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09/04/2002 - 04h51

Musas mostram a força feminina do jazz

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Nova York

No momento em que entra no palco, como acontece hoje à noite no Bourbon Street Music Club, a norte-americana Jane Monheit faz mais do que cantar: ela representa uma tendência. O jazz de sucesso está virando mulher.

E mulher bonita.

Eleita a a melhor cantora do ano passado pela Associação Mundial de Críticos de Jazz, com seus dois CDs campeões de venda, a roliça nova-iorquina de 23 anos e cara da atriz Sherylin Fenn (de "Twin Peaks") é apenas a face mais evidente do fenômeno.

Fenômeno que está presente também no CD de estréia de Norah Jones, 22 anos, a caçula de Carla Cook, idade não-declarada, a única negra da turma. Em comum elas têm o ecletismo, a aversão a serem consideradas "cantoras de jazz" e a paixão pela música brasileira.

Elas podem ser consideradas "sobrinhas" das duas precursoras da onda, a pianista, cantora e musa loira Diana Krall e a herdeira vocal de Miles Davis, Cassandra Wilson, ambas na estrada e na mídia já há bem mais tempo.

"Não me vejo como uma cantora de jazz, embora jazz seja minha praia atual", disse Jane Monheit à Folha, por telefone de sua casa, no Upper West Side de Manhattan. "Identifico-me tanto com Shirley Horn quanto com Joni Mitchel."

Filha de um músico que tocava banjo num grupo de bluegrass, ela cresceu em Long Island ouvindo jazz. Coincidência ou não, casa-se neste mês com seu baterista, Rick Montalbano, que namora desde a adolescência.

Seu primeiro CD, "Never Never Land", de 2000, vendeu incríveis (para jazz) 65 mil cópias e o álbum seguinte e mais recente, "Come Dream with Me", foi o que mais sucesso fez no gênero nos EUA no ano passado.

Traz uma impecável versão de "Over the Rainbow", aquela mesma que Judy Garland cantava em "O Mágico de Oz" e que Monheit aprendeu a cantar aos três anos, quando divertia adultos babões com seus dotes precoces. "Fiz questão de gravá-la", disse.

Ela já foi chamada exageradamente de a jovem Billy Holyday, mas, se fosse para classificar, Jane Monheit estaria mais num registro entre a própria Shirley Horn e a mais pop Rickie Lee Jones.

Norah Jones
Mais ou menos na mesma praia está a novata Norah Jones, que acaba de lançar nos EUA seu CD de estréia, "Come Away with Me", em que o jazz se mistura a folk e blues e se espalha por 14 músicas (três da própria Jones).

Com cara ingênua de menina e uma pele cor de oliva, ela é filha do famoso tocador de cítara Ravi Shankar (embora odeie falar no assunto), nasceu em Nova York, mas foi criada no Texas. Além de cantar bem, toca um piano esperto, que aprendeu na mesma escola em que estudou Erykah Badu.

Foi classificada pelo jornal "The Washington Post" como "a nova Cassandra Wilson" e encabeçou os "Dez Artistas que Vão Dar o que Falar" da revista "Rolling Stone". "A música de hoje não me inspira", disse então. "Ouvi muito Bill Evans, mas também gostava dos discos de minha mãe da Aretha Franklin e de Ray Charles."

Carla Cook
Já Carla Cook pode ser apresentada por sua agenda dos próximos dias: tem shows com a orquestra do nonagenário Lionel Hampton, que a apadrinha carinhosamente, e com o trio de Cyrus Chestnut, para ficar em apenas dois compromissos.

A conterrânea de Madonna (ambas nasceram em Detroit, Estado de Michigan) se diverte mais, no entanto, quando a noite é de show do Carla Cook & Trio, ocasião em que divide o palco com feras do jazz tradicional.

Embora tenha mais anos de janela do que Monheit e Jones (já gravou com meio mundo, empresta sua voz a uma personagem de desenho animado e até a um popular videogame), só agora começa a cuidar da carreira solo.

Lançou "It's All About Love" em 1999, que valeu a indicação ao Grammy por melhor vocal de jazz, e soltou em 2001 "Dem Bones", um dos discos mais curiosos e bem-feitos do ano.

Show em São Paulo
Se repetir o show que fez no fim da semana passada no Mistura Fina, no Rio, Jane Monheit canta 13 standards acompanhada de Joseph Martin (baixo), Joel Fraham (saxofone), o namorado na bateria e Michael Kanan no piano.

Este deve ceder lugar para o convidado Ivan Lins em duas músicas: "Começar de Novo", em que arrisca seu português de poucas palavras e muito sotaque, e "Once I Walked in the Sun".

No Rio, a cantora abriu a noite com "I Can't Give You Anything but Love", de Jimmy McHugh e Dorothy Fields, e interpretou as brasileiras "Dindi" e "Wave", nas versões em inglês para as músicas de Antonio Carlos Jobim.

Seu show faz parte da quarta edição da série Diners Club Jazz Nights do Bourbon, que já trouxe T.S. Monk e recebe ainda John Pizzarelli (7 de maio) e o Ellis Marsalis Quartet (25 de junho).
 

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