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26/02/2002 - 09h50

Peças de Shakespeare serão exibidas no Sesi

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VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha

Além de "Hamlet", outra tragédia de William Shakespeare (1564-1616), "Romeu e Julieta", tomará o palco do Teatro Popular do Sesi, no Centro Cultural da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, o coração do poder econômico na avenida Paulista. "Como esta montagem cabe, hoje, neste ano, nesta cidade, nesta avenida, neste prédio!", exclama intérprete de Hamlet, Marco Damigo, 28.

Em agosto, entra em temporada a história do príncipe da Dinamarca que tenta vingar o assassinato do pai pelo tio. No mesmo período, será vista na cidade aquela outra, tida como mais popular, romântica e triste história de amor da dramaturgia universal, a dos adolescentes que são impedidos de namorar por causa da rixa de suas famílias.

Em ambas, deve prevalecer certo ímpeto juvenil. A direção do Teatro Popular do Sesi tem como foco o público estudantil, para quem oferecerá palestras sobre as tragédias de Shakespeare e sua atualidade.

Os encenadores Francisco Medeiros ("Hamlet") e William Pereira ("Romeu e Julieta"), que debutam na obra do bardo inglês, valorizam uma leitura contemporânea, a começar pelo elenco.

Hamlet, que tem cerca de 30 anos na peça, será interpretado por Damigo, dois anos mais novo. O mesmo acontecerá com os assessores Rosencrantz e Guildenstern, que trabalham para o novo chefe de Estado, Claudius (o tio que mata o irmão e se casa com a viúva Gertrude), papéis normalmente desempenhados por atores mais velhos.

Segundo Medeiros, 53, 28 anos de teatro, o elenco de 16 atores "vai carregar a informação geracional" de sua época. Daí a perspectiva de montar uma peça "vibrante".

Medeiros gosta de enfatizar a importância do "público de todas as idades". Mas reconhece o entusiasmo em proporcionar à "moçada", vinda de diferentes locais de São Paulo que frequenta os espetáculos gratuitos do Teatro Popular do Sesi, a trama de um príncipe atormentado não só pelo fantasma do pai, mas sobretudo pelos fantasmas e desmandos do poder.

"É uma chance brilhante de contato com Shakespeare, que, além dos mistérios da alma, trata das noções do cidadão", afirma Medeiros, que já dirigiu "Fim do Jogo", de Samuel Beckett, e "SubUrbia", de Eric Bogosian.

Quem assina a tradução de "Hamlet" é José Rubens Siqueira. A cenografia é de Márcio Medina. O elenco será completado nos próximos dias. Estão confirmados Beto Magnani, Luciano Gatti, Rita Martins, Júlio Pompeo e Rosana Seligmann, esta no papel de Ofélia. Ela, como Damigo, atuou em "SubUrbia" e assina a produção do novo espetáculo.

Para "Romeu e Julieta", William Pereira, 38, 15 anos de carreira, realizou um processo de seleção que teve cerca de 1.200 inscritos, todos participantes da segunda turma do Núcleo Experimental do Teatro Popular do Sesi. Desses participantes, 280 foram chamados para testes. Havia 77 candidatos a Julieta e 32 a Romeu.

Os protagonistas serão interpretados por adolescentes que reflitam "o frescor abortado da paixão", conforme descreve o diretor.

A audição constatou a perspectiva "overromântica" que o espectador em geral tem sobre o clássico de Shakespeare. "Quero tirar esse clichê e mostrar que, paralelo ao lirismo, há uma rudeza, uma aspereza na história de Romeu e Julieta, na qual convivem os discursos do amor e da morte", afirma Pereira.

Na concepção do encenador, o conflito entre os Capuleto e os Montecchio pode ser traduzido como uma "guerra civil", mas "sem a obviedade do mundo cão contemporâneo".

Pereira, que já montou textos de Ramón del Valle-Inclán ("Luzes da Boemia") e Fernando Pessoa ("O Livro do Desassossego"), afirma ter "pavor" de montagens de época, mas rejeita as "modernosas". Também responsável pela cenografia, imagina que "Romeu e Julieta" se passará num espaço opressor, um "bunker", uma caixa de concreto.

O encenador optou pela tradução de Beatriz Viegas-Faria (coleção L&PM Pocket). Justifica a ausência de pruridos e coloquialidade das falas. "Fiquei encantado. O texto trata Shakespeare sem pudor e não perde a poesia e a dramaticidade. Há passagens que não dá para dourar a pílula, e a tradutora assume o duplo sentido", afirma.

"Hamlet", com estréia prevista para 9 de agosto, teve uma produção de R$ 400 mil e "Romeu e Julieta", que tem apresentação a partir de 16 de agosto, de R$ 350 mil. Os dois espetáculos serão apresentados de quarta a domingo até 1º de dezembro e prometem fazer muito barulho por tudo no 1.313 da avenida Paulista.


 

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