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08/03/2002 - 05h23

Ridley Scott volta aos campos de batalha

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PAOULA ABOU-JAOUDE
free-lance para a Folha, em Los Angeles

O cineasta Ridley Scott lembra: "Enquanto terminava de editar meu novo filme, não havia ainda o "fator 11 de setembro". Quem poderia imaginar que algo terrível e desastroso pudesse acontecer?". Mas a psique do país ferido com os atentados terroristas ajudaram a transformar o sentido do drama de guerra "Falcão Negro em Perigo" e fazê-lo um sucesso de bilheteria. Na semana em que o filme chega ao Brasil, seu faturamento nos Estados Unidos já ultrapassa os US$ 125 milhões.

Com Josh Hartnett liderando um elenco de promessas de Hollywood, Scott reconta a intervenção do Exército norte-americano na Somália, em 1993.

Estacionados num país devastado pela fome, um grupo de elite dava proteção ao trabalho humanitário das Nações Unidas. Ao tentar capturar dois braços fortes de Mohamed Farah Aidid, um dos lordes da guerra civil somali, o que seria uma operação de apenas 60 minutos durou um drama sangrento de 15 horas. Um pelotão de soldados foi cercado por milhares de militantes armados, resultando em 18 americanos mortos, mais de 500 somalis abatidos e uma retirada vexatória das forças americanas, pedida pelo presidente Bill Clinton.

Scott recria esse episódio com um aparato técnico que impressionou os membros da Academia, que lhe indicaram para o Oscar de melhor diretor. Sobre a logística de uma produção desse tipo, o cineasta diz: "São 35 anos de experiência. Sei exatamente como criar cenas de batalhas como essas". Leia a seguir trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - "Falcão Negro em Perigo" gerou controvérsia pelo seu ponto de vista singular. O senhor acha que fez trabalho controverso?
Ridley Scott -
"Falcão Negro" é um filme muito simples e direto. A mensagem e o ponto de vista do filme são fatos subentendidos, jamais ressaltados com pompa. Não existem respostas no final do filme, apenas perguntas. Não estou propondo nada, mas, se você vir o filme atentamente, irá notar um pouco de minha opinião.

Não havia nada na Somália para os americanos. Eles não precisavam ter um grande Exército estacionado por lá, uma vez que existem suficientes cercanias amigas. O motivo de eles estarem lá foi a ajuda humanitária. A atriz Audrey Hepburn, que pertenceu à Unicef, ficou chocada com as fotografias das crianças. Ela caiu na choradeira e foi uma das primeiras celebridades a se tornar delegada da causa. Foi quando toda a coisa começou.

Folha - O senhor já estava mixando o filme quando aconteceram os ataques terroristas de 11 de setembro. Como reagiu?
Scott -
Todo mundo ficou aturdido. Os EUA tiveram sua fundação chocada; a escolha da destruição do centro financeiro foi uma idéia engenhosa. Se alguém faz barulho no seu quintal à noite, você chama a polícia; se existe um forte cheiro vindo da cozinha, você chama o bombeiro. Mas os americanos, mesmo vendo o que estava acontecendo no mundo, procuraram não se envolver. O 11 de setembro apenas provou o quanto tudo é pequeno.

Folha - Sendo cidadão inglês, como o senhor vê o sentimento antiamericano que tomou conta da Europa, depois da invasão do Afeganistão?
Scott -
Mas o que você vai fazer? Deixar o Bin Laden à solta? Pegue um livro chamado "Inferno", feito por um grande fotógrafo de guerra que cobriu Bósnia, Somália e partes da Índia. Depois pergunte a si mesmo se devemos fazer algo sobre isso. Acho que devemos, sim. Devemos interferir em qualquer situação que envolva alguém que necessite de ajuda. E são os EUA, como a nação de maior sucesso do mundo, que precisam liderar. Ninguém quer entrar em guerra. O 11 de setembro mostrou que, se você ignora um sinal nas suas costas, ele pode se transformar num melanoma.

Folha - O que o senhor acha do patriotismo que se seguiu nos EUA desde de 11 de setembro?
Scott -
Ao redor do mundo, existe uma tendência a olhar para o patriotismo americano com muito cinismo. Aprendi que não é isso. Eles [os americanos] são sérios sobre o patriotismo.

Folha - O senhor já tinha conhecimento sobre esse incidente na Somália?
Scott -
Sim, sou um rato da notícia. Vejo três noticiários pela manhã, leio vários jornais. Notícias, tênis e mercado de ações me interessam. Não entendi o porquê de o incidente deixar de ser notícia tão rapidamente. Os EUA ficaram envergonhados pela retirada das tropas. Eles perderam 18 soldados, mas mataram mil talebans.

Folha - Qual foi o último bom filme que viu?
Scott -
Foi "Entre Quatro Paredes". Fiquei surpreso com o efeito do filme. Gosto de mulheres fortes como a interpretada por Sissy Spacek. Fui casado com duas. Por isso que me divorciei. Fui chutado para fora [risos]. Sempre empreguei mulheres fortes em meus filmes. Escalei uma mulher para "Alien - O Oitavo Passageiro", num papel que seria para um homem. Fez mais sentido para mim, principalmente depois de ter conhecido Sigourney (Weaver), que era imponente e intimidante.


FALCÃO NEGRO EM PERIGO
Black Hawk Down
Direção:
Ridley Scott
Produção: EUA, 2001
Com: Josh Hartnett, Ewan McGregor
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Butantã, Eldorado, Ibirapuera e circuito
 

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