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07/03/2002 - 04h50

Mar del Plata abre festival em sintonia com a crise

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

A interseção entre arte e política é a marca da 17ª edição do Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, que começa hoje, no balneário argentino.

Dos discursos na solenidade de abertura -a cargo do secretário de Cultura, Rubén Stella, e do presidente do Instituto de Cinema e Artes Audiovisuais, Jorge Coscia- ao tom marcadamente crítico dos filmes selecionados, tudo na mostra deverá remeter à situação de um país em que "a única indústria que se salvou de quebrar foi a do cinema", nas palavras do diretor artístico do evento, Claudio España.

"Acredito que o festival se aproximou da situação de emergência real que vive a Argentina. Em outras épocas, ele foi apoteótico, cheio de supostas estrelas, limusines, hotéis luxuosíssimos, toda a estupidez de um modelo menemista que fazia a espetacularização da política", diz o cineasta Gerardo Vallejo.

Vallejo é um dos convidados da seção paralela "Histórias da Revolução - Cinema Político na América Latina: Anos 60 e 70". Dele, o ciclo exibirá "El Camino Hacia la Muerte del Viejo Reales", "um filme-denúncia sobre a exploração dos trabalhadores rurais", que teve as filmagens proibidas em 72 e foi montado clandestinamente em Roma. Do mesmo período, serão exibidos "La Hora de los Hornos" (68), de Fernando Solanas, e "Me Gustan los Estudiantes" (68), do uruguaio Mario Handler, entre outros.

O curta de Handler documenta o encontro que reuniu em Punta del Leste os presidentes Lyndon Johnson (EUA), Juan Carlos Ongania (Argentina), Costa e Silva (Brasil) e Alfredo Stroessner (Paraguai). "Chamou-se isso de Conferência de Chefes de Estado para dissimular o fato de que eram ditadores", diz Handler, que monta atualmente o documentário em longa-metragem "À Parte". "É um filme sobre jovens em situação de marginalidade cultural na era da globalização. Escolhi o veio cultural porque não queria ser miserabilista", diz o cineasta, que se define como "ainda de esquerda, mas de outra esquerda".

"Agora já aprendemos muito e acho que o cinema político é todo aquele que se aproxima do ser humano. Não creio mais que as pessoas saiam do cinema e partam para uma ação direta. O máximo que um filme pode impulsionar é a reflexão interna", afirma.

O próprio cinema como ação política direta é o que mais seduz o cineasta Fernando Solanas no contexto desse festival. Solanas apóia a iniciativa de um grupo de estudantes de cinema de promover, paralelamente às atividades oficiais em Mar del Plata, uma mostra de "cinema piqueteiro".

"Toda a recente movimentação social produziu aqui um fenômeno muito interessante -deu estímulo aos jovens para sair a filmar. Antes, os jovens desprezavam o documentário; agora, nasceu o que estamos chamando de cinema piqueteiro: um cinema social e político", diz Solanas.

O Festival de Mar del Plata segue até o próximo dia 16. O orçamento deste ano -US$ 450 mil- equivale a um quarto do que foi gasto no ano passado. A organização da mostra pretende coordenar um manifesto de todas as entidades representativas da indústria cinematográfica na Argentina para que seja garantida a verba anual destinada ao fomento do cinema, ainda em aberto.
 

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