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27/04/2002
-
04h51
CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo
A 17ª Bienal do Livro de São Paulo começou anteontem sob o signo do paradoxo.
Um dos maiores intelectuais em atividade no globo, o francês Jean Baudrillard ocupou o primeiro evento da série de palestras Salão de Idéias para defender o tema "A Incerteza do Pensamento".
Em conferência feita de improviso, o intelectual francês de 73 anos demonstrou, com pensamento carregado de certeza, a incerteza do pensamento no mundo contemporâneo.
A palavra-chave da palestra foi troca. Baudrillard, que nos anos 70 investigou as chamadas trocas simbólicas, agora se debruça sobre a troca impossível (e é esse, "A Troca Impossível", o nome de seu livro mais recente, que está sendo lançado pela Nova Fronteira).
O intelectual, que rebate os rótulos de filósofo e sociólogo, disse que vivemos atualmente a maior profusão de comunicação (troca de informações) da história e que o ser humano cada vez se comunica menos. "Com as técnicas da virtualidade, podemos até trocar de identidade, mas não sabemos quem somos e o que queremos."
Esse cenário de incertezas do homem contemporâneo estaria por trás de dois fenômenos abordados por Baudrillard. A chegada do líder de extrema-direita Jean-Marie Le Pen ao segundo turno da França, por exemplo, estaria menos ligada a uma ascensão de uma ideologia conservadora do que a um vácuo, um "desamor" pela coisa pública, decorrente da impossibilidade de uma relação entre o representante político e o representado.
O segundo fenômeno colocado por trás das grossas lentes de Baudrillard é o grande acontecimento do século, os atentados de 11 de setembro. "Não há mais valores transcendentes que justifiquem a vida", disse.
Segundo ele, os terroristas não fizeram mais do que jogar seus suicídios contra o poder mundial da globalização. "Eles responderam à morte com outra morte. E a potência mundial norte-americana sofre com a impossibilidade de não poder se suicidar em troca."
Esses cenários sombrios seriam frutos ou frutificadores daquilo que Baudrillard chama da "incerteza do pensamento". E, para que o pensamento possa existir, a única solução apontada pelo intelectual é que ele se separe da busca de conceitos como realidade e verdade. "Mas esse meu discurso não é de verdade", brincou ao fim de sua fala.
Saiba tudo sobre a Bienal do Livro
Baudrillard brinca com incerteza da troca na Bienal do Livro
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da Folha de S.Paulo
A 17ª Bienal do Livro de São Paulo começou anteontem sob o signo do paradoxo.
Um dos maiores intelectuais em atividade no globo, o francês Jean Baudrillard ocupou o primeiro evento da série de palestras Salão de Idéias para defender o tema "A Incerteza do Pensamento".
Em conferência feita de improviso, o intelectual francês de 73 anos demonstrou, com pensamento carregado de certeza, a incerteza do pensamento no mundo contemporâneo.
A palavra-chave da palestra foi troca. Baudrillard, que nos anos 70 investigou as chamadas trocas simbólicas, agora se debruça sobre a troca impossível (e é esse, "A Troca Impossível", o nome de seu livro mais recente, que está sendo lançado pela Nova Fronteira).
O intelectual, que rebate os rótulos de filósofo e sociólogo, disse que vivemos atualmente a maior profusão de comunicação (troca de informações) da história e que o ser humano cada vez se comunica menos. "Com as técnicas da virtualidade, podemos até trocar de identidade, mas não sabemos quem somos e o que queremos."
Esse cenário de incertezas do homem contemporâneo estaria por trás de dois fenômenos abordados por Baudrillard. A chegada do líder de extrema-direita Jean-Marie Le Pen ao segundo turno da França, por exemplo, estaria menos ligada a uma ascensão de uma ideologia conservadora do que a um vácuo, um "desamor" pela coisa pública, decorrente da impossibilidade de uma relação entre o representante político e o representado.
O segundo fenômeno colocado por trás das grossas lentes de Baudrillard é o grande acontecimento do século, os atentados de 11 de setembro. "Não há mais valores transcendentes que justifiquem a vida", disse.
Segundo ele, os terroristas não fizeram mais do que jogar seus suicídios contra o poder mundial da globalização. "Eles responderam à morte com outra morte. E a potência mundial norte-americana sofre com a impossibilidade de não poder se suicidar em troca."
Esses cenários sombrios seriam frutos ou frutificadores daquilo que Baudrillard chama da "incerteza do pensamento". E, para que o pensamento possa existir, a única solução apontada pelo intelectual é que ele se separe da busca de conceitos como realidade e verdade. "Mas esse meu discurso não é de verdade", brincou ao fim de sua fala.
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