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11/03/2002
-
10h50
FERNANDA MENA
da Folha de S.Paulo
Um estranho fenômeno acomete parte da juventude brasileira. Quando o assunto é preferência musical, muitos jovens se comportam como se tivessem 40 anos ou mais. A equação funciona assim: quanto mais novo, maior é o valor que o adolescente dá a bandas que faziam um som novo nos anos 60 e 70. Aí se inclui, claro, o Pink Floyd, cultuado por milhares de garotos e garotas como se fosse a última palavra em invenção no rock.
Claro que não há nada de errado em gostar de Pink Floyd. O problema é achar que músicas feitas há quase três décadas são revolucionárias ainda hoje, numa insistência em só valorizar o passado sem investigar a cultura de seu próprio tempo.
Referência
O Pink Floyd é uma banda autêntica importante na linha do tempo da música. E, apesar de muitos fãs afirmarem que a fase original do grupo acontece quando a loucura de Syd Barrett está em ação e que "The Dark Side of The Moon" traz apenas migalhas dessa criatividade, a banda tornou-se referência por aliar música e tecnologia de olho no futuro.
O Pink Floyd que a maioria cultua hoje é o da fase em que a banda já havia transformado em espetáculo o ideal de fazer arte -quando seus integrantes trocaram as viagens de ácido por egotrips pessoais e embarcaram em álbuns e eventos megalomaníacos, que instauraram a discórdia e a disputa entre seus membros. Foi assim com Roger Waters, baixista que se apresenta no estádio do Pacaembu na quinta (14/3) em um show de três horas.
Nostalgia
No Brasil, o fenômeno de jovens fãs fervorosos do Pink Floyd pode ser explicado por uma influência de pais e irmãos mais velhos, pela mania de exaltar o passado como se só nele existisse valor e pela insistência das rádios em rechear suas programações com clássicos desgastados e com o pior do rock e do pop atuais. A falta de informação é um elemento-chave nesse mistério.
"Comecei a ouvir Pink Floyd por causa do meu irmão", conta Victor Aita, 17, fã da banda. "Os efeitos que eles colocam nas músicas são incríveis, parece que você está em outro mundo", justifica. "Gosto também de Black Sabbath, The Doors, Janis Joplin e Raul Seixas. Às vezes acho que nasci na época errada. As bandas de hoje não prestam", admite. Não é para menos, Victor não conhece Radiohead, Galaxie 500, Yo La Tengo, Stereolab e mais uma série de outras bandas que praticam experimentações sonoras e que poderiam agradar-lhe.
Gabriela Gomes, 14, compartilha o sentimento de Victor. "Preferia ter nascido antes. Gosto muito mais de música antiga do que da atual."
O maestro Julio Medaglia, expoente da música de vanguarda dos anos 60, arrisca seu porquê: "Os jovens não têm culpa. O problema é que a produção divulgada pela indústria cultural é uma porcaria. Se os jovens buscam os primeiros discos do Pink Floyd, é porque querem qualidade.
Hoje, a música boa está nos subterrâneos enquanto o grande consumo é de música linear, sem crítica e sem criatividade".
Daniela Harumi, 11, também vasculha as causas de seu gosto por Deep Purple e Pink Floyd. "Acho que as bandas de hoje não são tão criativas assim. Mas talvez eu pense assim por não conhecer muita coisa".
Jovens brasileiros preferem músicas de quarentões
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da Folha de S.Paulo
Um estranho fenômeno acomete parte da juventude brasileira. Quando o assunto é preferência musical, muitos jovens se comportam como se tivessem 40 anos ou mais. A equação funciona assim: quanto mais novo, maior é o valor que o adolescente dá a bandas que faziam um som novo nos anos 60 e 70. Aí se inclui, claro, o Pink Floyd, cultuado por milhares de garotos e garotas como se fosse a última palavra em invenção no rock.
Claro que não há nada de errado em gostar de Pink Floyd. O problema é achar que músicas feitas há quase três décadas são revolucionárias ainda hoje, numa insistência em só valorizar o passado sem investigar a cultura de seu próprio tempo.
Referência
O Pink Floyd é uma banda autêntica importante na linha do tempo da música. E, apesar de muitos fãs afirmarem que a fase original do grupo acontece quando a loucura de Syd Barrett está em ação e que "The Dark Side of The Moon" traz apenas migalhas dessa criatividade, a banda tornou-se referência por aliar música e tecnologia de olho no futuro.
O Pink Floyd que a maioria cultua hoje é o da fase em que a banda já havia transformado em espetáculo o ideal de fazer arte -quando seus integrantes trocaram as viagens de ácido por egotrips pessoais e embarcaram em álbuns e eventos megalomaníacos, que instauraram a discórdia e a disputa entre seus membros. Foi assim com Roger Waters, baixista que se apresenta no estádio do Pacaembu na quinta (14/3) em um show de três horas.
Nostalgia
No Brasil, o fenômeno de jovens fãs fervorosos do Pink Floyd pode ser explicado por uma influência de pais e irmãos mais velhos, pela mania de exaltar o passado como se só nele existisse valor e pela insistência das rádios em rechear suas programações com clássicos desgastados e com o pior do rock e do pop atuais. A falta de informação é um elemento-chave nesse mistério.
"Comecei a ouvir Pink Floyd por causa do meu irmão", conta Victor Aita, 17, fã da banda. "Os efeitos que eles colocam nas músicas são incríveis, parece que você está em outro mundo", justifica. "Gosto também de Black Sabbath, The Doors, Janis Joplin e Raul Seixas. Às vezes acho que nasci na época errada. As bandas de hoje não prestam", admite. Não é para menos, Victor não conhece Radiohead, Galaxie 500, Yo La Tengo, Stereolab e mais uma série de outras bandas que praticam experimentações sonoras e que poderiam agradar-lhe.
Gabriela Gomes, 14, compartilha o sentimento de Victor. "Preferia ter nascido antes. Gosto muito mais de música antiga do que da atual."
O maestro Julio Medaglia, expoente da música de vanguarda dos anos 60, arrisca seu porquê: "Os jovens não têm culpa. O problema é que a produção divulgada pela indústria cultural é uma porcaria. Se os jovens buscam os primeiros discos do Pink Floyd, é porque querem qualidade.
Hoje, a música boa está nos subterrâneos enquanto o grande consumo é de música linear, sem crítica e sem criatividade".
Daniela Harumi, 11, também vasculha as causas de seu gosto por Deep Purple e Pink Floyd. "Acho que as bandas de hoje não são tão criativas assim. Mas talvez eu pense assim por não conhecer muita coisa".
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