Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
21/01/2002 - 16h53

Centro de São Paulo perde recato sob olhares famintos

Publicidade

EDER CHIODETTO
da Folha de S.Paulo

O centro é o ponto para onde tudo e todos convergem. É o extrato da cidade. O lugar onde ela se mostra crua, quase uma caricatura, uma exacerbação dela mesma.

Essas fotografias radiografam algumas faces desta cidade múltipla. Retratam a epiderme, mas também alcançam camadas mais profundas, trazendo à tona cidades ocultas. A cidade que os garis limpam de madrugada entre mendigos e notívagos de toda sorte para que office-boys e a fumaça do escapamento a ocupem de dia.

Fotografar São Paulo é sempre uma pretensão que fica a meio caminho. Não por ineficiência de quem fotografa, mas pela impossibilidade de enxergar a diversidade da urbe. A cidade devora e não deixa devorar-se. Ela oferece uma gama tão diversa de imagens e enfoques possíveis que finda por cegar aqueles que tentam enxergar algo além do aparente.

Esse grupo de fotógrafos subiu nos topos dos arranha-céus e desceu ao submundo. Encontrou personagens bizarros e gente comum vagando entre o edifício Copan, o Teatro Municipal e o feíssimo minhocão, aborto arquitetônico que abriga o conceito de decadência e incoerência da cidade no mijo que escorre de seus pilares.

Para desvendar uma cidade é preciso perder-se nela, é verdade. Mas como realizar tal empreitada em São Paulo se aqui estamos, o tempo todo, perdidos? Observar os painéis dessa exposição é um grande passo no sentido de perder-se também. Quanto mais ela tenta se explicar por imagens, mais irreal e incompreensível se torna aos nossos olhos.

Diante de tantos olhares famintos, a cidade, envaidecida, mostra-se sem recato tal qual seus travestis exibindo seios de silicone na rua Amaral Gurgel. Sua beleza, muitas vezes, parece residir na própria barbárie que ela gera, como na imagem de Juliana Pedrosa (ao lado). Uma cidade habituada à barbárie e a todo tipo de excessos desfoca e redefine, velozmente, o conceito de belo e feio.

Sobre o Terraço Itália, sob o minhocão ou dentro de algum boteco, o centro mostra-se inatingível e sedutor. Decifra-me ou devoro-te é a proposição que ele nos coloca. O prazer e a dor de estar aqui caminham juntos, de mãos dadas, pelo viaduto do Chá até a República.

Leia mais notícias sobre os 448 anos de São Paulo
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página