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21/03/2002 - 11h47

9 salas trazem contemporâneo de brasileiros e estrangeiros à Bienal

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FELIPE CHAIMOVICH
crítico da Folha

O núcleo das salas especiais abandona neste ano o papel retrospectivo. Pela primeira vez, o conjunto proporá uma reflexão sobre a contemporaneidade apenas com artistas atuais.

A seleção foi dividida pelos dois principais curadores da 25ª Bienal. Alfons Hug esteve a cargo de seis estrangeiros, e Agnaldo Farias, dos três brasileiros.

Carlos Fajardo abre a visita ao espaço museológico, um abrigo climatizado contra as intempéries no prédio de Niemeyer. O artista tematiza a arquitetura para isolamento da arte por meio de instalação.

Os códigos de reconhecimento da arte são objeto de reflexão de Fajardo desde os anos 60, quando integrou, em 1966, a Rex Gallery, cooperativa paulistana que pretendeu desvincular a produção contemporânea das instituições consagradas.

A separação entre o mundo da arte e a realidade será experimentada pelo espectador que se aventurar no labirinto de Fajardo. Visitantes aos pares serão conduzidos até um centro marmóreo através de corredores que levam ao isolamento crescente.

Adiante está Nelson Leirner. Outro bloco branco no caminho do visitante. Mas, agora, a brincadeira estará congelada num arranjo estático.

Leirner acompanhou Fajardo na desconfiança sobre a arte. Foram colaboradores na Rex e ambos lecionam para artistas locais.

A arte como jogo é tema clássico de Leirner. Uma partida de pingue-pongue numa mesa de acrílico em cômodo laqueado reforça a sensação de assepsia do lugar de exposição, mimetizando o espaço museológico circundante.

Da esquerda para a direita, Sean Scully é o primeiro representante estrangeiro. Ele tem explorado a continuidade da pintura após a eclosão hegemônica da abstração norte-americana nos anos 50.

Scully dá curso à Escola de Nova York investigando o corpo da pintura. A materialidade própria da mídia pictórica alegoriza valores associados à abstração do pós-guerra. Seu estilo é apresentado ao público da Bienal como descontrolado e carismático, vibrante e cheio de vitalidade.

Julião Sarmento tinge a pintura da melancolia lusitana. Ao contrário de Scully, não optou por ela num momento historicamente propício. O artista vivenciava o fascismo de Salazar quando abraçou a técnica como forma de resistência silenciosa.

Sarmento tem figurado a pintura como submissão. Sobre telas monocromáticas desenha mulheres atadas, das quais se vê somente parte do torso. O metódico trabalho pictórico é eclipsado por um desenhista hesitante, que coloca o espectador na posição compulsória de voyeur.

Andreas Gursky amplifica o voyeurismo trazendo a fotografia para retratar o tema central do evento paulistano: a metrópole. Seis imagens confrontam as linhas de edifícios com situações de encontro coletivo na escala da megalópole.

Em seu trabalho, Gursky explora a tensão entre planejamento e massificação da vida. Tem registrado composições que confundem a população com os ornamentos da arquitetura vista à distância. O destino do planejamento racional na vida urbana de hoje assemelha a foto realista a construções abstratas.

Entretanto a utopia da modernização retorna na sequência. Thomas Ruff usa a foto para criar uma atmosfera onírica da qual emergem pérolas da arquitetura modernista.

Longe das massas incontáveis de Gursky, Ruff registra entre névoas os prédios de Mies van der Rohe. Ícone venerado do modernismo, Van der Rohe mantém o potencial de sedução mesmo quando suas linhas arquitetônicas são borradas pelos processos fotográficos de Ruff.

Sedução é também o que promete Jeff Koons. A série fotográfica "Divertido-Etéreo" dará uma amostra da produção multimídia desse artista que continua na vanguarda da pesquisa pop em Nova York.

Koons prima pela falta de pudor. Num lance ousado de construção profissional, contraiu matrimônio com a diva pornô Cicciolina, e juntos tiveram um filho. A imperatriz do sexo protagonizou uma série de fotos transando com o marido, envolta na habitual atmosfera infantil de seus filmes eróticos. O resultado transformou-se em mais um passo na cintilante carreira do artista.

Koons estará representado por uma dentre as várias mídias exploradas pelo artista. "Divertido-Etéreo" utiliza a computação gráfica para a composição primorosa com ornamentos para sedução barata.

A oitava sala contará com fotos da italiana Vanessa Beecroft, realizadas durante sua performance em Viena, no ano passado, denominada "VB45". Entretanto a artista vem ao país para uma nova performance, intitulada "VB50" e programada para 24 de março, nas rampas do pavilhão da Bienal.

Modelos brasileiras de diversos grupos étnicos protagonizarão um espetáculo, com adereços desenhados pelo estilista Azzedine Alaïa. "VB 50" será registrada em foto e vídeo, documentação que posteriormente substituirá as imagens inicialmente instaladas na sala especial da artista.

Karin Lambrecht optou pela marginalidade. A brasileira não quis compartilhar do isolamento imposto pelo núcleo museológico. Estará localizada à saída do local segmentado, olhando para as vidraças do prédio do Ibirapuera.

A nona sala especial reúne numa instalação desenho, objeto e pintura. Lambrecht transitou dos quadros dos anos 80 para uma busca da materialidade de pigmentos. O vermelho retorna como sangue. A artista acompanhou o abate de ovelhas, manchando diversos suportes durante o processo tecnicamente conduzido por profissionais.

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