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11/04/2002 - 04h37

Festival É Tudo Verdade, que começa hoje, traz filmes sobre conflitos

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

O mundo continua igual.

"Não acredito que, 18 anos depois, vou ter de tomar a mesma decisão." Ou Cuba ou os Estados Unidos é o dilema que trava a garganta do documentarista Juan Carlos Zaldívar. Seu relato está em "90 Milhas", um dos 93 filmes que compõem o 7º É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários, que começa hoje no Rio e na próxima segunda-feira em São Paulo.

Aos 13, Zaldívar se considerava um revolucionário de Fidel, mas seus pais decidiram se exilar em Miami. O sonho e o país ficaram para trás. Aos 31, ele volta pela primeira vez à ilha e, azar histórico, depara-se com manifestações populares que demonizam o Tio Sam, como argumento para pedir a volta ao país do garoto Elián (retido pelos parentes exilados nos Estados Unidos, depois que sua mãe morreu na travessia de barco em que tentava emigrar, em 99).

"90 Milhas" foi rodado ao longo de cinco anos e começou "como um diário filmado, uma desculpa" para que Zaldívar tivesse com os pais e irmãos diálogos sobre temas alheios ao cardápio de conversas da família, incluindo sua orientação homossexual.

Editado em 72 minutos, transformou-se no diagnóstico de uma ruptura -familiar, ideológica e geopolítica- e no registro de uma reconstrução -dos afetos, da rotina e da idéia de nação.

"Sempre viveremos em um contexto político e econômico. E é necessário ter ideologias, um propósito na vida, algo em que crer. Mas todo mundo, sobretudo os líderes, precisa se lembrar de que somos humanos, para que, quando tomem decisões de impacto na vida de todos, o façam de forma humanitária, e não servindo unicamente a uma ideologia, a uma utopia, a algo distante do real", diz o cineasta, hoje um cidadão norte-americano.

Perguntas
O impacto de conflitos políticos e de derrocadas econômicas em vidas singulares é destaque nesta edição do É Tudo Verdade. Além de "90 Milhas", pelo menos outros cinco dos 18 títulos relacionados na competição internacional cabem na descrição.

"Agosto", do israelense Avi Mograbi, vai às ruas na tentativa de identificar a origem do comportamento agressivo entre os cidadãos comuns do país. Como convém a todos os documentários, termina com mais perguntas do que a que o originou e sem respostas conclusivas.

Seguir indagando não é uma escolha para o esquerdista Mograbi, cujo documentário anterior tinha o político Ariel Sharon, atual primeiro-ministro de Israel, como tema.

"Quando faço um filme, nunca penso que estou realizando algo que possa mudar o mundo ou a maneira como as pessoas o vêem. Faço filmes porque tenho a necessidade de fazê-los. Não posso não fazer esses filmes, embora eles não representem diferença nenhuma para o mundo", diz.

A maneira como o cinema documental trata os conflitos contemporâneos e o uso político de suas imagens são tema de um seminário internacional que o festival É Tudo Verdade promove em São Paulo, nos próximos dias 19 e 20, em parceria com o Cinusp.

Debaterão a questão os professores Bill Nichols (Rochester University), Michael Renov (University of Southern California), Muniz Sodré (UFRJ), a crítica da Folha Esther Hamburger (USP), os realizadores João Moreira Salles, José Joffily (Brasil) e Rodolfo Hermida (Argentina), entre outros.

Na grade da mostra, um programa especial exibirá os vídeos "11 de Setembro", sobre as consequências do ataque terrorista às torres gêmeas na população de Nova York, e "Transformando a Tragédia em Guerra", a respeito da cobertura dos ataques pela imprensa norte-americana. Ambos foram realizados pela Paper Tiger Television, entidade que se define como militante contra o corporativismo da mídia.

A retrospectiva internacional desta edição é dedicada a trabalhos de e sobre Orson Welles, cujo inacabado "It's All True" inspirou o nome da mostra.

Com direção-geral e curadoria de Amir Labaki, articulista da Folha, o É Tudo Verdade tem ainda competição de títulos nacionais em curtas, a seção paralela não competitiva "O Estado das Coisas" e um painel da produção do "Globo Repórter" e "Globo Shell Especial" na década de 70.



Confira a programação do "É Tudo Verdade"
 

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