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31/03/2002 - 03h38

Atletas da insônia se preparam para assistir à Copa do Mundo

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RODRIGO DIONISIO
da Folha de S.Paulo

Daqui a exatos dois meses, terá início na Coréia a Copa do Mundo de futebol. O evento, com jogos realizados também no Japão, será em grande parte televisionado durante as madrugadas brasileiras. A seleção canarinho, por exemplo, faz os três jogos da primeira fase da competição respectivamente às 6h, 8h30 e 3h30 (horário de Brasília). A tabela completa da Copa, com 64 jogos, prevê 22 partidas às 3h30 e dez às 6h.

Há ainda disputas às 6h30, 4h30 e 2h30 -a estréia da Argentina, contra a Nigéria. Os outros 29 jogos serão exibidos às 8h ou 8h30. Confira dias e horários em fifaworldcup.yahoo.com/en/t/s/g.html. Com a programação em mãos, fãs de futebol preparam-se para ficar acordados. "Assisto a todos os jogos da Copa, e neste ano não será diferente", diz o cozinheiro Benedito Sebastião Santos, 30. Ele traçou a seguinte estratégia: "Quando tiver jogo às 2h, 3h, chego em casa, ponho o relógio para despertar e já durmo. Assim, mato metade do sono. Para as partidas às 6h, 6h30, eu acordo mais cedo, assisto e depois vou trabalhar direto. Entro no serviço às 9h30".

Entre os torcedores famosos, a maioria também organizará suas noitadas de futebol. O apresentador do "A Noite É uma Criança", da Band, Otávio Mesquita, 42, diz que irá se programar para ver ao menos os jogos do Brasil. Ele ainda aproveita para puxar sardinha: "Com o pessoal esperando para ver as partidas, a audiência do meu programa deve melhorar. A madrugada, que já tem um público mais qualificado de uma maneira geral, deve ficar melhor". Habitualmente, as madrugadas (das 3h às 6h) contam com público televisivo com o seguinte perfil: 51,5% são mulheres; 21,4 % têm entre 25 e 34 anos, e 22,1%, de 35 a 49; 36% pertencem à classe C, e 32,8%, às D e E. Esse perfil sofre sua principal alteração em relação à faixa etária no outro horário de concentração dos jogos (8h às 10h): 24,9% do público tem de 4 a 11 anos -53,1% são mulheres; 39%, da classe C, e 36%, das D e E. Os dados são do Ibope, referentes a fevereiro deste ano, de segunda a sexta.

Outro fanático por futebol é o jornalista e apresentador do "Terceiro Tempo", da Record, Milton Neves, 50. Ele afirma que sua paixão pelo esporte independe da profissão. "Mesmo não trabalhando com isso, se o Brasil jogar 1h, 2h, 3h, 4h, estarei acordado para assistir." Neves também conta que já perdeu o sono por causa de outros eventos esportivos. "Na era Tyson, assistia a todas as lutas para torcer contra ele. Ficava até as 2h, meio sonolento. Ele entrava e ganhava de maneira tão rápida e feroz que a minha adrenalina ia lá no alto e eu não conseguia mais dormir. Era um terror." Aficionado por boxe, o professor de educação física Luis Reinoso, 41, afirma que, ao menos duas vezes por mês, tem de tirar um cochilo à tarde para aguentar uma madrugada de lutas na TV paga. Com sinal aberto, na Globo, o mais recente combate a manter Reinoso acordado foi entre Acelino "Popó" de Freitas e Joel Casamayor, em janeiro. Um número considerável de telespectadores fez o mesmo. A luta, no ar da 1h56 às 3h03, teve média de 18,1 pontos no Ibope (cada ponto equivale a cerca de 47 mil domicílios sintonizados na Grande São Paulo).

Quem também tem a TV paga como sua companheira nas madrugadas esportivas é o escritor Moacyr Scliar, 65. Fã e jogador de basquete -"o mais idoso do meu grupo, grande motivo de orgulho"-, ele tem por hábito acompanhar as partidas da NBA "uma meia-dúzia de vezes por ano". "Não com prazer, mas com uma inveja terrível", brinca. Já a estudante Maria Beatriz Lastrucci, 19, assiste às corridas de Fórmula 1, seja qual for o horário, com um objetivo: ver o piloto Jacques Villeneuve. "Adoro velocidade, mas a maioria das vezes assisto por causa dele." A última madrugada em claro de Lastrucci foi no domingo 16, durante o GP da Malásia. Das 3h51 às 5h48, a transmissão alcançou 9,2 pontos no ibope.

Vale tudo "Estou passando pelos canais e ouço o locutor: "Virada espetacular dos EUA contra a Holanda". Descubro ser uma disputa de hóquei no gelo nos Jogos de Inverno de Salt Lake City. Acabo assistindo o resto. É loucura ir dormir às 4h por ficar vendo isso, mas para mim é como um vício."

Quem conta essa história é o jornalista e apresentador do "Bola na Rede" (Rede TV!), Juca Kfouri, 52. Ele afirma ser um dos poucos brasileiros a terem visto o Brasil ser campeão mundial de basquete feminino em 94, na Austrália.

Há ainda os que incomodam os outros na madrugada, como o gráfico Joarez Carlos de Oliveira, 25, que pede para a mulher acordá-lo. "Às vezes eu não ouço o despertador." O que ele costuma assistir? "Quase sempre futebol ou Fórmula 1. Antes tinha muito jogo de vôlei também. Ah! A luta do Popó eu vi inteira", afirma.

Já o auxiliar de escritório Valbert Florentino Alves, 33, diz não precisar de ajuda para acordar. "Não coloco despertador, acordo automaticamente no horário do que vou assistir." Isso, como se pode imaginar, nem sempre da certo: "Perdi a largada do GP da Austrália. O da Malásia eu assisti todo", conta.

Mas, provavelmente, o hábito de acompanhar esportes na madrugada mais inusual é o da apresentadora do ESPN Soninha, 34. "A coisa mais fácil é eu dormir na frente da TV, mesmo durante os jogos "normais", porque depois das 22h30 morro de sono. É até melhor deixar gravando. Depois que todo mundo foi dormir, acordo e assisto o jogo, de madrugada ou às 7h. Ridículo...", diz.
 

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