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14/02/2002 - 04h13

"Big Brother" é como um elefante numa loja de cristais

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ARMANDO ANTENORE
da Folha de S.Paulo

Houve quem dissesse, não exatamente assim, que "Casa dos Artistas" tinha a sutileza de um elefante. Pois é... O pior aconteceu: o elefante, neste momento, parece estar em uma loja de cristais. Mal se move, quebra tudo. Saradíssimo e bronzeado, não deixará caco sobre caco. "Animaaaaal!!!", resumiriam os moradores da nova choupana em que o paquiderme se meteu.

Com "Big Brother Brasil", a Globo de fato alcançou o que desejava: manteve-se na liderança. Superou o SBT em bíceps avantajados, sungas diminutas, gírias tatibitates e baixaria. A madame de outros tempos, sempre orgulhosa do tal "padrão de qualidade", não resistiu àquilo que julga ser o clamor das massas e abandonou definitivamente o salto alto.

Madame agora só usa chinelinho de dedo. Conta piadas chulas à criadagem e morre de rir com o alarido "rústico" que provoca. Gargalha à larga, refestelada no sofá das lojas Tamakavi, a boca de mil dentes degustando o torresminho de boteco que -madame calcula- o povaréu adora. Se os cristais estão se espatifando, fazer o quê? O negócio é faturar, já ensinava o visionário Raul Gil, pulseirão de ouro a reluzir via satélite.

Perto de Kléber, o agroboy que inunda o "BBB" de testosterona, Alexandre Frota soava como um scholar. Um Armínio Fraga. Comparada à desenvolta Xaiane, Nana Gouvêa exibia o recato de uma Vovó Donalda. "Fala sério!!!!", sintetizariam os habitantes da mansarda em que o paquiderme anda se esbaldando.

Kléber e Xaiane, aliás, protagonizaram as cenas que melhor traduzem o tom superlativo de "Big Brother". Entregaram-se, seminus, às idas-e-vindas de uma rede, mão naquilo, aquilo na mão. Devoravam-se às claras, sem os subterfúgios de que Supla e Bárbara Paz se valeram em "Casa dos Artistas". Nada de edredons para disfarçar as vergonhas do amor. Em "BBB", não há pudores.

E não os há porque a Globo precisa estar certa de que o público compreenderá tudo o que se passa na tela. A emissora trocou qualquer sutileza pelo controle. Incorporou o espírito totalitário do "Big Brother" orwelliano que inspirou o nome do programa.

"Casa dos Artistas" girava em torno do improviso, da surpresa. Entrou no ar de repente, sem campanha publicitária, sem avisos de nenhuma sorte. Pegou o público no contrapé. E agradou justamente pelo que trazia de anárquico, de inusitado. Os telespectadores tinham a impressão de que participavam de uma molecagem. Sentiam-se burlando o "script", a lógica que há décadas norteia a TV. Como os atores, a audiência também improvisava.

Os editores do programa rapidamente entenderam o fenômeno. Perceberam que não necessitavam carregar ainda mais nas tintas para segurar o ibope. À medida que os dias corriam, a atração ia abdicando do explícito, do grotesco, e se tornava auto-irônica. Insinuava em vez de mostrar.

"Big Brother", no entanto, preferiu não correr o risco das meias-palavras. Estreou sob a peso de quem vai à guerra. A Globo não podia sonhar com a rejeição dos espectadores. Resolveu, então, apelar. Montou uma estratégia de marketing inigualável para divulgar o "reality show". Obrigou Pedro Bial e Marisa Orth a apresentarem o "BBB" como se fossem animadores de auditório em permanente excitação. E, claro, deixou a sacanagem correr solta.

Conseguiu o que queria: o público tá dominado. Tá tudo dominado. Voltando às metáforas zoológicas: o elefante entrou na loja de cristais, e a audiência salivou feito os cãezinhos de Pavlov.



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