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08/03/2002 - 05h21

Chega a São Paulo "Latitude Zero", longa premiado em cinco festivais

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

"Latitude Zero", longa-metragem de Toni Venturi que estréia hoje em São Paulo (e a partir da próxima semana chega a outras cidades brasileiras), corresponde à idéia do cineasta de que um filme não se encerra em diversão.

"O cinema não precisa ser só entretenimento biodegradável. A minha expressão traz junto um conteúdo social", diz Venturi, autor do documentário "O Velho - A História de Luiz Carlos Prestes", que, em 97, sentiu-se "preparado para o primeiro longa de ficção".

O cineasta buscou no roteirista Fernando Bonassi, colunista da Folha, um parceiro, por admirar sua "coragem de expor um recorte do Brasil de forma contundente". No texto teatral inédito que Bonassi ofereceu a Venturi como argumento para o filme não faltava a contundência do diagnóstico de um Brasil arruinado e a ousadia de retratá-lo por meio de personagens em situações-limite -a dona de um bar à beira de um garimpo abandonado e um ex-policial destituído da função.

Venturi decidiu filmar a história num único cenário -a equipe deslocou-se para Poconé, em Mato Grosso-, com atores desconhecidos do grande público -Débora Duboc e Cláudio Jaborandy- e respeitando a estrutura dramatúrgica de uma narração em tempo real e contínuo.

O diretor concluiu que, com esse formato, o projeto já tinha empecilhos suficientes para afastar "a enorme euforia nos patrocinadores" e decidiu mudar o título original -"As Coisas Ruins da Nossa Cabeça"- antes de partir para a captação do R$ 1 milhão com que o filme foi realizado.

O orçamento enxuto, que previa apenas quatro semanas de filmagens, foi contornado com dois meses de ensaios, nos quais Venturi procurou "descobrir o filme junto com os atores".

O conforto desse embasamento prévio, no entanto, não poupou o diretor, que hoje preside a Apaci (Associação Paulista de Cineastas), de experimentar "a mais apavorante" semana de sua história nos primeiros dias em que a ordem "gravando" foi dada para valer. "Só comecei a dormir a partir da segunda semana, quando fui vendo que tinha uma história nas mãos transformando-se num filme de verdade", diz.

Ao chegar à montagem final, Venturi contou com os palpites do crítico Jean-Claude Bernardet e de colegas da sua geração de cineastas paulistas, como Tata Amaral e Eliane Caffé.

Nas pré-estréias que realizou e nos debates promovidos pelos festivais em que tomou parte, o cineasta ouviu com frequência o comentário de que havia realizado um "filme muito forte". Ele discorda. "A realidade é muito mais forte. De certa forma, somos até muito líricos", diz.

Diversas vezes premiado em festivais (em Brasília, Ceará, Cuiabá, Portugal e Miami), "Latitude Zero" deve ser sucedido na carreira de Venturi pelo documentário para TV "No Olho do Furacão" e pelo longa de ficção "Cabra Cega", ambos em abordagem de aspectos da luta armada em resistência ao regime militar no Brasil.

"Acho que esse é um tema muito interessante de nossa história recente, ainda pouco abordado pelo cinema no país", afirma. Novamente Venturi deve assumir, por meio de sua produtora, a Olhar Imaginário, a responsabilidade de todas as etapas da produção do filme, desde a captação até o lançamento.

Embora encontre em si mesmo a convivência de "um dom natural tanto para a organização quanto para a fabulação artística", o cineasta acredita que o acúmulo dessas funções seja uma "perversão" determinada pelas dificuldades particulares na produção nacional. "O ideal é que tenhamos uma cadeia sistêmica em que cada um se dedique exclusivamente à sua função", diz.



Leia a nossa opinião sobre o filme na Crítica Online
 

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