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10/02/2002 - 06h53

Sérgio Groisman diz que TV é muito superficial

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FERNANDA DANNEMANN
da Folha de S.Paulo

O apresentador do "Altas Horas", Sérgio Groisman, tem dois desafios em seu segundo ano na TV Globo. O primeiro é não deixar o nível do programa cair, já que a emissora fez cortes entre 20% e 30% nos orçamentos de todas as produções.

Ele quer também apresentar menos atrações populares, tipo KLB, e trazer artistas que estejam pouco na mídia, como Lobão. Os obstáculos são a desinformação dos jovens e o horário ingrato.

Por que os debates no "Altas Horas" parecem mais pobres que os do "Programa Livre", que você fazia no SBT, e do "Fala Galera", que você faz no Futura?
A platéia tem a mesma formação, mas, no Futura, o debate dura uma hora e, por ser um só assunto, fica mais rico. No caso do SBT, foram 2.200 programas em oito anos, com 520 mil pessoas na platéia. É difícil comparar um programa diário com um semanal. E tive problemas graves no SBT: a Erundina foi lá quando era prefeita de São Paulo e uma garota perguntou se ela não podia criar uma lei proibindo os nordestinos de virem para cá. Perguntei à garota se ela tinha lido Graciliano Ramos, se gostava de Raul Seixas, Gil e Caetano. Quando a platéia participa, não dá para saber quem tem boas perguntas.

O que você pretende entrevistando pessoas da platéia?
Saber a opinião sobre temas mais difíceis de serem entendidos pela própria sociedade, como aborto ou drogas. Não dá pra achar que todos os garotos de 15 anos são iguais e que um jovem possa representar a juventude inteira. Mas, no programa, temos uma representação da sociedade. Hoje, o cara pode votar no Lula para presidente e no Maluf para governador; ouvir Skank, Gil e Zezé di Camargo. Acho que isso nada mais é do que o reflexo da democracia com pouco acesso à informação.

O programa não fica superficial com entrevistas tão curtas?
Não são tão curtas, mas a referência das pessoas é o "Programa Livre". A questão é que dificilmente alguém assiste ao "Altas Horas" do começo ao fim, e se eu me aprofundar durante duas horas em um ou dois assuntos, a pessoa que começar a assistir ao programa no meio vai se desinteressar. E também quero diversificar os temas, colocar gente que fez sucesso, mas que não tem aparecido, como Lobão, Evandro Mesquita; quero levar agora o Hermes Aquino, que gravou aquela música, "Nuvem Passageira". Talvez faltem algumas coisas, mas a TV é o veículo mais superficial de todas as mídias. Se alguém acha que pode ser bem informado só com ela, está perdido.

O seu nome está ligado à qualidade. É o que o público espera de um programa seu.
Quando eu estava na Cultura, me convenceram a levar a Roberta Miranda lá e vi que o público gostou. Resolvi rever meus conceitos. E há uma questão delicada, que serve para algumas pessoas fazerem porcaria na TV: para nós da classe média, a televisão é uma opção no sábado à noite, mas para a maioria das pessoas é o único lazer. Há dois públicos no Brasil. Para quem não tem outra opção, ou tentamos fazer a cabeça com Caetano e Chico César ou damos prazer com KLB e umas bundas. É um dilema. Quero que as pessoas se transformem, mas não posso impor a transformação. Cada programa reflete a personalidade do apresentador e do diretor. Estou partindo para algo mais próximo de mim. Na TV está tudo muito igual.

Foi difícil sair do SBT?
Recusei um baú de dinheiro, porque o Silvio Santos queria que eu ficasse. Mas eu não dormiria mais se ficasse lá. Queria ter estrutura para trabalhar e uma equipe mais qualificada. O Silvio só pensava na audiência, não queria saber quem eu era ou o que eu pensava.

O que você esperava quando foi para a Globo?
Meu primeiro desejo era um programa diário e ao vivo, de uma hora. A Globo ofereceu meia hora e preferi pensar no semanal, que seria da meia-noite às quatro da manhã. Mas, na prática, isso não é possível. Eu gostei de criar um horário novo para programa de auditório, mas às vezes sofro com isso.

Não é um contra-senso fazer programa para adolescente sábado de madrugada?
As pessoas saem, mas voltam. Quando acaba o "Supercine", quase 50% dos televisores estão ligados. Nunca acompanhei a audiência dos meus programas, mas, por curiosidade, já passei muitos sábados aqui observando os números. Muitas vezes, o programa entra bem mais tarde do que deveria. Não dá pra cobrar uma audiência linear. O que importa é que o programa mantém seu desempenho estável em termos percentuais, variando entre sete e 14. Quando acaba, tem, às vezes, o total de 11 pontos, o que é bom. Dificilmente as pessoas assistem até o fim. Nesse horário você pode ter uma ótima atração, mas quando entra o intervalo, muitos vão dormir.

Você não temeu se descaracterizar?
A Globo não me contratou para me transformar. As pessoas acham que ela faz lavagem cerebral em seus funcionários. Você acha que o Cazé se descaracterizou ou que ele não foi aceito pela Globo? Se ele se transformou, por que saiu? Eu não viria se eles me dissessem pra falar só de pátria, família e sociedade, sair na "Caras" e só namorar globais. Preservo minha liberdade.
 

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