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21/03/2002 - 11h42

Curador da seção brasileira da Bienal optou por artistas, não obras

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RODRIGO MOURA
free-lance para a Folha

Agnaldo Farias, 46, aceitou um desafio que não é banal. Colocou-se à frente da curadoria da representação brasileira para a 25ª Bienal de São Paulo em um momento no qual a instituição cinquentenária enfrentava uma de suas piores crises -solvência de projetos curatoriais em andamento, adiamento em seu calendário, risco de perda de prestígio internacional.

Farias diz que pretendeu passar por cima dos percalços institucionais para fazer uma representação brasileira que fosse realmente "dos artistas", numa atuação curatorial, segundo o próprio curador, "pouco incisiva".

Erigiu uma lista bastante heterogênea de artistas de meia-idade, na maioria dos casos pouco conhecidos no circuito comercial, loteou mais ou menos equanimemente os espaços (100 m2) e, aí sua ousadia, distribuiu financiamentos em torno de R$ 20 mil para a realização das obras, todas feitas especialmente para a Bienal.

A lista, marcada pela diversidade geográfica do país, recebeu críticas segundo as quais ela seria "dos excluídos". Farias não se complica para defender suas escolhas. Sentado em seu escritório no bairro paulistano de Pinheiros, diz que a relação contempla artistas com os quais vem dialogando fora do eixo Rio-São Paulo, desde seu trabalho como curador do MAC-USP e do MAM-RJ ao longo da última década.

Mineiro de Itajubá há quase 30 anos radicado em São Paulo, atual curador do Instituto Tomie Ohtake, arquiteto por formação e professor por vocação, o curador dos artistas brasileiros na 25ª Bienal de São Paulo concedeu a seguinte entrevista à Folha.

Folha - O sr. diz que, para a Bienal, selecionou artistas, e não obras. Qual foi o resultado?

Agnaldo Farias -
A Bienal é muito importante para os artistas. E eu achei mais aconselhável, neste momento, que se afirmasse a atuação deles. Primeiro porque a nossa produção é mais ampla, sobretudo do que internacionalmente se pensa. Achei que era o momento de sair de alguns nomes mais conhecidos internacionalmente e de apontar outros. Optei por uma postura como curador não tão incisiva. Não fiz um trabalho a partir de obras. Deixei os artistas à vontade para que projetassem o que quisessem. Agora, é mais complicado trabalhar porque você não sabe o que vem. Fica mais difícil amarrar.

Folha - Qual foi o processo que o levou a essa lista? Houve uma pesquisa de campo específica?

Farias -
Essa curadoria específica não é o resultado de um ano de trabalho, são dez anos ao longo dos quais percebi que São Paulo e Rio são o centro da difusão, mas não são os centros exclusivos da produção. Resolvi não repetir artistas que participaram das bienais dos últimos dez anos, não me preocupei com jovens artistas, pois eles já têm espaço, e optei por artistas que já têm uma trajetória, mas cuja obra não foi bem vista.

Folha - Há um aspecto bastante interessante, que é a encomenda da obra, o artista ter uma verba para produzir.

Farias -
No atual sistema, principalmente dos anos 90 para cá, quando começou a entrar dinheiro no circuito, todo mundo está lucrando, só quem não está é o artista. Você pega a obra emprestada, veicula, expõe da maneira como acha melhor, e o cara não recebe um centavo. Eu acho isso muito desigual. Não é por outro motivo que os artistas estão olhando com certa ressalva para os curadores. Desta vez eu renovei, pedi R$ 20 mil em média para cada um fazer o seu trabalho. Destes R$ 20 mil, R$ 3.000 são para o artista. Porque não é só o custo da obra, tem a produção intelectual. Isso pode ser novidade no Brasil, mas lá fora é assim.

Folha - Isso em algum momento saiu pela culatra?

Farias -
Não. O que aconteceu é que, do mesmo jeito que teve artista que gastou menos, teve gente que gastou mais. E eu fiz uma concessão para os artistas com salas especiais, Nelson Leirner, Karin Lambrecht e Carlos Fajardo.

Folha - A respeito disto, chama a atenção o fato de não serem grandes os espaços expositivos das salas especiais, embora sejam lugares privilegiados...

Farias -
A idéia não foi fazer uma grande exposição ou uma grande individual. É a mesma idéia para todo mundo: qual é o projeto que você deseja fazer? A hierarquia está no catálogo, no qual eles terão mais páginas, e no destaque que se dá ao chamar de sala especial.

Folha - A questão do olhar do estrangeiro sobre a arte brasileira lhe chamou atenção? O sr. vê uma certa expectativa pré-concebida?

Farias -
Existe, e eu não trabalho a partir da demanda deles. Não aguento mais essa coisa de ficarem falando que o Brasil é Hélio Oiticica e Lygia Clark. É também, mas há outros.

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