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02/05/2002
-
16h43
MARCELO BARTOLOMEI
Editor de entretenimento da Folha Online
Se Osama bin Laden já não tivesse garantido o "título", o escritor paquistanês Tariq Ali, 58, poderia ser chamado de inimigo nº 1 dos Estados Unidos. Ele é um dos intelectuais contemporâneos que mais ataca o governo americano desde os atentados de 11 de setembro e tem viajado exaustivamente pelo mundo para falar do assunto.
Seu novo livro, "Confronto de Fundamentalismos - Cruzadas, Jihads e Modernidade" (editora Record, 478 págs.), critica atitudes do governo americano antes e depois de 11 de setembro e também provoca, com uma foto de Bush caracterizado como Bin Laden na capa e outra de Bin Laden vestido de Bush na contracapa.
Na nova publicação, Ali explica os conflitos, as religiões e mostra os acontecimentos pela visão não-americana. Sempre submetido às ordens do "império", tanto econômicas quanto políticas, Ali traz a idéia de quem nunca esteve do outro lado. No livro, conta como foi a comemoração dos ataques de 11 de setembro em diversos países e os incidentes ocorridos por causa do terrorismo.
Mesmo com toda sua retórica, Ali diz não ter medo dos Estados Unidos. "O que me dá medo são os grupos fundamentalistas", disse o escritor paquistanês.
No novo livro, Ali explora as relações históricas, políticas e culturais com os Estados Unidos. Ele veio à 17ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo para lançar o livro e debater o assunto com o público, quando concedeu entrevista à Folha Online. Veja trechos:
Folha Online - Você é explicitamente contra os Estados Unidos?
Tariq Ali - Minha posição é contra o "império" americano e contra o fundamentalismo religioso. Isso é o meu slogan.
Folha Online - Como surgiu a idéia de escrever um livro analisando as relações dos Estados Unidos com os países do Oriente e logo após os ataques de 11 de setembro?
Ali - Foi quando eu comecei a trabalhar em uma das minhas novas histórias, estava estudando o islamismo e descobrindo coisas maravilhosas sobre sexualidade, família, política, filosofia, cultura e poesia. Eu fazia anotações em meus cadernos. Quando aconteceu o 11 de setembro, eu estava em Londres, onde moro. Meus editores em inglês disseram que eu precisava escrever um livro porque muita gente queria saber sobre a relação do islamismo com o "império" americano. Eu comecei em setembro e terminei uns quatro meses e meio após.
Folha Online - O mundo mudou após 11 de setembro?
Ali - Não há uma mudança fundamental. A economia do mundo continua a mesma, a política mundial é a mesma e a dominação americana também é a mesma. Mas o que mudou é que os Estados Unidos agora estão nus. Eles aproveitaram o 11 de setembro para remapear o mundo. Isso mudou.
Folha Online - Como um paquistanês, você teme os Estados Unidos?
Ali - Não, eu não tenho medo dos Estados Unidos. Eu tenho viajado muito e feito muitos amigos. Eu sou conhecido no país. Eu acho que não há o que temer no Paquistão em relação aos Estados Unidos. O que me dá medo são os grupos fundamentalistas. Eles criaram um exército de inteligência no Paquistão e eu tenho medo que estes grupos queiram se vingar, não somente dos americanos, mas de outras nações do mundo. Eu acho que a situação é muito precária.
Folha Online - Como você analisa a relação entre os Estados Unidos e o conflito no Oriente Médio, entre Israel e Palestina?
Ali - Ariel Sharon é capaz de ser classificado como o maior assassino do mundo e os Estados Unidos não fazem nada. As pessoas não vão se esquecer disso. Todo mundo sabe, não é segredo, que George Bush poderia evitar isso. É preciso criar um Estado palestino independente.
Folha Online - Na ficção, seus personagens são pessoas fortes que cultuam o islamismo. Como você os cria, por experiência pessoal?
Ali - Eu imagino meus personagens. Eu agora estou escrevendo sobre uma jovem de 14 ou 15 anos. Não tiro da minha vida. Fazer ficção é muito diferente de escrever sobre o mundo real. É algo maravilhoso. Quando digo isso a amigos que não escrevem ficção, eles acham que é uma magia. Os personagens aparecem, eles vêm.
Folha Online - Qual seu próximo projeto?
Ali - Eu preciso terminar esta série de livros que eu estou escrevendo sobre o mundo islâmico, na ficção. Tenho mais dois, são cinco. No próximo, começo com uma criança de 8 anos e conto sua vida até os 20 anos, depois volto para o mundo contemporâneo.
Folha Online - Você trabalha muito, está em vários lugares para divulgar seus livros e divulgar suas idéias, parece que ao mesmo tempo... Por que viajar tanto?
Ali - Estou viajando muito depois de 11 de setembro, mostrando meus livros, mas faço isso porque estou numa posição intelectual mais crítica contra os Estados Unidos que outras pessoas. E o público quer isso. Meu novo livro está publicado em cinco países simultaneamente (Brasil, Turquia, Alemanha, Estados Unidos e Inglaterra). E ele ainda vai sair na Espanha, na Itália e na França.
Estou exausto, vim de Los Angeles e viajo para o Rio de Janeiro e para Buenos Aires depois para participar de um debate na feira de livros. Depois volto para a Inglaterra, vou para a Venezuela, volto para Londres e depois vou para a Austrália. Esta é minha vida.
