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03/02/2002 - 08h50

"Reality show" mesmo é ser ator no Brasil

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BRUNO SAITO
da Folha de S.Paulo

Num país em que a TV está presente em mais de 87% dos lares (dados do IBGE, de 1999), fora as padarias, bares e esquinas, o sonho de ser ator ou atriz está cada vez mais difundido entre os jovens.

Mas a realidade do mercado de trabalho não é nada animadora. A quantidade de ex-astros instantâneos que hoje estão sem trabalho é grande, centenas de novos artistas obtêm registro profissional todos os anos e não é raro ver atores conhecidos pedindo uma oportunidade em programas vespertinos.

Neuza Borges, a Dalva de "O Clone", por exemplo, foi chamada por Glória Perez para o papel após fazer apelos e contar seu drama em vários canais. Narjara Tureta, que ficou famosa como a filha de Malu (Regina Duarte) em "Malu Mulher" (79-80), fez o mesmo, mas, até agora, não teve sucesso.

Os casos de Ewerton de Castro e Betty Faria, que saíram recentemente da Globo por se julgarem pouco aproveitados, também mostram que o ofício de ator de TV está mais para "reality show" do que para um roteiro glamouroso.

Ewerton desistiu de um papel que "era praticamente de figuração" em "O Quinto dos Infernos". Indignado, ele critica a emissora (leia texto ao lado).

Betty, que ficou na Globo durante quase três décadas, optou por não renovar contrato após dois anos sem trabalhar em novelas, uma situação que é conhecida no meio como "ficar na geladeira".

"Queria ser apresentadora de programa de auditório, mas não havia espaço. Terminei um ciclo na Globo", diz Betty. Ela afirma que a saída foi amigável .

"A vida e a TV são más para os acomodados", completa. Atualmente, ela aguarda a captação de recursos para o filme "Bens Confiscados", de Carlos Reichenbach, planeja encenar a peça "Mãe Coragem", de Bertold Brecht, mas não descarta uma participação em "Casa dos Artistas 2", do SBT.

"Acho essa especulação muito engraçada", diz ela, que pode ser a surpresa anunciada pela emissora para a segunda edição do "reality show".

A direção da Globo diz que a manutenção de alguns de seus contratados na "geladeira" acontece para preservá-los. "Em alguns casos, é interessante que o ator "emende" trabalhos; em outros, o preferível é diminuir o tempo de exposição devido a algum papel marcante.

Quando há trabalho concentrado, o tempo do ator fora do ar é maior -ele pode ficar "reservado" para uma produção mais à frente. Esse tempo fica ainda maior quando aliado aos períodos de férias e projetos pessoais", afirma o diretor da Central Globo de Comunicação (CGCom), Luís Erlanger.

De acordo com ele, não há critérios rígidos na escolha de um elenco. "Tudo depende de uma soma de fatores, partindo da adequação ao papel do ponto de vista do autor e do diretor.

Basta examinar os elencos das produções atualmente no ar para se constatar que não há preferência por faixa etária. O que se recomenda é um equilíbrio", diz Erlanger.

Salários Números fornecidos pelo Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro mostram que cerca de 2.000 profissionais tiram seus registros por ano no Estado.

Atualmente, a entidade tem mais de 15.000 associados, dos quais 40% são atores.

Nesse mercado tão saturado, o piso salarial é de R$ 750. Assim como no meio futebolístico, salários altos são uma exceção: ganhar até R$ 100 mil por mês é privilégio de uns poucos protagonistas de novelas da Globo.

"Apenas a Globo tem um núcleo forte de dramaturgia. Não há como absorver tantas pessoas. O ideal seria a existência de, no mínimo, mais três emissoras com núcleos fortes", diz a secretária-geral do sindicato do Rio, Betti Pinho.

"O Brasil tem poucos atores completos; eles devem estudar e se reciclar. Quando interpretam apenas um tipo de papel, ficam estigmatizados, porque a TV é muito imediatista", diz um dos diretores do Sindicato dos Artistas de São Paulo, Walter Sthein.

Segundo ele, cerca de 400 novos atores tiram seus registros por ano só em São Paulo. O piso salarial é maior que o do Rio -R$ 1.768,15. Sthein defende a profissionalização do ator e critica os modelos-atores.

"Assistir à atuação de um ator que não é formado é como ser atendido por um odontologista que não tem os dentes da frente."

Opções O SBT, atualmente com as tradicionais novelas mexicanas e a nacional "Amor e Ódio", emprega alguns rostos conhecidos, como os da veterana Márcia Maria e de Suzy Rêgo, mas uma trama é pouco para dar vazão a tantos interessados.

A Record, que teria a intenção de reativar seu núcleo de teledramaturgia, é uma incógnita. O TV Folha tentou ouvir o diretor-responsável pela área, Del Rangel, mas ele não quis falar.

"Quando começamos uma nova produção, somos procurados por vários atores, novos ou já experientes. O mercado está muito enxuto", diz o diretor de elenco do Núcleo de Teledramaturgia do SBT, Fernando Rancoleta.

Sthein, do sindicato paulista, critica os modelos-atores. "Aparecer na TV é fácil, o difícil é se manter", diz.

"Tem gente que acredita que ser ator é apenas participar de festinhas. Para o ator não morrer de fome, ele deve fazer um bom trabalho todos os dias."



 

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