Marinho, cumpriram longas temporadas e afirmaram o talento e a veia cômica do grupo nas atuações de Rosi Campos, Helen Helene e Gerson Abreu, além da direção musical de Pedro Paulo Bogossian. "As Sereias da Zona Sul" (97), de Miguel Falabella, configura-se como a menos musical das três montagens.

A formação original do Grafitti reencontra-se agora para seu quarto projeto, "O Gato Preto".

Bogossian e Helen desenvolveram roteiro a partir de textos do húngaro Frigyes Karinthy, dos franceses Alphonse Allais, Jules Jouy e Maurice Mac-Nab e da brasileira Maísa Aché, sobre o cabaré, gênero cultuado em Paris, Berlim, Londres e Praga, para citar algumas capitais européias.

O recorte do espetáculo vai da fundação do primeiro cabaré francês, o Chat Noir (gato preto), em 1881, até a República de Weimar, na Alemanha dos anos 30.

Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, assinou decreto, em 1941, que proibia os cabarés -"arte degenerada"- em território nazista. Artistas foram banidos, alguns cometeram suicídio.

Entre os que subverteram e cravaram a história do gênero na Europa, estão o dramaturgo alemão Bertolt Brecht, seu parceiro e conterrâneo Kurt Weill, o compositor austríaco Arnold Schöenberg, o pintor espanhol Pablo Picasso e a atriz alemã Marlene Dietrich.

O novo espetáculo, que Bogossian chama de comédia musical, procura representar o clima dos pequenos cabarés enfumaçados.

No plano da ficção, um grupo de atores (Rosi, Helen, Abreu e Moisés Ignácio, do Língua de Trapo) reúne-se para conceber o seu teatro do mínimo, de poucos recursos, mas farto em esquetes, poemas e canções.

"São quadros isolados que ganham ligação. No início, soam clássicos, depois caem no humor escrachado, patético e, por vezes, cínico, até uma alegria total, resvalando num tom mais trágico e fechando com uma canção de esperança", diz Bogossian.

As 14 canções e os diálogos trazem referências à realidade das ruas, aos contextos sociopolíticos da época. Já no primeiro número, os versos tratam de uma família na qual o pai rouba, a mãe furta e até o cachorrinho faz das suas.

Satiriza-se também a ascensão dos governos fascistas, a corrida industrial e o moralismo que cerca a manifestação sexual, tudo embalado por canções românticas, poemas humorísticos e paródias de célebres personagens trágicas, como Joana d'Arc.

Em "O Gato Preto", as canções atingem cores brechtianas, ou seja, acentuam a ação épica, em detrimento das funções líricas, o que amplia a consciência crítica. Na perspectiva do Grafitti, preza-se para que nada se descole do riso.

Há espaço inclusive para a improvisação, com direito ao resgate da cena aberta que Helen e Abreu protagonizavam em "Almanaque Brasil", que celebrou a era do rádio (o grupo planeja nova versão).



O GATO PRETO
De:
Frigyes Karinthy, Alphonse Allais, Jules Jouy, Maurice Mac-Nab e Maísa Aché
Dir. musical: Pedro Paulo Bogossian
Dir. de ensaio: Regina Galdino
Com: grupo Circo Grafitti
Onde: Tusp (r. Mª Antônia, 294, tel. 0/xx/11/ 3259-8342)
Quando: estréia no sábado, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h
Quanto: R$ 20. Até 3/3
Apoio: Projeto Encena Brasil (MinC e Funarte)
 

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