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25/01/2002 - 23h03

Se fosse na praça da Paz, "guerra" não teria acontecido, diz Rita Lee

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da Folha Online

Uma faixa com a inscrição "São Paulo pede justiça e paz" anunciava a intenção do show pelos 448 anos do aniversário de São Paulo, no Campo de Marte (zona norte), com a esperança que fosse um espetáculo tranquilo e de apelo contra a violência, desejo que ficou bem distante da realidade. Mas a roqueira Rita Lee, 54, não se rende: criticou o local onde foi realizada a apresentação e disse que não é possível prever este tipo de ocorrência.

Para ela, se o show fosse realizado na praça da Paz, no parque do Ibirapuera, as cantoras não teriam sofrido agressão do público.

Pouco depois de a roqueira Rita Lee chamar Zélia Duncan ao palco, às 20h30, latas foram arremessadas e uma delas atingiu Zélia. Rita interrompeu o show e se dirigiu ao público pedindo para que parassem de jogar latas.

"Que feio. Minha cidade não pode fazer isso. Não é minha cidade. São uns três ou quatro. São os palhaços do crime. Deus é mais e a justiça divina é mais ainda. Tchau!', disse a roqueira, deixando o palco em seguida na companhia de Zélia e dos músicos de sua banda.

Na esperança de que a interrupção fosse temporária, o público ainda esperou e pediu o reinício da apresentação, mas os apelos não foram atendidos e o show que pedia paz não atingiu seu objetivo.

Depois do incidente, Rita Lee conversou com os jornalistas que cobriram o evento e disse que não gostou de se apresentar no Campo de Marte e comparou a apresentação a outros shows que fez no parque Ibirapuera.

"Eu tenho vontade de sair com nariz de palhaço porque é assim que a gente está. É absurdo, tá feio, tá pegando mal. Eu não saio de casa", disse, sobre a violência que amedronta os paulistanos.

Leia a seguir os principais trechos da conversa:

Um show que estava pedindo paz terminar assim é estranho, não é?
Rita Lee - A gente está acostumado a fazer na praça da Paz. Um show de paz devia ser na praça da Paz. Aí veio para o Campo de Marte. O que aconteceu? O Deus da guerra. Com toda essa onda de violência... óh céus! A gente fica fazendo um paralelo. Óh, meu Deus, a violência chegou. Mas se você for pensar direito, sempre teve escândalo em shows de rock, sempre teve muita lata, Renato Russo já saiu. Eu já levei latada, "lançaperfumada"... Essas coisas acontecem.

Mas interromper o show como foi hoje...
Rita Lee - Não dava para continuar, porque quando estava de tardezinha ainda você via o trajeto da lata e se desviava, mas de noite não deu para ver. Quando ralou na perna da Zélia eu falei, putz!

O fato de ter acontecido em São Paulo te chateia?
Rita Lee - Esse lugar é esquisito. O Campo de Marte eu não sei se tem esse lado esotérico Baby Consuelo de ser, mas eu achei esquisito o show no Campo de Marte. Eu gosto da praça da Paz, lá no Ibirapuera rola bem, nunca aconteceu nada.

No ano passado você fez o show de São Paulo lá [praça da Paz], não é?
Rita Lee - Fiz lá, mas eu acho que tem problema... Sempre que eu ia fazer na praça da Paz eu falava, pega o seu lixinho, não joga porcaria no chão, vamos deixar a graminha legal. Conscientizar as pessoas que estavam lá para não sujar, mas tiveram muitos problemas. Mas é que a praça da Paz é maravilhosa para fazer show, aqui eu não gostei muito não.

Como fica a relação com São Paulo diante da violência?
Rita Lee - Vou continuar aqui. Há 54 anos eu moro nessa cidade. Essa coisa de violência contamina, o medo contamina. A gente fica apavorado, fica se cagando de medo quando os filhos saem. Aí você fica na reza, na velinha, no santo, em Nossa Senhora Aparecida. Você se apega nessas coisas que não se acabam, mas esse lado de Sampa, da impunidade, da bandidagem dentro da polícia. Está esquisitaço, mas não é só São Paulo, é o Brasil, é o mundo, é o planeta. A raça humana é meio cupim, a gente destrói pra caramba.

Qual seria a solução para evitar episódios como esse em grandes shows?
Rita Lee - Não está na alçada dos artistas isso. Você pode colaborar fazendo uma música, mas a atitude quem tem que tomar são os caras do poder, as autoridades. Está uma bundamolice, está uma palhaçada. Eu tenho vontade de sair com nariz de palhaço porque é assim que a gente está. É absurdo, tá feio, tá pegando mal. Eu não saio de casa. Ou estou na estrada fazendo shows ou estou dentro de casa, cuidando das minhas coisas, fazendo minhas músicas. O que se vai fazer? A gente se sente impotente e aí você fica vendo todo dia a mesma coisa, essas palavrinhas: corrupção, impunidade, injustiça. Você fica bocejando quando ouve essas palavras. Não adianta porra nenhuma. É ano de eleição, né? Eles deveriam fazer alguma coisa... eu não estou vendo nada.

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