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03/04/2002 - 03h24

Almodóvar apresenta seu novo longa em première do festival de Paris

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ALCINO LEITE NETO
da Folha de S.Paulo

A síndrome Pedro Almodóvar já tomou conta de Paris. Os franceses o adoram e estão contando nos dedos o dia da estréia nos cinemas de seu filme "Hable con Ella" (Fala com Ela). O lançamento será em 10 de abril, mas a première mundial foi anteontem, na abertura do Festival de Cinema de Paris, que segue até o dia 9.

Enquanto o filme não chega ao público, uma retrospectiva de sua obra terá início nesta semana nos cinemas. Uma mostra na Fnac dos Champs Elysées exibe as fotos que fez durante as filmagens, também editadas no álbum "Hable con Ella", que chega às livrarias.

Aos 50 anos, o diretor foi aplaudido de pé após a exibição. O filme é um melodrama estupendo e, mais uma vez, surpreendente pelos desafios que Almodóvar não se cansa de colocar. Ele avança em seus temas por meio de situações muito difíceis, que se imaginaria impossíveis de filmar -ou que resultassem em boa coisa.

Boa parte das cenas acontece num hospital. As duas principais personagens femininas, uma delas toureira, passam a maior parte do filme inertes: estão em estado de coma. Os protagonistas masculinos são comuns, desglamurizados. O tempo narrativo é cheio de saltos e flashbacks, mas o diretor nunca perde o ritmo nem a tensão dramática.

No meio da narrativa, entra um filme em preto-e-branco, de dez minutos, dirigido por Almodóvar à maneira do cinema mudo e ambientado em 1924. É a historieta de um homem que diminui de tamanho e entra de corpo inteiro dentro do órgão genital de sua amada. O público se extasia.

Para os brasileiros, "Hable con Ella" tem a curiosidade de mostrar toda uma sequência com Caetano Veloso cantando uma versão tristíssima de "Coo Coo Roo Coo Coo Paloma", de Tomás Méndez Sosa. Numa das cenas mais dramáticas, entra a voz de Elis Regina em "Por Toda a Minha Vida", de Vinicius e Jobim, que é citado ainda pelo ator principal: "O amor é a coisa mais triste do mundo quando acaba, como disse uma canção de Jobim".

A abertura do Festival do Cinema de Paris acabou sendo uma homenagem a Almodóvar. Ele chegou à cerimônia ao lado do prefeito da cidade, Bertrand Delanoë, que é assumidamente gay. O prefeito defendeu Paris como a capital da diversidade cultural e saudou: "Bem-vindos à Espanha". O cinema do país é homenageado no festival. Estavam lá os atores de "Hable con Ella", mais Marisa Paredes, o escritor Jorge Semprun e uma comissão de diretores e intérpretes espanhóis.

A atriz Isabelle Adjani fez sua primeira reaparição pública depois de anos de recolhimento, como presidente de honra do evento. Ela superou uma longa depressão e vai ser agora dirigida no teatro por Patrice Chéreau.

As ressurreições não pararam aí: Maria Schneider (atriz de "O Último Tango em Paris") ressurgiu como presidente do júri de curtas. Geraldine Chaplin ("Dr. Jivago", "Cria Cuervos"), que atua no filme de Almodóvar, apresentou o júri da competição de longas do festival, no qual está "O Invasor", do brasileiro Beto Brant.

A atriz Penélope Cruz, ovacionada, saudou Almodóvar em inglês ("ele é um gênio") e o chamou ao palco. O diretor, em péssimo francês, disse que as únicas palavras que conhecia na língua eram: "Non, rien de rien, je ne regrette rien" (não, nada mesmo, eu não lamento nada), citando os versos da música de Edith Piaf. Ele retribuiu a homenagem: "Paris sempre foi a mais bela cidade para filmar o amor e a morte".
 

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