Leia mais:
Bienal do Livro
11 de setembro
Oriente Médio
Sem medo dos EUA, Tariq Ali diz temer o fundamentalismo
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Editor de entretenimento da Folha Online
Se Osama bin Laden já não tivesse garantido o "título", o escritor paquistanês Tariq Ali, 58, poderia ser chamado de inimigo nº 1 dos Estados Unidos. Ele é um dos intelectuais contemporâneos que mais ataca o governo americano desde os atentados de 11 de setembro e tem viajado exaustivamente pelo mundo para falar do assunto.
Seu novo livro, "Confronto de Fundamentalismos - Cruzadas, Jihads e Modernidade" (editora Record, 478 págs.), critica atitudes do governo americano antes e depois de 11 de setembro e também provoca, com uma foto de Bush caracterizado como Bin Laden na capa e outra de Bin Laden vestido de Bush na contracapa.
Reprodução |
A capa e a contracapa do novo livro de Tariq Ali, "Confronto de Fundamentalismos" |
Na nova publicação, Ali explica os conflitos, as religiões e mostra os acontecimentos pela visão não-americana. Sempre submetido às ordens do "império", tanto econômicas quanto políticas, Ali traz a idéia de quem nunca esteve do outro lado. No livro, conta como foi a comemoração dos ataques de 11 de setembro em diversos países e os incidentes ocorridos por causa do terrorismo.
Mesmo com toda sua retórica, Ali diz não ter medo dos Estados Unidos. "O que me dá medo são os grupos fundamentalistas", disse o escritor paquistanês.
No novo livro, Ali explora as relações históricas, políticas e culturais com os Estados Unidos. Ele veio à 17ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo para lançar o livro e debater o assunto com o público, quando concedeu entrevista à Folha Online. Veja trechos:
Folha Online - Você é explicitamente contra os Estados Unidos?
Tariq Ali - Minha posição é contra o "império" americano e contra o fundamentalismo religioso. Isso é o meu slogan.
Folha Online - Como surgiu a idéia de escrever um livro analisando as relações dos Estados Unidos com os países do Oriente e logo após os ataques de 11 de setembro?
Ali - Foi quando eu comecei a trabalhar em uma das minhas novas histórias, estava estudando o islamismo e descobrindo coisas maravilhosas sobre sexualidade, família, política, filosofia, cultura e poesia. Eu fazia anotações em meus cadernos. Quando aconteceu o 11 de setembro, eu estava em Londres, onde moro. Meus editores em inglês disseram que eu precisava escrever um livro porque muita gente queria saber sobre a relação do islamismo com o "império" americano. Eu comecei em setembro e terminei uns quatro meses e meio após.
Folha Online - O mundo mudou após 11 de setembro?
Ali - Não há uma mudança fundamental. A economia do mundo continua a mesma, a política mundial é a mesma e a dominação americana também é a mesma. Mas o que mudou é que os Estados Unidos agora estão nus. Eles aproveitaram o 11 de setembro para remapear o mundo. Isso mudou.
Folha Online - Como um paquistanês, você teme os Estados Unidos?
Ali - Não, eu não tenho medo dos Estados Unidos. Eu tenho viajado muito e feito muitos amigos. Eu sou conhecido no país. Eu acho que não há o que temer no Paquistão em relação aos Estados Unidos. O que me dá medo são os grupos fundamentalistas. Eles criaram um exército de inteligência no Paquistão e eu tenho medo que estes grupos queiram se vingar, não somente dos americanos, mas de outras nações do mundo. Eu acho que a situação é muito precária.
Folha Online - Como você analisa a relação entre os Estados Unidos e o conflito no Oriente Médio, entre Israel e Palestina?
Ali - Ariel Sharon é capaz de ser classificado como o maior assassino do mundo e os Estados Unidos não fazem nada. As pessoas não vão se esquecer disso. Todo mundo sabe, não é segredo, que George Bush poderia evitar isso. É preciso criar um Estado palestino independente.
Folha Online - Na ficção, seus personagens são pessoas fortes que cultuam o islamismo. Como você os cria, por experiência pessoal?
Ali - Eu imagino meus personagens. Eu agora estou escrevendo sobre uma jovem de 14 ou 15 anos. Não tiro da minha vida. Fazer ficção é muito diferente de escrever sobre o mundo real. É algo maravilhoso. Quando digo isso a amigos que não escrevem ficção, eles acham que é uma magia. Os personagens aparecem, eles vêm.
Folha Online - Qual seu próximo projeto?
Ali - Eu preciso terminar esta série de livros que eu estou escrevendo sobre o mundo islâmico, na ficção. Tenho mais dois, são cinco. No próximo, começo com uma criança de 8 anos e conto sua vida até os 20 anos, depois volto para o mundo contemporâneo.
Folha Online - Você trabalha muito, está em vários lugares para divulgar seus livros e divulgar suas idéias, parece que ao mesmo tempo... Por que viajar tanto?
Ali - Estou viajando muito depois de 11 de setembro, mostrando meus livros, mas faço isso porque estou numa posição intelectual mais crítica contra os Estados Unidos que outras pessoas. E o público quer isso. Meu novo livro está publicado em cinco países simultaneamente (Brasil, Turquia, Alemanha, Estados Unidos e Inglaterra). E ele ainda vai sair na Espanha, na Itália e na França.
Estou exausto, vim de Los Angeles e viajo para o Rio de Janeiro e para Buenos Aires depois para participar de um debate na feira de livros. Depois volto para a Inglaterra, vou para a Venezuela, volto para Londres e depois vou para a Austrália. Esta é minha vida.
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