Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
07/05/2002 - 04h06

Paulistano ignora própria história e deixa o Museu do Ipiranga às moscas

Publicidade

JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

O Museu do Ipiranga recebe, em média, 2.800 pessoas por semana. Com essa frequência, só num longo período de 63 anos é que ele seria visitado por todos os moradores de São Paulo. E isso na hipótese meio absurda de todos os visitantes serem paulistanos e nenhum deles ir àquele mesmo museu uma segunda vez.

O cálculo, matematicamente correto, é culturalmente irreal. Dá a impressão de que estão às moscas os cerca de 40 maiores museus da cidade e que as pessoas têm uma espécie de aversão pelo consumo de cultura nesses espaços.

Em verdade, o paulistano faz fila quando se trata de exposições organizadas e anunciadas pela mídia como megaeventos culturais.

Há dois anos, a Mostra do Redescobrimento, no Ibirapuera, conseguiu atrair o equivalente a quase um quinto dos moradores da cidade: 1,9 milhão de visitantes. Mas vejamos os detalhes.

Dom Pedro 1º e o grito do Ipiranga têm um referencial preciso no mapa histórico de São Paulo. É a Casa do Grito, onde o Departamento do Patrimônio Histórico da prefeitura registra 1.300 visitantes por semana.
A Casa do Grito não é aqui citada ao acaso. Ela traz embutida uma lição sobre a relação do paulistano com a sua própria história. Para alguns, museu é coisa que se visita em viagens ao exterior.

Segundo o último relatório de atividades do Louvre, de Paris, os brasileiros totalizaram, em 1999 -data de pesquisa por nacionalidade-, cerca de 67 mil ingressos.

É mais ou menos o mesmo contingente que se locomove até o local geograficamente associado ao grito da independência.

Seus 1.300 visitantes semanais são muitos ou bem poucos, dependendo da comparação que for feita. Bastantes se comparados aos 900 visitantes semanais do Solar da Marquesa de Santos, na rua Roberto Simonsen, no centro.

Mas são poucos se comparados aos 4.500 visitantes por semana que o Masp (Museu de Arte de São Paulo), da avenida Paulista, registrou em 2001.

No ano passado, mesmo sem a protuberância temática da Mostra do Redescobrimento, a exposição que o Masp consagrou ao pintor impressionista francês Claude Monet (1840-1926) atraiu 405 mil pessoas. Há números no plano internacional com os quais não dá para concorrer.

São os 5 milhões de visitantes anuais do Metropolitan Museum of Art, de Nova York, os 6 milhões do British Museum, de Londres, ou os 1,5 milhão de franceses que vão ao Louvre. São locais que têm acervos maiores ao de qualquer congênere brasileiro.

"Não temos muito o hábito de frequentar espaços culturais", diz Midori Kimura Figuti, diretora do Memorial do Imigrante, que recebe cerca de mil pessoas semanais.

Mas Figuti diz que não são as famílias que saem de casa em busca de uma visão cultural. São as escolas que levam seus alunos aos museus. É o caso, mais uma vez, do Ipiranga. Dos 251 mil visitantes de 2001, um terço era de alunos, diz a diretora, Raquel Glezer.

A proporção de escolares em grupos monitorados é pequena no Masp: apenas um para cada sete visitantes. Mas é preponderante na Pinacoteca do Estado, em que os escolares oscilam de 67% a 80% em dias de semana.

Também durante a semana parece ser essa a proporção de estudantes em grupos no MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia), na Cidade Universitária, que no ano passado teve 65 mil visitantes.

Ainda na USP, o MAC (Museu de Arte Contemporânea), com 190 mil visitantes em 2001, registrou quase 10 mil grupos de jovens monitorados.

A USP ainda comporta uma boa notícia: desde o ano passado, o campus do Butantã está acessível aos domingos para quem visita o MAC e o MAE. Basta se identificar na portaria da avenida Valdemar Ferreira e receber um crachá para colocar no automóvel.

Filas em megaeventos
As megaexposições acabam tendo grandes filas nas portas de entrada, em imagens da mídia que alimentam o círculo virtuoso: a frequência que chama uma frequência um pouco maior.

O espaço museográfico se transforma num espetáculo aberto à participação interativa. É o que pode ocorrer com a exposição do impressionista francês Renoir (1841-1919), em cartaz no Masp.

Mas, em seu caso, tanto quanto com os 150 mil visitantes da exposição das esculturas de Auguste Rodin, na Pinacoteca do Estado, em 95, há como pressuposto a idéia de inserção num espaço cultural e histórico internacionalizado. Não é a história do Brasil e de São Paulo que o visitante procura.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página