08/03/2002 - 09h56

Gaulier faz paródia do belo com a montagem "Ele Não É Meu Filho"

da Folha de S.Paulo

Especializado na arte do bufão, o diretor francês Philippe Gaulier vê na figura do arquétipo uma forma de parodiar a convenção do belo. Em "Ele Não É Meu Filho" ("Celui-ci Nést Pas Mon Fils", de 83), Gaulier reúne Pai, Filho e Espírito Santo para promover um festival de blasfêmias.
A peça participou do ciclo "Leituras de Teatro", na Folha, e cumpre temporada a partir de hoje no Centro Cultural São Paulo, em montagem de Beth Lopes.

"Quando nos deparamos com os diálogos, pensamos conhecê-los do besteirol, mas as piadas servem para criticar questões sérias", afirma Lopes, 46.

A atriz Cristina Mutarelli interpreta a Mulher 3, o Pai; Soledad Yunge é a Mulher 2, o Filho; e Yedda Chaves, a Mulher 1, o Espírito Santo. O autor pede mulheres nos papéis "masculinos" para arrematar o "sacrilégio".

Os símbolos religiosos são reduzidos à condição humana, submetidos às inquietações de um pai e um filho, por exemplo.

Traduzida pelo pesquisador Fernando Kinas, "Ele Não É Meu Filho" também parodia teorias linguísticas, como na passagem em que Deus confunde-se com o que diz, mas diz que não diz.

É a primeira montagem da peça no Brasil. Beth Lopes acredita que a obra de Gaulier, 58, tem elementos que podem ser associados à obra de Pirandello ("Seis Personagens à Procura de Um Autor"), no que se refere à "superposição de ser e de aparentar ser".

"O bufão tem um exercício de dialética que denuncia as relações de poder. Isso conduz o espectador a refletir sobre a dimensão social", afirma a diretora. A encenação é baseada na relação das palavras, das ações e dos corpos deformados dos bufões concebidos pelas atrizes.

ELE NÃO É MEU FILHO
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000, tel. 0/xx/11/3277-3611)
Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h (até 31/3)
Quanto: R$ 12