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15/07/2000 - 04h38

O paradoxo do fenômeno pop Sandy & Junior

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MARCELO RUBENS PAIVA, da Folha de S.Paulo

Sandy & Junior é coisa séria, que já vendeu, em nove anos, mais de 10 milhões de discos, segundo o site da dupla, que faz show em São Paulo, lança o disco "Todas as Estações" e enfrenta um paradoxo intransponível: Sandy, 17, e Junior, 16, são irmãos.

Como a maior parte das músicas fala de, adivinha, amor, figurantes vêm e vão. No show, clowns e bailarinos dividem o palco com o casal. Sandy canta com Junior, não para Junior, e desvia os olhos quando o refrão explode.

"Eu procuro teu olhar, eu queria te beijar...", canta Sandy em "Príncipe dos Mares", enquanto Junior toca guitarra e deixa a irmã desabafar. "Eu preciso ter você, meu coração é pequeno demais pra guardar tanto amor", canta Junior em "Aprender a Amar", enquanto Sandy encosta a cabecinha complacente; as palavras não são para ela, que é a irmãzinha que está ali para dar uma força.

Os dois estão crescendo. Sandy canta bem e compôs a letra da música "As Quatro Estações" ("as folhas caem no quintal, só não cai o meu amor, pois não tem jeito, é imortal...").

A dupla começou a carreira pela porteira aberta pelo pai, Xororó, em 1989, no rancho da música sertaneja mirim. A vendagem de seus discos girava a cota dos 200 mil e pulou para 300 mil, quando a dupla, ainda criança, passou a brincar de adulto, simulando, por exemplo, o casal John Travolta e Olivia Newton-John, de "Grease".

A puberdade chegava na mesma proporção que os dilemas da carreira. A maturação sexual poderia acabar com a dupla. Mas aqueles que gerenciam seus negócios arriscaram, invadiram o mundo do pop americano e acertaram: "As Quatro Estações" vendeu 1,8 milhão de cópias.

De Michael Jackson a Santana, passando por Celine Dion, o que Sandy & Junior têm feito é reproduzir, com letra em português, o que deu certo lá fora. Essa apropriação é costumeira. Quem não se lembra de Renato e Seus Blue Caps imitando os Beatles? Mas gera uma dúvida: o pop brasileiro não se basta?

Os clipes da dupla, que concorrem no VMB da MTV, foram dirigidos por gente da pesada. Hugo Prata dirigiu "Imortal" e "No Fundo do Coração". Flavia Moraes dirigiu "As Quatro Estações" e "Aprender a Amar". Ela também dirige o show "Quatro Estações", em cartaz no Olympia.

Sandy canta "Fascinação" e Villa-Lobos, acompanhada por quatro celos. Ela gira, como uma bonequinha em uma caixinha de música. Seu figurino lúbrico explora as curvas do corpo. Sandy é sensual, provoca, dançando articulando a pélvis. Vi um piercing em seu umbigo? E Junior causa rumor entre as pré-adolescentes, com sua articulação latina.

Eles começam e terminam o show na platéia. "Ai, que gostoso estar aqui", diz Sandy.

No hall da casa de espetáculos, vendem-se roupas, toalhas e até um teclado, produtos licenciados pela marca Sandy & Junior. Parece uma feira de exposições.

O público é infantil e pré-adolescente. Garçons passam carregando pratos de... batatas fritas.

O disco de remixes "Todas as Estações" é dançante. "Príncipe dos Mares", uma versão de "Como Suenan las Sirenas", é um tecno de um bom gosto. Há versões das músicas de Bee Gees. As letras ganharam tradução. "More than a Woman" virou "Mais Que uma Sombra", afinal, é Sandy quem canta, e não pegaria bem ela cantar "mais que uma mulher...".

As músicas são boas. O problema são as letras (as adaptações). Elas parecem existir para tapar buracos. Há frases óbvias, como "o que é imortal não morre no final" ("Imortal"), e uma semântica que se lambuza de amor, como "uma paixão, quando vem, não dá pra segurar". A melhor letra é a de Sandy. Porque é a mais verdadeira.

No mercado do pop brasileiro, a letra parece um entrave. No gênero pagode, é insuportável a falta de assunto e o "nheco-nheco-meu-amor". Falta um mínimo de inconformismo.

Tudo bem. Daqui a pouco, Sandy e Junior terão 20 anos e pencas de dúvidas existenciais.

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