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08/02/2002 - 04h16

Guédiguian explora a falta de perspectiva em "A Cidade Está Tranquila"

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FRANCESCA ANGIOLILLO
da Folha de S.Paulo

Robert Guédiguian é um homem com um projeto. Desde que fez seu primeiro filme, quando terminou os estudos de ciências sociais e economia, o cineasta francês, 48, usa sua natal Marselha como cenário para contar histórias de quem não encontra no mundo projeto nenhum em que se inserir -aqueles que não têm perspectivas, os que sobrevivem.

Em "A Cidade Está Tranquila", que estréia hoje no Brasil, as histórias que conta, nas quais contrasta cotidianos de ricos e pobres, brancos e negros, franceses e imigrantes, são de Marselha, mas poderiam ser de qualquer lugar.

Quando falou à Folha, por telefone, Guédiguian finalizava em Paris "Marie-Jo et Ses Deux Amours" (Marie-Jo e Seus Dois Amores), seu novo filme. Leia a seguir trechos da entrevista com o cineasta, concedida pouco antes de sua vinda ao Brasil, para participar do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, e apresentar "A Cidade Está Tranquila".

Folha - O sr. é de Marselha e fala sempre de seu ambiente em seus filmes. Quanto e como seu passado e sua experiência familiar interferem nos seus roteiros?
Robert Guédiguian -
Eu nasci em Marselha, num bairro que é de trabalhadores, popular, de luta, portanto. Meu pai, armênio, trabalhava nas docas, como reparador naval. Minha mãe, alemã, fazia faxina. Sou um mestiço, como muitos marselheses. Eu me sirvo de Marselha como uma linguagem. Quer dizer que as histórias da cidade e também o ambiente (tudo que faz a imagem e o som) constituem minha linguagem.

Folha - E o que o sr. quer dizer quando enuncia "a cidade está tranquila" e mostra que não está?
Guédiguian -
Quando eu digo "a cidade está tranquila", falo de uma história que poderia se passar em qualquer cidade do mundo ocidental dito desenvolvido. Trata-se de um filme sobre tudo o que me traz medo, sobre o que faz com que uma cidade não seja tranquila, no mundo inteiro. Falo de minhas angústias, que se resumem a uma questão essencial: como a gente vive sem ter um projeto coletivo global? Todos os personagens do filme têm isso em comum: não têm esse projeto. Então são sós, em sentido amplo, mas, sobretudo, porque não têm algo a defender com os outros.

Folha - É um filme que fala de sobrevivência.
Guédiguian -
Sim, pois, quando não há projeto, não se vive, se sobrevive. Vive-se dia após dia, não dá para fazer uma projeção para o futuro. Assim, vive-se mais instintivamente que refletidamente, o que leva a coisas perigosas.

Folha - No seu filme, vemos a grande trama, mas, dentro dela, há muitas pequenas tramas, com questões como o aborto, o rap da periferia e a consciência social, que vão entrelaçando os personagens.
Guédiguian -
É uma boa leitura, mas, em vez de resumir os temas, prefiro dizer que o cineasta deve multiplicá-los. Mas o fundo comum a todos eles é, eu repito: podemos viver sem um projeto?
 

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