Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
12/02/2002 - 09h29

Panorama Sesi de Dança promove recirculação de obras

Publicidade

INÊS BOGÉA
da Folha de S.Paulo

Nem tudo está parado na cidade; e nem tudo que se mexe é Carnaval. Desde 31 de janeiro, está em cartaz o Panorama Sesi de Dança, que trará nove companhias brasileiras ao Teatro do Sesi, em espetáculos gratuitos. Sob a curadoria de Susana Yamauchi, o festival abriu mão do ineditismo (critério essencialmente comercial), favorecendo a preservação e recirculação das obras.

Só isso já seria motivo para elogio. E na soma de virtudes e acidentes, o saldo do Panorama, até aqui, é bem positivo.

A honra da abertura coube à Cia. Cisne Negro, com três criações recentes: "Danses Concertantes", do neozelandês Mark Baldwin, com música de Stravinsky; "Em caso de...", de Dany Bittencourt; e "Trama" de Rui Moreira.

Baldwin desenha bem o espaço, com iluminação e figurinos simples, que deixam as linhas do corpo à mostra. Mas nem tudo dá sempre certo: a despeito dos bons bailarinos, a repetição exaustiva dos movimentos acaba esvaziando a dança de interesse. Dany Bittencourt está começando, precisa descobrir o que quer fazer. Já Rui Moreira faz um balé maduro e característico: bem humorado, gingado, brasileiro.

Apesar da declaração, no programa, de que a companhia Quatromenosum não tem compromisso com a "dança formal", o vocabulário de "As Três Que o Diabo Fez (Espetáculo de Dança Nonsense)" é assumidamente o da dança contemporânea, com muito gestual mímico. O cenário -uma frente de casa com portas e janelas- tem papel fundamental na coreografia. A iluminação (Sérgio Funari) e o figurino (Yamauchi), também. O sentido, ou o nonsense da dança, vive dos gestos sequenciais das quatro intérpretes.

Do meio para a frente, tudo se rebobina, sem ordem, com novos detalhes. "Mistérios" femininos, com as devidas e indevidas aspas.

"Alfr...", da Cia. Druw, explora outra vertente na história secular da ironia. O desenvolvimento da dança se baseia em pequenas frases, na escolha precisa de gestos e seu equilíbrio. O corpo ao lado, ou uma bola, passam a sugerir novas possibilidades de movimento. O nome é revelado, mas sua figura não será nunca encontrada. Sugestivo (como a música de George Crumb). Repetitivo? (Como a música de Michael Nyman.)

A música, interpretada ao vivo, é um elemento crucial também em "Trovador", da Cia. Mário Nascimento. Três homens se confrontam, com agressividade urbana. Associações, torções, dissociações: um espetáculo forte. Guitarra (Renato Jimenez) como espírito dos tempos. O corpo, também, parece amplificado, cada ponto multiplicado em mil vetores.

Para fechar a primeira metade do Panorama, a Cia. Municipal de Dança de Caxias do Sul trouxe "Em Partes". São três coreografias ligadas, sem intervalo. Em "Tres Partes y Una Pared", de Brenda Angiel, os bailarinos, suspensos por cabos amarrados na cintura, mudam a referência da gravidade. Três "pas-de-deux" amorosos, os corpos livres no espaço, dão lugar depois a um trio na parede. Impactante, a princípio, infelizmente cai logo no lugar-comum (presa da sedução circense).

"Linha Aberta" e "INdivi-DUAL", ambas de Ney Moraes, têm menos interesse. Na primeira, o impulso é de vanguarda, mas o resultado fica, involuntariamente, no limite da pieguice. Já a segunda é uma voluntária celebração do kitsch.

O Panorama Sesi de Dança, que continua até 24 de fevereiro, com Wlap, Jorge e Willy, Quasar e Balé da Cidade de São Paulo, cumpre uma função crucial, ao promover uma amostragem assim. Questão a ser pensada, depois dessa meia maratona: como escapar da mera importação, como apropriar-se, verdadeiramente, de um vocabulário de movimentos que já se tornou língua franca internacional. A essa altura, não estamos só falando de dança. Mas de dança também.

PANORAMA SESI DE DANÇA
Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, SP, tel. 0/xx/11/3284-3639)
Quando: até 24 de fevereiro, de quinta a domingo, às 20h (dias 14 e 15: Cia. Wlap e Jorge e Willy; dias 16 e 17: Quasar; dias 21, 22, 23 e 24: Balé da Cidade de São Paulo)
Quanto: gratuito (retirar o ingresso uma hora antes na bilheteria do teatro)
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página