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19/04/2002
-
09h13
VALMIR SANTOS
do Guia da Folha
Criada há cerca de seis anos, a Companhia do Latão expõe um repertório determinado a cavar estruturas da história para trazê-las à luz, menos pelo viés realista, mais pela leitura simbólica.
Em seu oitavo espetáculo, "Auto dos Bons Tratos", que passou pela última edição do Festival de Teatro de Curitiba e estréia amanhã (dia 20), no Cacilda Becker, o espectador toma contato com uma das peripécias do processo colonial do Brasil.
Narra-se a trajetória do donatário da capitania de Porto Seguro (BA), o capitão português Pero do Campo Tourinho. Ele chega em 1534 e carimba com desmandos os 11 anos de tentativas de povoamento.
Tourinho (por Marcos de Andrade) é levado a um tribunal inquisitorial presidido pelo vigário da vila, o francês Bernard de Aurejac (Ney Piacentini).
Acusado de blasfêmia e heresia, o donatário é considerado culpado. Além de escravizar negros e índios, ele os submete ao "trabalho" em dias santos, contrariando a igreja.
Preso, o herege é mandado de volta para Lisboa, onde consegue absolvição. O Latão vê nesse episódio do século 16 uma inspiração satírica e, ao mesmo tempo, a gênese do autoritarismo na história brasileira.
Sempre em colaboração com os seis atores da montagem, que também cantam e tocam, Sérgio de Carvalho e Márcio Marciano assinam texto e direção. A intenção é acomodar humor e reflexão sob guarda-chuva das teorias do alemão Bertolt Brecht.
"O espetáculo traz uma radicalidade formal de quem trabalha com arte política e opta por uma expressão popular, mais sofisticada que a burguesa. É um confronto cômico com algumas formas de capitalismo", diz Carvalho.
Tudo em cena se pretende antiilusionista, da interpretação aos poucos elementos do cenário. "O objetivo é jogar aberto com o espectador." Santos)
AUTO DOS BONS TRATOS
Onde: Teatro Cacilda Becker (r. Tito, 295, Lapa, região noroeste, tel. 864-4513). 216 lugares
Quando: Sex. e sáb.: 21h. Dom.: 19h. Até 26/5. 90 min
Quanto: R$ 10
Companhia do Latão expõe gênese do autoritarismo no país em peça
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do Guia da Folha
Criada há cerca de seis anos, a Companhia do Latão expõe um repertório determinado a cavar estruturas da história para trazê-las à luz, menos pelo viés realista, mais pela leitura simbólica.
Em seu oitavo espetáculo, "Auto dos Bons Tratos", que passou pela última edição do Festival de Teatro de Curitiba e estréia amanhã (dia 20), no Cacilda Becker, o espectador toma contato com uma das peripécias do processo colonial do Brasil.
Narra-se a trajetória do donatário da capitania de Porto Seguro (BA), o capitão português Pero do Campo Tourinho. Ele chega em 1534 e carimba com desmandos os 11 anos de tentativas de povoamento.
Tourinho (por Marcos de Andrade) é levado a um tribunal inquisitorial presidido pelo vigário da vila, o francês Bernard de Aurejac (Ney Piacentini).
Acusado de blasfêmia e heresia, o donatário é considerado culpado. Além de escravizar negros e índios, ele os submete ao "trabalho" em dias santos, contrariando a igreja.
Preso, o herege é mandado de volta para Lisboa, onde consegue absolvição. O Latão vê nesse episódio do século 16 uma inspiração satírica e, ao mesmo tempo, a gênese do autoritarismo na história brasileira.
Sempre em colaboração com os seis atores da montagem, que também cantam e tocam, Sérgio de Carvalho e Márcio Marciano assinam texto e direção. A intenção é acomodar humor e reflexão sob guarda-chuva das teorias do alemão Bertolt Brecht.
"O espetáculo traz uma radicalidade formal de quem trabalha com arte política e opta por uma expressão popular, mais sofisticada que a burguesa. É um confronto cômico com algumas formas de capitalismo", diz Carvalho.
Tudo em cena se pretende antiilusionista, da interpretação aos poucos elementos do cenário. "O objetivo é jogar aberto com o espectador." Santos)
AUTO DOS BONS TRATOS
Onde: Teatro Cacilda Becker (r. Tito, 295, Lapa, região noroeste, tel. 864-4513). 216 lugares
Quando: Sex. e sáb.: 21h. Dom.: 19h. Até 26/5. 90 min
Quanto: R$ 10
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