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10/05/2002 - 04h19

Bethânia e Hanna Schygulla unem vozes para cantar Roberto Carlos

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ALCINO LEITE NETO
da Folha de S.Paulo, em Paris

Quando a atriz Hanna Schygulla juntar sua voz à de Maria Bethânia em São Paulo, no próximo dia 13, para cantar "Emoções", de Roberto Carlos, mais coisas estarão se passando do que o encontro de duas divas "retrô" -uma da MPB e outra do jovem cinema alemão dos anos 70.

A antiga amazona da "protest song" brasileira e a antivalquíria brechtiana de Fassbinder se reunirão na Sala São Paulo, da estação Júlio Prestes, no show de entrega do Prêmio Abitfashion Brasil 2002, espetáculo para convidados.

O espetáculo será dirigido por Bia Lessa, que fez "Orlando". Bethânia, 55, cantará seis músicas, Schygulla, 58, quatro. "Talvez alguma coisa de Edith Piaf e de Fassbinder, talvez "Lili Marlene'", antecipa a atriz alemã. Juntas, elas interpretarão duas músicas, inclusive "Emoções", que Schygulla cantará em espanhol.

A atriz também vai apresentar em São Paulo seu show "Brecht Aqui e Agora", misto de teatro e espetáculo musical, concebido por ela, com trechos da obra do dramaturgo e canções de seus dois principais compositores, Kurt Weill e Hans Eisler.

A alemã está entusiasmada com a idéia de dividir o palco com Bethânia, cuja voz ela admira com fervor. "Ela é como o rio Amazonas, grande e profundo", diz Schygulla em Munique, na entrevista a seguir, feita por telefone.

Folha - Por que a sra. decidiu se tornar cantora?
Hanna Schygulla -
Cantar faz parte de minha vida. É algo que está ligado às minhas fantasias de criança, quando eu ouvia rádio e esse era o meio que me conectava com o mundo. Não havia ainda a televisão. Na época, imaginava que um dia eu cantaria também. Depois me esqueci disso um pouco. As lembranças voltaram quando eu fiz "Lili Marlene" (1980, de Fassbinder). O que ocorre comigo é um pouco o que se passou com outras atrizes. Eu lembro que Marlene Dietrich começou a cantar tarde, por volta dos 60 anos, quando não fazia mais filmes.

Folha - Quando a sra. sobe ao palco para cantar, permanece atriz?
Schygulla -
Sim. Mas cantar é mais emocional. A vibração é outra. A diferença é a mesma que existe entre tomar um avião e partir ou ficar na terra. Cantar é pegar o avião.

Folha - O que a sra. gosta mais nas canções de Brecht com Kurt Weill e Hans Eisler: música, teatralidade, política ou tudo isso junto?
Schygulla -
Acho que elas são resultado de uma grande combinação entre emoção e lucidez a respeito das coisas da vida. São ao mesmo tempo ternas e ácidas, utópicas e muito realistas. São também populares e feitas com muita arte. Seja em Weill, seja em Eisler. Gosto dos dois, e no meu show eu quero trazer os dois juntos, porque acho que Eisler, que tem belas canções, ficou muito à sombra de Weill.

Folha - O começo de sua carreira foi nos filmes políticos do primeiro Fassbinder. Maria Bethânia também foi uma cantora de protesto no início...
Schygulla -
(interrompendo) Quando você é jovem, tem que fazer isso, do contrário não estará vivendo sua juventude.

Folha - Mas a sra. acha que a música é um meio eficiente de protesto social?
Schygulla -
Claro. A música não está relacionada apenas ao cérebro. Ela faz você se mover, achar a "joie de vivre" (alegria de viver).

Folha - A sra. também vive parte do ano em Paris. Quais suas impressões sobre a ascensão do líder direitista Jean-Marie le Pen?
Schygulla -
É muito ruim o que está acontecendo na Europa. Tem uma coisa muito inteligente dita pelo poeta alemão Hans Magnus Enzensberger. Ele escreveu que, quando você está num barco repleto de gente, com outras pessoas querendo entrar nele, nunca sabe o que fazer: se vai deixá-los na água ou dar seu lugar para eles. Ninguém sabe o que fazer numa situação emergencial como essa. O que está acontecendo é que estamos num barco, sim, mas esse barco ainda não está afundando e ainda podemos estender a mão para quem quer subir nele.

Folha - A Europa é esse barco?
Schygulla -
É. Tudo isso que acontece é um pouco consequência de o mundo estar superpovoado e a pobreza estar aumentando. É um verdadeiro problema para ser resolvido. Mas não é fácil resolvê-lo. Não basta ser romântico. Uma boa coisa que vejo nas eleições francesas foi que as pessoas acordaram para o problema, como se tivessem dito a elas: "Despertem!".

Folha - Quais são suas cantoras favoritas?
Schygulla -
Maria Bethânia, Chavela Vargas, Betty Carter... Não gosto de Björk, acho fabricada, artificial.

Folha - O que a sra. gosta em Maria Bethânia?
Schygulla -
Vozes como a dela acontecem uma vez apenas numa geração. Ela é como o rio Amazonas, muito grande e muito profundo, tocando muitas vidas diferentes ao mesmo tempo.
 

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