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03/03/2002 - 06h46

"BBB" e "Casa" criam viciados em "reality shows"

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PAULO SAMPAIO
da Folha de S.Paulo

São quatro horas da manhã de uma terça-feira útil em Tepic, a 800 km a oeste da Cidade do México, mas a tradutora paulistana Rita da Silva Garcia, 28, que mora lá há três anos, ainda está acordada. Com os olhos pregados no computador, Rita diz que só dorme depois que os participantes do "reality show" "Big Brother Brasil", apresentado pela TV Globo e transmitido também pela internet, vão para a cama.

"Deixo o computador ligado, mesmo depois que eles já começaram a dormir, porque acho que ainda pode acontecer alguma coisa. Além do mais, é engraçado ouvir o ronco do Kleber...", conta Rita, que dorme seis horas e pega o grupo despertando diariamente.

Rita é "viciada assumida". "Comecei a assistir porque era uma maneira de ouvir gente falando em português e me sentir em casa. Quando percebi, não conseguia mais deixar de ver", lembra. A tradutora-dependente pode ser a mais distante, mas não é a única.

Em termos de impacto no telespectador, a fórmula da "vida ao vivo" pode ser comparada à epidemia de dengue. A diferença é que o mosquitinho do "reality show" dá um tipo de "febre" que leva à catatonia: seu portador é capaz de ficar horas vidrado na TV, ligado nas emocionantes imagens da famosíssima Syang lavando louça ou, como se diverte Rita, o marombado Kleber roncando.

O sucesso fez o assunto migrar das páginas de entretenimento para as de negócios: a audiência dos dois programas conseguiu levantar um mercado publicitário em baixa, injetando cerca de R$ 100 milhões em anúncios e se tornando o maior evento publicitário dos últimos anos, segundo a Abap, principal associação das agências brasileiras.

De empresas de eletrodomésticos a operadoras de telefonia, de canais de TV a provedores de internet, muita gente está tirando suas lasquinhas dos números anabolizados dos programas.

No domingo passado, a BCP lançou um serviço que permite aos usuários de celulares ou telefones fixos, de qualquer operadora, acompanhar os sons de "Casa dos Artistas" sem censura. Por volta das 22h30, o sistema ficou congestionado.

Além dos que pagam para ouvir qualquer coisa, há os que pagam para ver o tempo todo, o "pay-per-view" que transmite os programas 24 horas sem interrupção. A DirecTV diz que a quantidade de compradores do pacote de "Casa 2" foi, no primeiro dia, o dobro do total vendido em toda a temporada de "Casa 1".

"Convenci meu pai a pagar R$ 45 a mais na mensalidade da TV a cabo, porque queria ter acesso ao 'Big Brother' o tempo todo. Mesmo que eu não esteja vendo, a TV fica ligada", conta o universitário carioca Gustavo Estef Lino, 20, que cursa o quarto período da faculdade de letras.

Gustavo conta que se tornou "dependente" dos "reality shows" quando começou a assistir ao americano "Real World", que a MTV apresentou legendado com o nome de "Na real". Mais tarde, o estudante viu também a versão brasileira do programa, batizada de "20 e Poucos Anos".

Filho único, ele explica que o "BBB" faz companhia em seus momentos de solidão. Como vive em uma casa com pouca gente, diz que sempre teve curiosidade de saber como é a vida em famílias diferentes.

"Minha mania de xeretar a vida dos outros é antiga. Tenho binóculo em casa e já vi cenas muito boas da minha janela. Gente nua pegando roupa pendurada na varanda, casal transando e mesmo o cotidiano de outras famílias: todos à mesa, jantando ou conversando em frente à TV", conta.
 

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