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23/02/2002 - 05h04

Rodolfo, ex-Raimundos, se lança ao hardcore evangélico

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Rodolfo Abrantes, 29, ex-Raimundos, inicia nova etapa na carreira musical, exposto às necessidades de adaptação e contradições que devem resultar de uma brusca virada em sua história. "Estreito" é o primeiro produto dessa fase, creditada não a Rodolfo, mas a um tal Rodox.

A história é confusa, pois ainda é difícil discriminar se Rodox é ele ou sua nova banda, a sucessora dos Raimundos, grupo que o revelou no cenário pop-rock hardcore nacional.

Segundo diz, é a banda -ele continua sendo apenas Rodolfo-, mas dois dos cinco membros atuais ainda não estavam integrados à equipe quando o disco "Estreito" foi gravado.

As confusões começaram antes, em junho passado, quando Rodolfo abandonou os Raimundos. Nos dias seguintes à ruptura, estabeleceu-se uma relação entre a separação e seu suposto ingresso numa igreja evangélica. Ele
critica as reações a sua virada, que o inspiraram até a dar título ao CD:

"O ano passado, com a maluquice e a bagunça que a mídia fez em cima de minha saída dos Raimundos, me fez andar num caminho estreito mesmo", começa.

Explica mais: "Aquilo foi uma grande notícia para a imprensa. Não queriam saber o motivo da saída, não adiantava eu tentar explicar. Anunciaram ao mesmo tempo a saída e o fato de eu ter virado cristão, parecia uma conversão. Eu me converti, mas faz muito tempo, foi quando eu ainda estava nos Raimundos".

Expõe, então, as razões que diz reais: "Saí da banda porque não era mais uma verdade minha. Vi que estava interpretando um papel. Não sou nem quero ser um enganador. Não teve nada a ver com o que se falou".

Uma das especulações que o irritaram foi a de que ele viria a fazer música evangélica. "Estreito" relativiza essa possibilidade, embora as letras anárquicas e adolescentes dos Raimundos estejam sendo trocadas por imagens mais sombrias, temática social ("Horário Nobre", sobre a TV) e mensagens implícitas.

Cristo é mencionado explicitamente, mas só na faixa "Cego de Jericó". O rock hardcore permanece no pique dos tempos de Raimundos.

De volta à sua irritação: "Foi um período chato, eu nunca havia experimentado uma situação dessas. De repente uma grande mentira sobre minha vida virou o ponto principal. A rádio Jovem Pan fez uma paródia, uma piadinha ridícula. Acho estranho uma rádio que cobra jabá tão caro ficar falando assim de dízimo. Sigo a Bíblia, sim, mas não sou religioso", esbraveja.

Vai adiante, na corda bamba: "Quando vêem que alguém é evangélico, pensam logo que é radical. Essa é a medida de muitas pessoas, mas não é a minha. Não vou fazer som gospel, evangélico. Gosto de rock, é o que me deixa feliz. Continuo fazendo rock, mas rock feito por um evangélico".

A mudança, ele há de convir, é radical, e aparece em letras como a de "Dia Quente" ("confesso que andei perdido/ reduzido a pó/ sem chão pra cair").

"Dizem que estou diferente. Foi uma mudança radical em relação ao que eu era, sim, mas hoje sou o verdadeiro Rodolfo. Antes é que eu andava diferente", diz, sem querer enveredar explicitamente pelo tema drogas.

Mas toca no assunto ao falar da letra de "Três Reis", composta em parceria com o rapper Xis e Falcão, do grupo O Rappa: "É a história de um cara que foi ao fundo do poço e saiu dali. O meu fundo de poço aconteceu por inércia, pelo fato de que eu fumava muita maconha e não tomava atitude nenhuma para mudar isso".

"Minha situação foi muito difícil, mas não só por causa disso. Eu estava descontente de tudo. Estava fazendo playback na TV, coisa que nunca me senti à vontade para fazer. O disco "Só no Forevis" tinha uma proposta irônica, criticando os grupos de pagode, mas as pessoas não entenderam. Íamos à TV e a gente é que ficava uma droga, igual aos programas."

Ironicamente, seu parceiro Xis está na "Casa dos Artistas", modelo muito próximo ao que ele detona na letra de "Horário Nobre". "É opção dele. Eu não entraria lá, mas é opção minha também. Vai ser legal, porque vai popularizar o rap", sai pela tangente.

Enfim, diz que, nesta fase "limpa", não teme o sempre pesado circo do rock'n'roll, ao qual se reintegra com "Estreito".

"Nunca houve esse perigo, nada disso pula dentro de você. Não vejo as coisas com uma rigidez de burrice. Sei que não vou fazer nada que me possa estragar. Esse mito de sexo, drogas e rock'n'roll vem de Woodstock, está velho há 30 anos e ainda se acredita nele até hoje", reclama.

Na linha não tão estreita entre a fé e o rock, diz que não virou nem vai virar fanático. Mas emenda: "Penso em Deus o dia inteiro. Foi a coisa mais linda que aconteceu na minha vida. Podem falar à vontade, mas sei que minha vida ficou muito melhor. As pessoas têm preconceito demais, quando eu falava de maconha reagiam menos que agora. O mundo está muito torto". E é essa a cabeça do novo Rodolfo, Rodox.


Leia a nossa opinião sobre o CD na Crítica Online
 

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