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17/03/2002 - 04h24

Rivais contra-atacam a Globo com novas novelas

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BRUNO SAITO
da Folha de S.Paulo

Os primeiros sintomas apareceram no ano passado: fracasso da novela global "As Filhas da Mãe" e sucesso do "reality show" "Casa dos Artistas 1", do SBT, uma nova opção de entretenimento. Em 2002, a novela das sete da Globo, "Desejos de Mulher" começou mal, chegando a 28 pontos de audiência, muito abaixo da meta da emissora para o horário. Subiu para 32 e já está melhor do que a trama das seis, "Coração de Estudante", que entrou no lugar da claudicante "A Padroeira" e vem patinando nos 25 pontos. Nesse cenário, três emissoras decidiram tentar, mais uma vez, abalar a hegemonia da Globo no gênero. O SBT coloca no ar em abril a trama "Marisol", que terá no elenco a atriz Bárbara Paz, a vencedora de "Casa dos Artistas 1" e Alexandre Frota, ressuscitado pelo mesmo "reality show", no papel de vilão. A Rede TV!, neófita no ramo, atacará com "Betty, a Feia", produção colombiana que a própria Globo cogitou comprar para, segundo a emissora, adaptar no Brasil. Por fim, a Record, que não dá detalhes sobre seu projeto, também pretende colocar no ar uma nova novela. Não se sabe se alguma dessas atrações vai repetir fenômenos como "Dona Beija" (86) e "Pantanal" (90), da extinta Manchete, ou como as infantis "Carrossel" (91) e "Chiquititas" (97 a 2001), do próprio SBT, que roubaram fatias significativas do público da Globo, mas é certo que a emissora líder vai ter que enfrentar uma concorrência mais ferrenha no horário nobre nos próximos meses.

Para a coordenadora adjunta do Núcleo de Telenovelas da USP, Maria de Lourdes Motter, o momento ruim para algumas novelas da Globo em termos de audiência se deve a um desrespeito com o público. "As novelas das seis e das sete sofreram muitas mudanças em suas estruturas e isso quebrou os hábitos do telespectador. Novela é um ritual diário, não pode ser mexido. A emissora está deixando de lado o "padrão Globo de qualidade"."

Segundo o diretor da Central Globo de Comunicação, Luis Erlanger, "só quem não conhece a emissora pode supor que o "padrão Globo de qualidade" pode sofrer modificação". "Essa é uma cultura implantada no espírito de cada um que trabalha na emissora e diz respeito à forma, à possibilidade técnica, ao conteúdo do texto, enfim, aos recursos para fazer o melhor programa possível", afirma.

Já para o professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Aluizio R. Trinta o problema é outro. "A fórmula da Globo está desgastada e precisa ser reinventada".

O interesse crescente pelos "reality shows" seria um sintoma da crise da teledramaturgia. "Nesses programas, o telespectador encontra tudo aquilo que não vê mais nas novelas, ou seja, conflitos, paixões e descobertas. Esta é a mais nova tentativa de congregar a família em torno da TV, uma vez que gera discussões e torcidas", diz Trinta.

No entanto, os dois estudiosos não acreditam que o fim das telenovelas esteja decretado.

"Os "reality shows" são uma moda que vai acabar. Eles apenas reproduzem a estrutura de uma novela, de forma mais simplificada", diz Maria de Lourdes.

"A novela tradicional nunca vai desaparecer, está enraizada na cultura ocidental. Mas ela precisa sofrer alterações, receber mais interferências do telespectador", acredita Trinta.

"É um momento ideal para que as outras emissoras aproveitem e invistam em teledramaturgia", diz Maria de Lourdes.

Segundo Trinta, a inexistência de um núcleo de teledramaturgia forte fora da Globo se deve à falta de investimentos sérios. "A programação das outras emissoras é imediatista. Sem grandes atores e sem grandes técnicos de produção, essas emissoras deixam as novelas em segundo plano quando percebem que a audiência é baixa. Sai mais barato comprar novelas mexicanas", diz Trinta.
 

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