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17/05/2002 - 04h07

Amos Gitai detona alta voltagem histórica em Cannes

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ALCINO LEITE NETO
enviado especial a Cannes

O cinema de alta voltagem histórica do diretor israelense Amos Gitai, em "Kedma", dividiu ontem a abertura da mostra competitiva do Festival de Cannes com um melodrama do francês Robert Guédiguian, "Marie-Jo e Seus Dois Amores", em que a dupla paixão de uma mulher enfrenta a banalidade do tempo.

"Kedma" é saga arquitetada em sete quadros, contando a chegada de judeus à Palestina em 48. Vindos da Rússia, da Polônia, da Lituânia, eles tomam o navio Kedma em busca da Terra Prometida.

Gitai filma essa chegada num novo mundo como um choque entre o passado e o futuro, entre a memória do judaísmo e a definição de Israel.

Os personagens falam na forma de monólogos, relatando o seu passado trágico e manifestando sua esperança com o novo lugar. Os monólogos, baseados em relatos reais, compõem no conjunto um sistema polifônico, cuja expressão desdobra os vários projetos de Israel -desde a promessa socialista dos kibutz até o sentimento de vingança que encontra chance de aflorar.

"Não temos história, foram os góis (não-judeus) que fizeram nossa história para nós", diz um dos personagens no monólogo final do filme. "Penso que Israel não é mais um país judeu", continua, expressando provocativamente o fim do exílio como a ruptura com o mito e o início de uma história de fato. A multiplicidade de pontos de vista inclui mesmo os palestinos, em sequências notáveis, cuja força desafia os integristas de ambos os lados.

Ele defendeu um cinema de reflexão e condenou o boicote que o Congresso Judaico Americano propôs do festival. "Como eu poderia discordar de Woody Allen?", respondeu, ao ser indagado se, como ele, discordava do boicote.

"Marie-Jo e Seus Dois Amores" é um filme construído com o que há de mais banal. Casada e já de meia-idade, Marie-Jo se apaixona por outro homem. A paixão revivifica sua vida, mas também traz um grande tormento, pois ela ama igualmente o marido e o amante. Incapaz de decidir por um e outro, acaba caindo nas jugulares do destino.

Guédiguian aproxima-se dos personagens da pequeno-burguesia francesa, confortáveis com a social-democracia de Lionel Jospin (citado brevemente no filme), para verificar onde depositaram a sua paixão. Ele a encontra, com uma lupa hiperrealista e supergenerosa, nos detalhes das coisas, nas rupturas inofensivas, por onde vai se instalando a tragédia.


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