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17/05/2002 - 04h01

Personagem de "Homem-Aranha" tem males de mortais comuns

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STAN LEE
especial para o "New York Times"

O Homem-Aranha parece estar por toda parte hoje em dia, e é assim que eu gosto que esteja. A versão para o cinema da história em quadrinhos que criei 40 anos atrás, juntamente com o artista Steve Ditko, estréia hoje, e quase todo mundo com quem eu esbarro me pergunta a mesma coisa: por que "Spidey" continua tão popular assim, mesmo depois de todos estes anos?

Como meus próprios superpoderes não me permitem penetrar nas mentes de seus fãs, posso apenas dar um palpite bem fundamentado.

Muitos leitores de longa data me disseram que, de todos os personagens de quadrinhos já vistos, o Homem-Aranha é o mais realista. É claro que falar em "fantasia realista" é contraditório, mas acho que entendo o que eles querem dizer. O alter ego de nosso personagem principal, Peter Parker, talvez seja o único super-herói a ter problemas financeiros, frustrações românticas e muitos dos males que costumam acometer os comuns mortais. Já ocorreu de ele sofrer um ataque alérgico enquanto combatia os vilões da história. Em lugar de viver numa Metrópolis ou Gotham City mítica, ele habita a boa e velha Nova York, e, quando se cansa de se dependurar de sua rede, pode ser visto correndo atrás de um táxi em qualquer lugar entre Greenwich Village e o Upper East Side.

Outra característica que diferencia o Homem-Aranha de seus semelhantes é sua introspeção. O pobre Spidey mal consegue dar um passo sem questionar suas próprias motivações e se indagar se está fazendo a coisa certa. Na verdade, "Homem-Aranha" foi a primeira história em quadrinhos a usar extensivamente os "balões com pensamentos", com os quais o leitor fica sabendo não apenas o que um personagem está dizendo, mas também o que está pensando. Isso lhes permite realmente conhecer bem o personagem, e, quanto mais você sabe sobre uma pessoa, mais se interessa por ela.

Muitas vezes já passou por minha cabeça que o poder de atração que o Homem-Aranha exerce em todo o mundo talvez se deva em parte, também, a seu figurino. Os fãs mais atentos já devem ter observado que a roupa do Homem-Aranha recobre cada centímetro de seu corpo.

Quando Steve Ditko primeiramente visualizou a roupa de nosso herói, ele criou um dos modelos mais únicos na história dos quadrinhos. Mais do que isso, porém, a roupa de Spidey é totalmente "a favor" do usuário.

Qualquer leitor, de qualquer raça, em qualquer parte do mundo, pode se imaginar usando esse uniforme e fantasiar que é o Homem-Aranha. Não estou certo de que tenhamos planejado que fosse assim, mas essa é uma daquelas felizes coincidências que fez de nosso aventureiro de inspiração aracnídea possivelmente o mais empático herói a já ter agitado uma teia.

Outra qualidade que Spidey possui em abundância é o senso de humor. Não é de hoje que ele é conhecido por seus comentários espirituosos e seus chistes ágeis, feitos no calor da batalha. O misto aparentemente estranho de autocrítica contínua e diálogo irreverente ajuda a manter a atenção de seus fãs grudada na aventura que ele está vivendo no momento.

E, para concluir, não devemos nos esquecer dos dilemas morais que tão frequentemente surgem na vida de Spidey. Não são poucas as vezes em que ele não tem certeza total de estar fazendo a coisa certa. Em lugar de enxergar tudo em preto-e-branco, nós, da Marvel Comics, conscientemente acrescentamos tonalidades de cinza ao elenco de personagens. Às vezes os vilões não são inteiramente maus e vice-versa. Espalhamos questões morais de modo a oferecer aos leitores a oportunidade de buscar suas respostas próprias.

É assim que eu explicaria a popularidade de Spidey. Por outro lado, é possível que tenhamos simplesmente tido sorte, ao criarmos um herói de personalidade simpática, um sujeito com quem você curte passar algum tempo. Tá vendo como pode ser fácil?


Leia mais notícias sobre o filme "Homem-Aranha"
 

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